O quão confiáveis são as nossa memórias? O fenômeno da criação de memórias falsas | Colunista

A memória tem valor imprescindível no nosso dia a dia. Desde às pequenas tarefas como escovar os dentes, até às mais complexas, como aprender todo o conteúdo para aquele concurso desejado! Porém, sinto informar que a resposta para a questão do título é, em linhas gerais, “não tanto quanto acreditamos”. Mas, para entender melhor, vamos por partes. Primeiramente, é importante saber algumas definições básicas. 

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O que é e como se forma a memória?

De acordo com David G. Myers (2015), memória é a retenção de algo aprendido através do tempo, por meio de armazenamento e recuperação de informações. Para que esse processo seja bem-sucedido, estímulos do ambiente externo são captados por meio dos nossos sentidos, para depois serem selecionados e codificados na memória de curto prazo, para serem novamente codificados para a memória de longo prazo, onde elas permanecem até serem recordadas.

A memória de curto prazo é aquela que dura poucos segundos e retém poucas informações, tempo necessário para que seja arquivada ou esquecida.  Já a memória de longa duração, leva um longo tempo para se consolidar e permanece mais tempo, possivelmente de forma permanente, no repertório do organismo, sendo ela constituída por experiências e habilidades – É por isso que, ao estudar, você aprenda de fato o conteúdo e não apenas o decore!

As memórias, nas horas iniciais de sua aquisição, são muito instáveis e propensas à interferência de inúmeros fatores. Drogas, traumatismos cranianos e até mesmo memórias novas podem deturpar ou anular a formação de uma memória de longo prazo. (IZQUIERDO, 2011)

Mas, afinal, como são formadas as Falsas Memórias?

Como visto, uma série de fatores podem gerar alterações na formação de uma memória. Mas, alguns problemas podem ocorrer também no processo de recuperação. Segundo Gazzaniga e Heatherion (2005), os erros cometidos pela memória podem ser classificados em dois grupos: esquecimento e distorção

Por esquecimento, há: a transitoriedade, que diz respeito ao esquecimento conforme o passar do tempo; a desatenção, principalmente durante o processo de formação da memória, e; o bloqueio, que é quando dá, ou seja, quando sabemos de algo, mas, temporariamente, não conseguimos acessar a informação.

Já no grupo da distorção, estão a sugestionabilidade, má atribuição e viés. O primeiro, é quando há interferência de informações enganosas para a construção ou alteração de uma memória. No segundo caso, uma memória acaba sendo atribuída à uma fonte diferente da ocorrida. E, por fim, o viés está relacionado a influência de novas memórias em relação à memórias antigas.

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A importância da compreensão do fenômeno para o psicólogo (a)

Conforme apresentado, percebe-se que a criação de falsas memórias é um tema muito complexo e, surpreendentemente, corriqueiro. Embora, durante a graduação, o tema seja, muitas vezes, subtópico da disciplina de Psicologia Jurídica – dada sua relação com a confiabilidade dos testemunhos apresentados em casos jurídicos, seja em âmbito criminal ou, mesmo, num processo de guarda, por exemplo – é muito claro a importância da compreensão desse fenômeno no contexto da Psicologia em geral.

Em conclusão, é muito possível que o psicólogo no exercício de sua profissão possa se deparar com o fenômeno em outros contextos. Ou, mesmo que de forma involuntária, possa facilitar a criação de falsas memórias. Por isso é tão importante o cuidado no processo de escuta e a forma com a qual questionamos nossos pacientes. Isto é, evitar ao máximo sugestionar nosso interlocutor, usando, preferencialmente, perguntas abertas e livres de juízos de valor.

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REFERÊNCIAS

GAZZANIGA, M. S. HEATHERTON, T. F. Memória. In:______. Ciência Psicológica: mente, cérebro e comportamento. 1. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. p.237-244

HÜBNER, M. M. C.; MOREIRA, M. B. (Coord.) Memória. In: ARANTES, A. K. L., MELLO, E. L., DOMENICONI, C. Fundamentos da Psicologia: Temas clássicos da psicologia sob a ótica da Análise do Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. p. 56-73.

IZQUIERDO, I. Tipos e Formas de Memória. In:______. Memória. 2a. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 28-50.

MYERS, D. G. Memória. In:______. Psicologia. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015. p.249-280.

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