Agressividade infantil, é preciso saber lidar | Colunista

Estamos em uma época que, os pequenos estão em casa por conta da pandemia e, o ambiente escolar, por conta do sistema remoto, são mudanças de paradigmas difíceis de digerir, até mesmo para muitos adultos, que dirá para as crianças, é necessário compreender que as mudanças internas e subjetivas são exteriorizadas no comportamento manifesto, porém, nem sempre de forma agradável. Haja fôlego para dar conta desses pequenos.

Pais, cuidadores e profissionais da educação devem se atentar para a necessidade de se conhecer aspectos inatos do comportamento, muitas vezes, mal compreendidos. Todavia, de que comportamento estamos falando, já imaginou?  Sim, estamos falando de agressividade, mas afinal de contas, ela é boa ou ruim?  lidar com crianças agressivas nem sempre é uma tarefa prazerosa, mas, desmitificar a agressividade, é essencial para que possamos oferecer um suporte adequado para os pequenos e para os cuidadores, seja no ambiente do lar ou no ambiente escolar.

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A agressividade é necessária para nossa autoconservação, para que a espécie seja preservada, através da agressividade, somos compelidos à uma ação, diferente da violência, a agressividade é uma forma de manifestação através de chutes, birras, mordidas, uma maneira de se expressar os sentimentos, já que,  crianças pequenas ainda não exercem maturidade na comunicação, principalmente quando falamos de  expressão  verbal, então,  usam desse recurso para poder  chamar a atenção, serem ouvidas  e escoar suas  emoções.

Podemos observar que, as espécies, incluindo os animais, trazem consigo impulsos agressivos, isso faz parte de um comportamento ligado às pulsões, manifesta-se já no início da vida. Podemos dizer que, faz parte do comportamento emocional das espécies, inclusive, vemos que, muitos de nós somos estimulados para sermos agressivos em certos níveis, pois necessitamos de agressividade quando vamos para um ambiente competitivo, quando temos alguma ambição e precisamos agir para concretizá-la, a agressividade está diretamente ligada com a coragem.

Por outro lado, a agressividade nos pequenos que não é trabalhada, pode sim, gerar autodestruição e, ainda, afetar desconfortavelmente o ambiente ao qual estão inseridos, há uma diferença entre agir e reagir, um pode compelir a ação e outro a violência, mas é importante saber a diferença, crianças precisam de estímulo, apoio, abertura, mas também necessitam de limites.

A agressividade, perante os olhos da sociedade não são considerados como comportamentos valorizados, muito se fala em inteligência emocional, mas, sem a real consciência de si, é mais provável que, ao invés de validarmos nossos sentimentos, aprendemos a mascará-los para agradar aos que estão ao nosso redor cobrando “controle e mansidão” é aí que mora o perigo, pois as crianças que são constantemente contidas, reprimidas, podem tornar-se adultos ansiosos, medrosos e facilmente manipulados.

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Mas convenhamos, mordidas, gritos, chutes, birras, e por aí vai, imagina os cabelos em pé dos cuidadores, pais, mães, uau, é fácil?? Não mesmo.

Do ponto de vista psicanalítico, podemos falar em agressividade ao nível do sintoma e, como constitutiva do desenvolvimento infantil, quando articulada no ambiente educacional. E se a criança não aceita o que lhe é imposto, podemos chamar de agressividade?  Na maioria das vezes sim, e o melhor caminho para alcançar estes pequenos, é o acolhimento sem julgamentos, sem moralização.

Podemos inferir que, primeiramente a responsabilidade é dos pais e cuidadores e depois, dos educadores, em uma aliança, podem trabalhar estas questões para que a criança seja transformada sem ser podada em sua criatividade e prossiga na construção do conhecimento, singularidade e subjetividade.

Primeira fase desta agressividade: já dentro do ventre materno, quando aquele serzinho chuta não tão delicadamente sua mamãe! E o que dizer das mamadas fortes e as mordidas quando os primeiros dentes aparecem!!!

Geralmente nesta primeira infância, a agressividade nada tem a ver com destruição, pois se trata de uma reação natural à frustração, quando elas não recebem aquilo que querem, na verdade, elas só querem entender o que estão sentindo, pois ainda não conseguem nomear seus sentimentos.

Melanie Klein (1975) uma psicanalista que atuou no pós-guerra, posterior a Freud e, dando continuidade as suas descobertas, também abordou este assunto com muita particularidade, seu texto “A posição depressiva no desenvolvimento emocional”, nos diz que o bebe se desenvolve e vai juntamente organizando suas emoções e percepções, ela já dizia que, o bebezinho separa os objetos bons dos objetos maus, processos de divisão, projeção e introjeção. O objeto bom é aquele que ele ama e já se identifica e o objeto mau, é aquele em que é sentido por ele como ameaça.

