Desde 2017, por meio da Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) nº 546/2017, a utilização do Brinquedo Terapêutico (BT) é de incumbência da equipe de Enfermagem, sendo prescrito seu uso pelo enfermeiro, contemplando o processo de enfermagem, com devido registro em prontuário. Apesar disto, o reconhecimento dos profissionais quanto a essa prática pode ainda não levar em conta seus benefícios, como demonstram as pesquisas. E, você sabe o que é e a importância do BT na pediatria?
Importância do Brinquedo Terapêutico
O BT é uma técnica terapêutica com importante função na assistência à saúde da criança, não devendo ser vista como um momento de recreação, exclusivamente da terapia ocupacional ou simplesmente momentos para a criança brincar (CANÊZ, 2021).
Não é uma forma de distração para a criança e/ou para deixá-la feliz antes ou após a execução de procedimentos invasivos em unidades de atenção à saúde, a proposta para esta práxis não visa somente este fim (TEODORO, 2021; CANÊZ, 2020). Haja vista que esta prática é necessária para facilitar a comunicação entre profissional-paciente pediátrico, ajudar a criança a entender o que será feito e sanar as tensões e ansiedades geradas na criança pela execução de algo que ainda pode ser desconhecido (não vivenciado) por ela (CANÊZ, 2020).
Pois, para uma criança o período da hospitalização a expõe a inúmeras reações emocionais e comportamentais, causadas pelas restrições nos hábitos da criança. No século XIX, Florence Nightingale ressaltou a relevância do brincar, mas apenas em 1970 o brinquedo foi introduzido como uso terapêutico e recebeu importância para a Enfermagem Pediátrica (MAIA, 2011); fortalecido pela Resolução do Conselho Federal de Enfermagem nº 546/2017, que atribui a equipe de enfermagem atuante na assistência pediátrica a utilização do BT, devendo ser esta prática supervisionada e prescrita pelo enfermeiro (COFEN, 2017).
Com o Brinquedo Terapêutico a criança sente-se mais conformada em sentir a dor dos procedimentos já que entende que eles são para o bem (COELHO, 2021), conseguindo explicar o procedimento para outrem pois lhe foi ensinado, dando-lhes ciência dos procedimentos; e a criança reproduz seu sentimento na boneca, se colocando inconscientemente na posição de profissional para a boneca – que a representa – já que a mesma consola a boneca que “chora” após a injeção (BARROSO, 2020).
Implementando o Brinquedo Terapêutico
Para implantação e implementação do BT é preciso saber sua finalidade: para qual procedimento quero realizar? Normalmente, o mais utilizado são para procedimentos invasivos como, por exemplo, a punção venosa que é o procedimento mais frequente na assistência hospitalar e que por causar dor pode deixar a criança traumatizada e bastante chorosa (BARROSO, 2020; DA COSTA, 2021).
Há alguns tipos de BT, como: o dramático, instrucional e o capacitador das funções fisiológicas. Vejamos o que cada um traz como enfoque:
- O dramático, tem o objetivo de permitir a descarga emocional da criança. Dá a oportunidade à criança de expressar alguma experiência vivida por ela e ajuda na eficácia da comunicação (CANÊZ, 2020). Por exemplo, a criança expressa no BT o que ela imagina que enfrentará nos procedimentos ou na internação.
- O instrucional, visa preparar a criança para o procedimento a que será submetida. A criança manipula os materiais (de maneira segura e alusiva) a fim de que ela seja ensinada sobre o que irá acontecer e como ela pode contribuir para a realização (CANÊZ, 2020). Por exemplo, realiza na boneca a punção venosa e o profissional ou a criança a “instrui” como se fosse o paciente, para que possa ter ciência do que irá acontecer.
- O capacitador das funções fisiológicas, usado para capacitar a criança para utilizar suas funções fisiológicas de acordo com sua condição. Auxilia na aceitação de novos modos de vida, com meta de melhorar o estado físico (CANÊZ, 2020). Por exemplo, a criança deve ficar um tempo com a sonda, no BT mostrar os cuidados necessários, como funciona, etc.
Qual destes a sua realidade precisa mais? Todos eles? Você e sua equipe precisam decidir isto juntamente com a instituição no qual atuam; após isso, implantar seria deixar os materiais que envolvam o BT a disposição para sua confecção. No processo de implementação é necessário a capacitação da equipe quanto a sua utilização, haja vista que este é um procedimento terapêutico e não uma brincadeira que pode ser realizada/repetida por outrem.
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REFERÊNCIAS
BARROSO, Maria C. Percepção das crianças acerca da punção venosa por meio do brinquedo terapêutico. Acta Paulista de Enfermagem [online], v. 33, 2020.
CANÊZ, Juliana B. et al. Conhecimento de profissionais de enfermagem acerca do uso do brinquedo terapêutico na hospitalização infantil. Enfermagem em Foco, v. 11, n. 6, p. 108-114, 2020.
COELHO, Hercules P. et al. Percepção da criança hospitalizada acerca do brinquedo terapêutico instrucional na terapia intravenosa. Esc. Anna Nery. v. 25, n. 3, 2021.
Conselho Federal de Enfermagem (COFEN). Resolução COFEN-546/2017.
DA COSTA, Tamara dos Santos et al. Canção instrutiva no cuidado de enfermagem a crianças hospitalizadas no preparo para punção venosa. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 23, 2021.
FERREIRA, Debora et al. “Cuidando do Ursinho”: extensão universitária interdisciplinar em saúde da criança. Rev Bras Med Fam Comunidade. v.16, 2020.
MAIA, Edmara B. S.; RIBEIRO, Circéa A.; BORBA, Regina I. H. Compreendendo a sensibilização do enfermeiro para o uso do brinquedo terapêutico na prática assistencial à criança. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 45, p. 839-846, 2011.