Psicologia baseada em evidências | Colunista

Psicologia baseada em evidências, afinal, o que seria?  Podemos inferir que, se trata de evidências, advindas de pesquisas empíricas, com testes criteriosos e rigorosos em sua execução, considerando o controle de variáveis e posteriormente, analisando os resultados. 

Embora, só podemos falar daquilo que se constata empiricamente, não podemos ignorar que, a escolha pelo tipo de intervenção psicoterápica para quadros clínicos diferentes, depende e muito, da experiência profissional do terapeuta e de sua predileção por determinadas estratégias clínicas (Gaudiano, Brown & Miller, 2011).

A escolha pela abordagem passa diretamente pela afinidade do profissional com determinada abordagem, àquela que mais faz sentido primeiro para Psicólogo.  

Podemos observar que, na área da política, desenvolvimento econômico, social, cultural, há mudanças que apesar de lentas, são transformadoras para o bem-estar da comunidade. 

No campo científico, percebe-se uma modificação na maneira de se comprovar teorias, anteriormente, baseada em teorias fisiopatológicas, porém, desponta um novo modo, agregando eficiência, segurança, efetividade, acessibilidade, é a Medicina baseada em evidências (MBE) com forte embasamento das pesquisas científicas e a Psicologia, influenciado por todas essas mudanças mencionadas acima, busca comprovar a eficácia de seus serviços prestados  pela categoria, além de, assegurar a qualidade de seus clientes,  protegendo  os direitos dos consumidores, os interesses dos planos de saúde, mas sem perder de vista o custo benefício dos tratamentos (BEUTLER, 1998).  

A prática da Psicologia baseada em evidências se destaca, trazendo um elo entre a pesquisa científica e a prática clínica, com condições de validação interna e externa, atingindo as camadas menos favorecidas que dela pode se beneficiar. 

A intervenção psicoterápica passa pelas escolhas e predileção estratégicas baseada em dados empíricos, possibilitando uma escolha que fundamente sua prática de forma eficaz, nisso temos que, a prática Baseada em Evidências no campo da Psicologia, visando a saúde da sociedade em geral se tornou muito bem-vinda. 

Embora, não é somente a Psicologia que tem buscado ser efetiva e validada cientificamente, mas outras ciências se utilizam dessa estratégia, entre elas, a Fisioterapia, Odontologia, influenciado por fatores científicos, sociais, entre outros, assim como, interesse dos pesquisadores, clínicos e associações profissionais em comprovar resultados dos serviços prestados pela categoria, visando assegurar a qualidade dos serviços prestados por tais, protegendo os direitos dos consumidores e interesses dos planos de saúde, desfazendo a dicotomia de que só um lado pode ser favorecido, assim,  que possam maximizando a relação custo benefício dos tratamentos (El Dib, R. P.2007).

Há uma vantagem com relação a revisão sistemática comparada as revisões tradicionais, já que, as revisões sistemáticas que se utilizam de metanálises, otimizam os resultados e, fornece informações adicionais, enquanto que questões narradas e mal formuladas prejudicam os resultados.

Ainda sobre as revisões sistemáticas, são hoje consideradas o nível I de evidências para qualquer questão clínica, pois se utiliza de uma metodologia reprodutível, integrando informações de forma crítica em que auxilia as decisões, contradições e diferenças individuais. 

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É necessário que, ao se buscar uma revisão sistemática, haja um revisor, sendo um pesquisador habilidoso em selecionar estudos, avaliar a qualidade dos estudos selecionados, que compreenda os equipamentos como: computadores e aplicativos, elaboração de estratégias de busca em bases de dados, seleção de estudos baseados em critérios de inclusão e exclusão, interpretação dos resultados e atualização sistemática.

Alguns passos para que a Psicologia baseada em evidencias (PBE) seja eficiente é, transformar a necessidade de informação que inclui, prevenção diagnóstica, prognóstico, tratamento, entre outros, em uma questão a ser respondida e, posteriormente, identificar a melhor evidência para responder a demanda.