Winnicott (1982) dizia que, a agressividade no bebe é involuntária, faz parte de si como mecanismo de conhecer o mundo e tudo ao seu redor. Na verdade, seria este movimento de agressividade mais sensorial, uma integração da personalidade e ainda, construção da subjetividade, uma vez que, é através deste mecanismo que o bebe vai construir sua identidade e sua constituição única.

Vamos falar em um contexto de divórcio, ainda que os pais façam de tudo para não causar dores a seus filhos, existe uma chance enorme de vir sobre eles de forma inconsciente, falsas culpas, receios, pois o processo de separação exige transformação e mudanças de rotinas, um processo que pode levar meses, muitas vezes os filhos sentem que algo não vai bem e usam do negacionismo.

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Negar a situação é um mecanismo de defesa, uma vez que, dificilmente vamos encontrar filhos que queiram ver seus pais separados, no  momento da notícia, uns reagem como se já soubessem, mas outros,  em um processo de luto pela perda da unidade familiar, passam a ter comportamentos de agressividade no ambiente escolar e até mesmo, no ambiente familiar,  projetar suas frustrações e angústias nos amiguinhos e nos professores é um recurso de sobrevivência e escoamento do conflito interno que estão vivenciando na psique. 

A criança de 6 anos  para frente,  que já estão com a lei internalizada em si, podem absorver boa parte da culpa e responsabilização, como se tivessem feito algo para que os pais não se entendessem mais, e o pior é que, a autopreservação em si, vai assumir um lugar de punição, como se sentem culpadas merecem sofrer, um mecanismo inconsciente, que gera muito sofrimento, que demora para dissolver.

Piaget (1985), nos diz que, a personalidade estará formada até os seis anos de idade; e, toda experiência vivida nessa fase é fundamental. Por mais que, às vezes, possa parecer simples, elogiar, buscar compreender, têm resultados muito mais rápidos e menos estressantes do que bronca, castigo, sofrimento e indiferença.

Reforçar o amor a eles, pode amenizar a frustração, a ansiedade, a raiva. Mas não é somente a separação que é traumática, a agressão dos pais que não se separam, mas ficam em uma relação de agressividade e brigas constantes, podem trazer prejuízos emocionais tão ou até piores para os pequenos.

Abrangendo todos os fatores descritos até aqui, o presente artigo trouxe considerações sobre a agressividade, ainda que, de modo sucinto e breve, possíveis fatores causais deste comportamento, justamente para mostrar que, a agressividade em si, não deve ser moralizada, mas que, é preciso acolher a criança com sua demanda de afeto e atenção.

Pais, cuidadores e educadores precisam compreender que, a criança fragilizada em seu desenvolvimento e com recursos limitados de comunicação, necessitam da agressividade para escoamento de seus sentimentos e emoções, uma forma de comunicar suas angústias e liberarem conflitos psíquicos e inconscientes.

Embora todas as fases da vida são marcadas por desafios, a infância requer uma atenção especial, às vezes, é necessário que, se busquem profissionais habilitados, como o profissional de Psicologia que, através dos recursos lúdicos, teorias e técnicas científicas, possam ajudar as crianças agressivas a desenvolvem habilidades socioemocionais e comportamentos mais adaptativos socialmente, além de, entenderem melhor os próprios sentimentos.

A rigidez na criação e na educação, gera rigidez na maneira de pensar da criança e do futuro adulto, devemos lembrar que, somos modelos para eles, para tudo que precisarem decidir em suas vidas futuramente.

O olhar da criança está voltado para nós, adultos, cuidadores, educadores e profissionais da saúde mental, sim, é para nós que eles dirigem sua observação. Tolher a agressividade sem ajudá-los a direcionar em alguma atividade, seja esporte, lazer, atividades lúdicas, leituras específicas, ajuda profissional, ou mesmo negando a eles, a consciência de seus atos, é dar a eles a impossibilidade de se tornarem adultos resolvidos, decididos, com autoconceito próprio alinhado com uma visão de conquista direção e propósito.

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Referências

KLEIN, M. Amor, ódio e separação: as emoções básicas do homem do ponto de vista psicanalítico. Tradução Maria Helena Senise. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago; São Paulo: Ed. USP, 1975.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1985.

WINNICOTT, D. W. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.

Por Sanar

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