1. Aspectos gerais da pesquisa científica
Pode-se definir a pesquisa como um conjunto de processos sistemáticos, empíricos e críticos que surge com o objetivo de buscar a solução de um problema com a utilização de métodos científicos. (GUNTHER, 2006)
Para responder a pergunta na pesquisa, é preciso coletar dados (livros, documentos, artigos, questionários), em seguida relacionar as informações extraídas umas com as outras, fazendo uma análise para obter as conclusões e assim encontrar respostas para o problema da pesquisa. A questão levantada nesse texto é de que forma fazer essa análise? Qual será a abordagem utilizada para analisar os dados coletados?
Existem duas abordagens que podem ser adotadas na pesquisa científica sendo elas: a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. Embora os enfoques quantitativo e qualitativo compartilham de características distintas, eles utilizam cinco fases similares que se relacionam entre si (GRINNELL, 1997 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013):
1. É realizada a observação e a avaliação de fenômenos;
2. Através da observação e avaliação realizada, criam-se ideias e suposições;
3. Apontam que essas suposições e ideias tem fundamento;
4. As supervisões e ideias são revisadas se baseando nas provas e análises;
5. Novas observações e avaliações são propostas para esclarecer, modificar e fundamentar as suposições e ideias e até gerar outras.
A escolha sobre qual método utilizar na pesquisa precisa se adequar a pergunta que o pesquisador pretende responder, mas para isso é necessário conhecer e aprender de forma didática as características das abordagens quantitativas e qualitativas, vamos lá?
2. Enfoque Quantitativo de pesquisa
A abordagem quantitativa é caracterizada pela utilização da coleta de dados com o enfoque de testar hipóteses com base na medição numérica e na análise estatística. Existe o uso intenso da matemática e estatística que se faz necessário justamente para permitir a medição numérica das relações dos dados coletados pelo pesquisador, portanto ele se esforça para coletar o máximo dessas informações.
O pesquisador não tem a função de refutar os fenômenos observados, suas crenças, temores, desejos não podem influenciar os resultados do estudo ou interferir nos processos da pesquisa, visto que seu objetivo é constatar os resultados que são representados por números exatos e que não possuem margem para particularidades subjetivas (UNRAU, GRINNELL e WILLIAM, 2005 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). Sendo assim, pode-se afirmar que na abordagem quantitativa o subjetivo não existe?
A subjetividade não deixa de existir na pesquisa quantitativa e tem valor para o pesquisador, porém o enfoque é dedicado a demonstrar como o conhecimento de adapta de forma precisa à realidade objetiva. Quando pesquisas com credibilidade, demonstram realidades objetivas que são diferentes das nossas crenças ou do próprio pesquisador, não obstante estas são modificadas ou adaptadas para a realidade.
A figura 1 representa a realidade subjetiva, sendo as crenças e hipóteses do pesquisador sobre o determinado assunto da pesquisa e ao lado a realidade objetiva, a realidade que a análise dos dados da pesquisa vai responder. Nota-se na imagem acima que a “realidade” não muda, é a mesma independente das crenças serem compatíveis ou não com a teoria, a realidade se mantém igual, sendo exata e concreta.
Para ter decidido de fato que a pesquisa terá esse enfoque, é necessário formular o problema inicialmente, isto é, aprimorar e estruturar a ideia da pesquisa. Um problema de pesquisa quantitativo é composto por três critérios: precisa apresentar uma relação entre dois ou mais conceitos, estar formulado como uma pergunta concreta sem conter ambiguidade e por fim essa formulação precisa estar suscetível a testes empíricos, ter realidade única e objetiva (KERLINGER e LEE, 2002 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).
Então quando o problema está bem formulado a pesquisa já está parcialmente resolvida, visto que quanto maior a exatidão, maior a possibilidade de obter um resultado satisfatório (ACKOFF, 1967 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013)
3. Enfoque Qualitativo de pesquisa
A abordagem qualitativa é caracterizada pela coleta de dados sem medição numérica com o enfoque de descobrir e aprimorar perguntas de pesquisa no processo de interpretação de dados (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).
O pesquisador é a ferramenta mais importante para analisar esses dados, visto que a análise não é estatística, consiste na obtenção de perspectivas dos participantes- emoções, experiências, prioridades e outros aspectos subjetivos. Dessa forma, a preocupação direta do pesquisador se concentra em como foram (ou são) sentidas e experimentas essas vivências pelos participantes (SHERMAN E WEBB, 1988 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).
Sua abordagem é naturalista, pois estuda os objetos e os seres vivos em seus contextos e ambientes naturais e cotidianos além de ser interpretativo, de modo a encontrar sentido para os fenômenos em função das definições e ideias que as pessoas atribuem a eles.
Enquanto o enfoque quantitativo tem o objetivo de delimitar a informação, utilizar a estatística, medir as variáveis do estudo, o enfoque qualitativo busca a expansão dos dados e da informação, a reflexão une a interpretação do pesquisador com os participantes (MERTENS, 2005).
São consideradas atividades principais do pesquisador qualitativo (CRESWELL, 1997 e NEUMAN, 1994 apud SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013):
1. Faz o uso de diversas técnicas, sendo elas de pesquisas e de habilidades sociais de acordo com a exigência da situação;
2. Os dados podem ser produzidos através de notas extensas, diagramas, mapas para gerar descrições detalhadas;
3. Embora a contagem possa ser utilizada na análise dos dados, os números não são analisados estatisticamente e sim com a interpretação do pesquisador;
4. Mantém a perspectiva de analisar os aspectos explícitos, evidentes e os aspectos implícitos, subjacentes;
5. É possível trabalhar com incertezas, ambiguidade e com paradoxos.
É importante ressaltar que a pesquisa com enfoque qualitativo eventualmente é confundida com o enfoque quantitativo pois existe a concepção de que o fato de incluir tabelas, gráficos, números na pesquisa, determina que ela pertença a abordagem quantitativa. Porém sabe-se que apresentar dados numéricos não delimita que a abordagem seja quantitativa e sim a forma que foi utilizada para analisar os dados, se esses dados são interpretados criticamente pelo pesquisador, a pesquisa continua sendo qualitativa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LUCIO, R. H. S. C. F. C. M. D. P. B. METODOLOGIA DE PESQUISA: Metodologia de pesquisa. 5. ed. PORTO ALEGRE- RS: PENSO, 2013. p. 30-45.
GUNTHER, Hartmut. Pesquisa Qualitativa versus pesquisa quantitativa: esta é a questão? Universidade de Brasília, v. 1, n. 1, p. 3-5, ago./2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-37722006000200010. Acesso em: 12 jul. 2021