Embora a PBE não negue a experiência pessoal, postula que seja alicerçada em evidências, buscando reduzir a incerteza e toda especulação que permeia a área de saúde, para fundamentar a melhor decisão clínica de modo responsável, aumentando a qualidade do atendimento aos pacientes.

O histórico da Prática baseada em Evidências em Psicologia, passa pelo psicólogo alemão Hans Eysenck, que em 1952, publicou 19 estudos empíricos de psicoterapia de sua época, obteve um resultado disponível em termos de cura ou muita melhora, melhora pouca, ou nenhuma melhora, e concluiu que, nenhuma modalidade de intervenção psicoterápica era mais efetiva para melhora do cliente que a mera passagem do tempo. 

Resumindo os dados, comprovou que os dados analisados falharam em mostrar que a psicoterapia facilita a recuperação de pacientes neuróticos, essas conclusões foram inquietantes já que, levaram a diferentes tipos de reações.  Já Strupp (1964) apud Fuchs, S. C. P. C., & Paim, B. S. (2010), tornou-se um proeminente pesquisador da psicoterapia, postulando que, “observações clínicas documentam amplamente que muitos pacientes se beneficiam de uma relação interpessoal com um profissional quando estão perturbados por dificuldades da vida e procuram ajuda”.  

Há também um questionamento com relação a utilidade da prática psicoterápica para o campo da saúde mental, no caso de Eysenck, sua pesquisa contribuiu para que, houvesse uma estimulação pela demonstração empírica dos resultados das psicoterapias.

Em 1950 até 1970, pesquisas demonstraram que a psicoterapia é altamente efetiva, não existe uma diferença significativa entre as diferentes modalidades, não importa se Psicanálise, Terapia Centrada no Cliente, Comportamental, Terapia Comportamental Cognitiva, Fenomenológica-Existencial, Gestalt, entre outras, todas mostraram-se eficazes para a melhora dos pacientes que aderem as psicoterapias, que aderem a análise.  

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Quanto à eficácia da psicoterapia, pesquisas indicam que, um dos fatores para tal sucesso se faz na qualidade do terapeuta que atende de forma empática e aceitação incondicional, sem moralizar e nem julgar os indivíduos que buscam ajuda para sua saúde mental, para alívio dos transtornos e, compreendem que estão em um lugar, que para Psicanálise, é chamado de “sujeito-suposto-saber”.

 Embora, a expectativa de melhoras com a terapia e o comprometimento são fatores importantes, é na figura do profissional que se encontra a causa motriz da análise e, a relação terapêutica é um dos critérios mais importantes do sucesso psicoterápico.  

Entre os fatores específicos de atendimento, temos cinco componentes: (1) há um comportamento-alvo, queixa ou transtorno a ser tratado (fobia de gatos); (2) há uma explicação teórica de como foi originado o problema (condicionamento respondente); (3) há mecanismos de mudança consistentes com o uso de uma abordagem da Psicologia  (extinção respondente); (4) esses mecanismos de mudança indicarão o uso da  terapêutica a ser empregada  (dessensibilização sistemática); (5) os resultados ( cura da fobia que foi trazida em sessão),  serão atribuídos à terapêutica que foi utilizada, ou seja,  não importa a abordagem escolhida para se  se intervir junto ao paciente, o que importa, é que  estes passos serão seguidos: o profissional de Psicologia  ouvirá a  queixa ou transtorno a ser tratado,  haverá uma investigação e explicação teórica sobre a origem do problema, será empregada a estratégia própria da abordagem, junto aos mecanismos de tratamento e, por fim, os  resultados da intervenção serão evidentes.

Devemos também considerar que, a PBE possui três componentes de definição, são elas:  evidências de pesquisa, repertório do clínico e idiossincrasias do cliente, e todas possuem o mesmo grau de importância na determinação da melhor conduta para cada cliente. 

