“Gente que cuida de gente”. Wanda Horta e seu legado na mudança e humanização na enfermagem brasileira | Colunista

Você certamente já ouviu falar em “necessidades humanas básicas” – NHB, em resumo, elas são necessidades comuns a qualquer ser humano, como por exemplo: comida, água, moradia, relacionamento, dentre outros. Além disso, existe uma teoria de enfermagem voltada para as NHB, sabia?

É sobre esse modelo de atuação que remodelou o papel da enfermagem na década de 1960 que vamos prosear.

Antes de tudo vamos entender o que é “Teoria”.

É um conjunto organizado de pensamentos baseado em uma lógica que estrutura métodos de investigação, fundamentando desse modo sua conclusão e prováveis impactos/melhorias na atuação. A Teoria das Necessidades Humanas Básicas se baseia nas necessidades biopsicossociais dos seres humanos, enxerga o indivíduo como um ser integral e busca harmonia e equilíbrio, trazendo contribuições importantes para que os pacientes recebam um tratamento humanizado e integrativo.

No cenário brasileiro parte do modelo conceitual de Wanda Horta, ganha destaque em sua teoria, a qual se fundamenta em uma abordagem humanística e empírica, a partir da teoria da motivação humana de Abraham Maslow (criou a teoria da motivação humana. O psicólogo definiu esses níveis como: necessidades fisiológicas, segurança, amor, estima e autorrealização) e João Mohana (definiu as dimensões em psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais).

Wanda acreditava que os níveis deveriam ser classificados em três grandes dimensões, conforme Mohana. Assim, o atendimento passa a ser individualizado e considera aspectos sociais e emocionais do paciente. Mas antes de prosseguirmos, vamos voltar um pouco no tempo?

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Afinal, quem é Wanda Horta?!

Nascida em Belém (PA) Wanda Cardoso de Aguiar nasceu em 11 de agosto do ano de 1926. Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, Wanda se inscreveu nos Voluntários Socorristas, da Cruz Vermelha. Apesar de enviar um telegrama demonstrando interesse em integrar a equipe, não obteve resposta. Com isso, em 1944,

Wanda mudou-se para Curitiba para estudar e trabalhar.  Aprofundou-se ainda mais na área após ganhar uma bolsa de estudos, em 1945, para estudar na USP (Universidade de São Paulo).

A cada nova experiência, Wanda notava que a enfermagem aplicada no Brasil estava muito associada ao tratamento de doenças. O descontentamento com a posição do enfermeiro na saúde se transformou em um combustível para a busca de evidências científicas e no seu caminho como professora. Ela considerava necessária a compreensão do sofrimento e das fragilidades humanas. Sua atuação focou nas necessidades humanas além da doença.

Especializou-se em Pedagogia e Didática Aplicadas à Enfermagem e doutorou-se em Enfermagem com a tese “Observação Sistematizada na Identificação de Problemas de Enfermagem em seus Aspectos Físicos”. Foi na sua desbravadora carreira acadêmica que encontrou a Teoria das Necessidades Humanas Básicas, do psicólogo Abraham H. Maslow, como caminho para mudar e humanizar a enfermagem brasileira. O lema que utilizava para defender sua profissão era: “Gente que cuida de gente”.

Faleceu aos 54 anos, em 15 de junho de 1981, decorrente de Esclerose Múltipla. Não pôde acompanhar o avanço do Movimento Sanitarista e a Lei do Exercício Profissional.

Lutou para deixar no passado a visão de que a enfermagem deveria transitar sob o modelo biomédico, na prática viu pouco dessa transformação; entretanto, seu legado contribui e norteia até os dias atuais os aspectos da saúde com um olhar integrativo, além de  inspirar milhares de profissionais que encontraram na atuação do cuidado seu propósito de vida.  Voltando às trêsgrandes dimensões, conforme Mohana, segue abaixo tabela 1, a qual resume as categorias e seus aspectos que nortearam a Teoria de Horta:

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Tabela 1- Dimensões das necessidades por Mohana

Fonte: George(1993).

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“Hexágono de Horta”

A ciência da enfermagem considera as Necessidades Humanas Básicas (NHB) como um estado de tensões, conscientes ou inconscientes, resultantes dos desequilíbrios homeodinâmicos dos fenômenos vitais. São condições que o indivíduo, família ou coletividade apresentam decorrentes do desequilíbrio de suas necessidades básicas.

Implementando sua proposta teórica, Horta chega ao método de atuação da enfermagem chamado de Processo de Enfermagem, o qual diferencia sua proposta das demais existentes na época por meio da apresentação de seis fases, representadas por um hexágono, chamado atualmente “Hexágono de Horta”:

1. Histórico: Roteiro sistematizado para o levantamento de dados (significativos para a enfermeira) do ser humano e que torna possível a identificação de seus problemas.

2. Diagnóstico: Identificação das necessidades do ser humano que precisam de atendimento e a determinação do grau de dependência deste atendimento em natureza e em extensão.

3. Plano assistencial: Determinação global da assistência de enfermagem que o ser humano deve receber diante do diagnóstico estabelecido.

4. Plano de cuidados ou prescrição: Implementação do plano assistencial pelo roteiro diário na execução dos cuidados adequados ao atendimento das necessidades básicas e específicas do ser humano. O plano de cuidados é avaliado diariamente, fornecendo os dados necessários para o quinto passo.

5. Evolução: Relato diário das mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano, é através dela que é possível avaliar a resposta do ser humano à assistência de enfermagem implementada.

6. Prognóstico de enfermagem: Estimativa da capacidade do ser humano em atender suas necessidades básicas alteradas após a implementação do plano assistencial, frente aos dados fornecidos pela evolução de enfermagem.

Wanda Horta obteve reconhecimento internacional de seus estudos e metodologia, levando seu modelo teórico para diferentes países. Ao longo de sua vida construiu pontes para que a enfermagem e o cuidado de saúde fossem respeitados e baseados em evidências científicas. A você, Horta, a nossa eterna gratidão!!

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Referências

GEORGE  JB. Teorias de enfermagem. Tradução Regina Machado Garces. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

HORTA, W.A. Teoria das necessidades humanas básicas. Rev. Ciência e Cultura. Junho, 1973.

POTTER EA, Perry AG. Fundamentos de enfermagem: conceitos, processo e prática. 4ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 1999.

Por Sanar

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