Com o início da pandemia de SaRS-Cov 2, ou a nossa conhecida Covid 19, houve um grande aumento de patologias vinculadas a gatilhos emocionais. Não obstante, na área odontológica também chegaram os reflexos desse momento de tensão.
Segundo a Associação Brasileira de Odontologia, a área de tratamento de dores orofaciais se tornou uma das áreas mais procuradas durante o ano pandêmico de 2020.
Questões como: A escolas irão parar? Faço parte de um grupo de risco? Será que é seguro ir ao supermercado? Será que estou assintomático(a)? Como ficará o meu emprego? Quando isso tudo vai acabar? Além de novas normas de convivência como até o uso de máscaras, chegaram de surpresa em tempo, onde achávamos que seria apenas mais um ano comum.
As incertezas, ansiedades e preocupações que foram desencadeadas com o início do Lockdown, a chegada de novas informações sobre o contágio e uma possível vacina, atingiram em cheio uma população que estava despreparada psicologicamente para lidar, não somente com as alterações rotineiras (como o uso de máscaras, álcool em gel e algumas restrições), mas também com o alto fluxo de novas informações.
Mas afinal o que é DTM?
A DTM é uma disfunção temporomandibular, que pode ser desencadeada de diversas formas como trauma, instabilidade ortopédica ou até mesmo a causa supracitada, por meio de fatores emocionais, ou seja, a DTM é multifatorial e dependendo das circuntâncias físicas e emocionais pode surgir gerando incômodos e dores.
Essa disfunção é responsável por gerar dor, estalidos, crepitação, zumbidos, fraqueza muscular, mas obviamente tudo dependendo da disfunção que o paciente possui. As DTMs podem ter origem muscular, quando vão atingir os músculos da mastigação ou óssea, quando vão envolver a cavidade articular e côndilo mandibular.
Em geral, vão causar dor e por afetarem diversas estruturas da face, podem gerar reflexos dolorosos em diversas regiões como: músculos da mastigação, podem causar cefaleia e até mesmo dores nas articulações. O que faz com que muitas pessoas confundam a origem da dor e não procurem um profissional para entender a origem e causa real.
Não possui uma idade de risco para ocorrer e precisa de vigilância e tratamento porque não possui um prognóstico totalmente definido, é preciso que o indivíduo seja acompanhado de forma multidisciplinar para que se obtenha sucesso nesse cuidado.
E o Bruxismo, como funciona?
Já o Bruxismo, surge a partir do apertamento e ranger dos dentes, pode gerar danos para as estruturas dentárias em si, por conta do desgaste e gerar danos às estruturas de sustentação, como o periodonto. Seus fatores etiológicos são bem semelhantes aos da DTM, e poderá ocorrer principalmente por estresse, ansiedade e problemas oclusais.
O bruxismo pode ocorrer durante o sono, mas também pode ocorrer em vigília, esse estímulo para o apertamento ocorre de maneira involuntária, logo o indivíduo não percebe quando iniciou o apertamento/ranger. Daí, parte a necessidade de não somente o diagnóstico, mas também de um acompanhamento profissional, para que aos poucos o paciente recupere a consciência dos seus apartamentos.
Ao contrário do que muitos associam, mesmo gerando sinais parecidos, DTM e Bruxismo são disfunções diferentes. Mas que precisam de devida atenção e para que essa atenção seja completa, se faz necessário um acompanhamento multidisciplinar, que atenda todos os sinais e investigue as causas tratando as consequências.
De acordo com pesquisas recentes, o tratamento das disfunções e do bruxismo precisa de uma atenção integral, contemplando todas as estruturas que foram afetadas. Um exemplo é, algumas disfunções podem gerar redução na abertura da boca, logo, o tratamento do odontólogo somado ao fonoaudiólogo e fisioterapeuta oferecerá ao final um resultado melhor para a fala e alimentação, do que apenas tratar o que causa dor e limitação.
Visando as áreas que possuem relação com as regiões afetadas, cabem avaliações com profissionais de diversas áreas da saúde como: fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia e otorrinolaringologia. Ambas avaliações são importantes para oferecer um melhor resultado final ao paciente e sua reintegração social, além da manutenção do cuidado, que aos poucos pode incluir o paciente nesse processo.
Atualmente, já existem aplicativos de celular onde o paciente pode sinalizar sempre que sentir que está realizando um apertamento. E assim, conseguir identificar alguns gatilhos, os pacientes ficam orgulhosos com sua evolução e cada vez mais engajados no processo de reabilitação.
Sendo assim, a cura ou volta ao (novo) normal depende não apenas de uma área, mas de uma rede de apoio e cuidado, que além de oferecer um tratamento completo terão um paciente grato e participativo ao final dos tratamentos. E essa regra não se aplica somente às DTMs e ao Bruxismo, mas também para o cenário mundial que estamos vivendo.
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REFERÊNCIAS:
OKESON, Jeffrey, Tratamento dos distúrbios temporomandibulares e oclusão, Oitava edição, GEN, 2021.
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