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Outro fator de critério para se validar a PBE, é considerar a cultura e preferências do cliente e promover a participação dos clientes nas tomadas de decisão sobre sua própria saúde e bem-estar, uma vez que intervenções costumam ser mais bem-sucedidas quando levam em consideração as particularidades do indivíduo, tais como seus objetivos, valores, crenças, preferências, contexto sociocultural e estado clínico, até mesmo não desconsiderar a crença religiosa do paciente está relacionada a uma boa intervenção clínica. 

O modelo da PBE representa um importante avanço para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão, seu status atual apresenta implicações importantes. 

Do ponto de vista prático, o entendimento dos princípios teóricos que explicam os efeitos de uma intervenção é essencial para o aprimoramento da PBE por, pelo menos, dois motivos.

Em primeiro lugar, a compreensão dos princípios teóricos permite descrever a etiologia dos fenômenos clínicos, identificar os processos necessários para a melhora do quadro, adaptar os achados empíricos a cada caso individual, desenvolver novas técnicas terapêuticas e, em especial, otimizar a qualidade de intervenção por meio da ativação dos mecanismos de ação responsáveis pela mudança (LEONARDI, J. L. & MEYER, S. B., 2015).

Conforme visto até o momento, a Psicologia está buscando cientificidade e validação, uma vez que, na década de 50, Eysenck invalidou a utilidade da psicoterapia, motivando assim, mais estudos na área, para que fosse sanado argumentos contrários aos benefícios da psicoterapia.

Assim sendo, uma revolução histórica ocorreu apresentando o desenvolvimento do conceito da PBE, trazendo evidências de que, as psicoterapias, não importando a abordagem, são eficazes para o processo terapêutico e para se tratar os diversos fatores que envolvem a prática clínica.

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Não devemos negar que, ainda se faz necessário ajustes para que, um modelo que representa as diversas perspectivas teóricas, metodológicas e práticas, embora não isento de problemas, deve ser buscada de forma contínua, para que a PBE seja colocada no cenário internacional da Psicologia. 

Os constantes esforços, para se validar e difundir a necessidade de um olhar mais amplo e empático para o campo da saúde mental e emocional, deve direcionar os pesquisadores e profissionais aguerridos, em uma busca de um sólido reconhecimento, com o intuito de preencher as lacunas entre ciência e prática ainda existente na Psicologia Clínica.  

Há uma necessidade de se manter a uniformidade do pensamento em que, traz esse debate, com propostas de alicerces em evidências de cunho científico, cujo propósito seja de reduzir a incerteza na área da saúde, para que ajude na melhor tomada de decisões clínicas, dando continuidade do desenvolvimento científico e aumentando a qualidade do atendimento aos pacientes, agregando melhores evidências disponíveis no momento e trazendo de fato, assertividade e melhora visível e palpável para os que da Psicologia se beneficiam.

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Referências

Beutler, L. E. (1998). Identifying empirically supported treatments: what if we didn’t? Journal of Consulting and Clinical Psychology, 66(1), 113-120.

El Dib, R. P. (2007). Como praticar a medicina baseada em evidências. J Vasc Bras, 6(1), 1-4. 

Eysenck, H. J. (1952). The effects of psychotherapy: an evaluation.Journal of Consulting Psychology, 16, 319-324.

Fuchs, S. C. P. C., & Paim, B. S. (2010). Revisão sistemática de estudos observacionais com metanálise. Revista HCPA. Porto Alegre. Vol. 30, n. 3 (2010), p. 294-301. 

Gaudiano, B. A., Brown, L. A., & Miller, I. W. (2011). Let your intuition be your guide? Individual differences in the evidence-based practice attitudes of psychotherapists. Journal of Evaluation in Clinical Practice, 17(4), 628-634.

Leonardi, J. L., & Meyer, S. B. (2015). Prática baseada em evidências em psicologia e a história da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(4), 1139-1156. 

Por Sanar

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