A COVID-19 tem provocado uma grave crise epidemiológica, e isso vem desencadeando, consequentemente, questões relacionadas ao bem estar psicológico da população. Além das muitas perdas em curto espaço de tempo, as dificuldades para realização de rituais de despedida entre pessoas na iminência da morte e seus familiares, podem dificultar a vivência do luto para cada pessoa de maneira singular.
Sob a ótica da psicologia, o luto é compreendido como uma reação do sujeito diante das perdas que experimenta ao longo da sua existência. Essas podem ser de diversas ordens, o falecimento de um ente querido, perda de um emprego, o final de uma relação, perda da juventude, entre outras “mortes” que experiencia-se ao longo da vida.
FREITAS (2013) apresenta um ponto de vista existencialista do luto como sendo uma vivência típica em situações de transformação abrupta nas formas de se dar do ser em uma relação eu-tu. Ela diz que o luto não se restringe a uma experiencia profunda de perda, mas sim uma convocação pessoal da condição humana enquanto mortal, sendo inevitável e irreversível, se opondo a cultura ocidental que evita contactar a angustia.
A psicanálise acredita que o inconsciente não tem ideia de fim, de subjetivar a morte, e esse tema mobiliza muitos mecanismos de defesa. Em casos de atuação com pacientes em processo de experiencia de luto, essa abordagem sugere que oriente o sujeito na elaboração desse fenômeno conduzindo o luto para uma dimensão simbólica, levando essa experiencia ao nível máximo que seria a memória – um signo da sua vida.
O luto em seu processo normal, redireciona a libido, anteriormente depositada no objeto de amor perdido, para outro objeto. Esse processo envolve uma simbolização e uma elaboração da perda, para que possa encontrar novos caminhos para o seu desejo. É por esse caminho que o sujeito desloca o significado que aquele objeto tem para si, para que seja possível investir em outro objeto de amor (Freud, 2014).
É importante a discussão de aspectos atuais referentes aos cuidados paliativos e a atuação da psicologia, pois esse momento é propicio a episódios de desespero e depressão por parte dos pacientes e também familiares. A psicologia sempre se baseia no compromisso com a verdade em seu exercício profissional e diante desse cenário, em se tratando de pacientes lúcidos com capacidade de autodeterminar-se, deve ser explicado o diagnóstico de forma coerente e clara e trabalhar com o paciente nesse sentido.
A psicanalise é uma grande aliada na ajuda da elaboração desse processo, pois prioriza ouvir o paciente e deixá-lo, mostrar as suas emoções, possibilitando assim, ir além do que é trazido inicialmente pelo sujeito, pois em muitos casos o que é trazido, é apenas sombra do que realmente está causando a aflição.
Defrontar-se com a perda nunca será fácil. A humanidade luta desde o início dos tempos para conquistar coisas, isso faz com que a ideia de perder o que foi construído, acarrete uma série de fatores, acumulados com o passar da sua existência.
O luto é algo singular do sujeito e pode ser considerado como uma vivência que aparece com uma forte exigência de ressignificação, onde o que é perdido pelo enlutado não é apenas um ente querido, mas também formas próprias de conduzir a sua existência de aprender a viver e se adaptar com essa nova realidade.
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REFERÊNCIAS
FREITAS, Joanneliese de Lucas. Luto e fenomenologia: uma proposta compreensiva. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v. 19, n. 1, p. 97-105, jul. 2013.
FREUD, S. (2014). Luto e melancolia. São Paulo: Cosac Naify
