Compromisso ético e político na transmutação do fazer PSI | Colunista

Esta breve proposta de interlocução aqui a ser considerada, intenta reflexões a produções de caráter ético e político tendo em vista uma Psicologia do futuro, que é a do aqui e agora, a partir do olhar interseccional que urgentemente deve perpassar nossas práticas, tendo em cerne as relações raciais. Em que por implicação ao processo de formação, venha dialogar teoria/prática como simultâneas as demandas emergidas. No sentido de, que

fazer esta travessia é uma forma de resgatar um período de nossa história que muitos tentam esquecer. Não com o intuito de uma reconstrução, mas com uma proposta de desconstrução. Ou seja, não pretendo fazer a reconstrução de uma “determinada” memória histórica, mas de uma “outra”, sempre ocultada, sempre impedida de aparecer, sempre estigmatizada. Com isto, em realidade, proponho a desconstrução de uma história conhecida como “oficial”, instituída, fazendo surgir daí uma “outra” memória, uma “outra” história (COIMBRA,1995, p.14).

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Assim, esperar enquanto resposta ao campo de instrumentalização dos movimentos de militância psis em meio a realidade social  pelo qual se insere na sociedade brasileira, tem evocado a implicações que atravessam o campo da saúde mental.

Na qual, o banzo colonial moderno reverbera-se em intensas melancolias por vista da assiduidade hegemônica presente nas esferas políticas. Isto é, historicamente em um lugar de marginalidade pensando a raça como método de análise a populações vulneráveis (negres, indígenas, etc), carrega em bagagens, a representação de uma [….] realidade um ego partido e dissolvido pelas condições […] (ETZEL, 1976, p.74) decorrentes da continuação das violências simbólicas advindas do racismo estrutural, que leva mesmo em resistências, a indagação sobre possíveis ou não transformações efetivas e assim, não mais fragilizadas por meio dos desmontes e retrocessos que menosprezam o campo do cuidado psi pensado em uma Psicologia COM todes, desnaturalizando práticas elitistas.

Em referência a Barros; Bonatto; Ferreira; Marinho; Oliveira (2019, p.325), 

O momento político brasileiro, considerando o campo das políticas públicas, seu sucateamento e dissolução, espelha uma época em que, em nome dos valores do neoliberalismo, são colocados em risco direitos coletivos conquistados ao longo de décadas, em especial, o direito à saúde.

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Neste sentido, pensando na raça como fator de análise e base para a compreensão desses apontamentos, percebo o quanto além de questionar a espera, ainda precisamos articular em práticas que tragam dentre resultados esperados, a sincronicidade. Assim, através da compreensão no âmbito educacional a respeito da crucialidade de ementas visadas no letramento racial crítico, por exemplo, que venham a estimular desde a formação, tendo como lembrança

[…] que a formação educacional do Brasil, por muitos anos foi fundada em uma matriz européia e americana, descartando, injustamente, as contribuições do continente africano na formação do povo brasileiro. Essa constatação, mais que óbvia, reforçou a necessidade de uma legislação que, de fato, pudesse, por força de lei, trazer às práticas pedagógicas uma abordagem mais justa da história e da formação do Brasil. E, mais do que isso, que pudesse trazer às salas de aulas, aos professores e funcionários da área da educação as discussões referentes às relações raciais no Brasil (OLIVEIRA, 2010, p.82)

E, aqui acrescento novamente, a reverberação dessa fundação. Bem como, ações de fortalecimento em diálogo com as comunidades das políticas afirmativas, entendo que engloba-se ao pensarmos em saúde, SUS em seus diversos alcances.

Portanto, o desenvolver da formação de profissionais que construam uma ciência que venha legitimar as experiências plurais adentradas nos espaços possibilitados pelo exercício, para transformações sociais deve em saídas de zonas vim com “[…] práticas psicológicas no campo das políticas sociais públicas quando a garantia de direitos passa a se configurar como objeto para a profissão […]” (MIRON; GUARESCHI, 2017, p.359).

A partir da descolonização e enfrentamento de uma psi que não é neutra. Isto é, que constitui-se em contextos, realidades em vista das intersecções de raça, gênero, classe etc. “[…] que carrega em si a ambivalência e a necessidade de constantes problematizações das verdades que o sustentam, das práticas que instituem, das subjetividades que produzem” (p.359).

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REFERÊNCIAS:

BARROS, Rachel; BONATTO, Maria Paula; FERREIRA, Mariana; MARINHO, Glaucia; OLIVEIRA, Patricia. Movimentos sociais em luta contra o racismo de Estado e pela vida: contribuições ao debate sobre saúde. Saúde em Debate [online]. v. 43, n. p. 324-337. Disponível em:https://doi.org/10.1590/0103-11042019S823. Acesso em: 18 ago. 2021.

COIMBRA, Cecília Maria Bouças. Guardiães da Ordem uma viagem pelas práticas psi no Brasil do “Milagre”. Oficina do Autor, Rio de Janeiro – v.2, 1995.

ETZEL, Eduardo. Escravidão negra e branca: O passado através do presente. São Paulo:Global, 1976.

MIRON, Alessandra Xavier; GUARESCHI, Neuza Maria de Fátima. Compromisso Social da Psicologia e Sistema Único de Assistência Social: Possíveis Articulações. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2017, v. 37, n. 2, p. 349-362. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-3703000952014. Acesso em: 23 ago. 2021.

OLIVEIRA, Eliana de. Educação étnico-racial para a educação infantil: formação inicial de professores, gestores e coordenadores pedagógicos da Rede Municipal de Educação de São Paulo. São Paulo: SED/SP, 2010.

Por Sanar

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