Dentista do futuro, percepções do presente | Colunista

Se você está passando, ou já passou, pela graduação em Odontologia, já deve ter ouvido algum colega de classe dizer: “quando me formar, abrirei meu próprio consultório. É meu sonho”.

Esse pensamento é bem comum entre estudantes da área, e de fato, a tendência é que essas pessoas tenham seu consultório particular e pratiquem a prestação de serviços privados, sendo o mercado profissional um reflexo da sociedade e da construção dos ideais impostos pela mesma, o setor da Odontologia não estaria de fora.

Desde quando a Odontologia virou ciência, em meados de 1930, o mercado passou por grandes transformações. Ele avança todos os anos em tecnologia, equipamentos, especializações, e com um número cada vez maior de profissionais

Atualmente no Brasil, a odontologia fica entre as cinco primeiras profissões da área da saúde, com mais profissionais para cada habitante, segundo o Conselho Federal de Odontologia (CFO), somente em São Paulo, 97.500 dentistas e 16.200 clínicas odontológicas.

Esses progressos, frente aos benefícios, se apresentam muito bem: são mais práticos de utilizar, muito mais vantajosos, possibilitam a realização de diversos procedimentos em um tempo menor e com mais efetividade, e oferecem diversas oportunidades de reconhecimento do dentista no âmbito profissional.

Você pode se perguntar:

– Tudo bem, Carol! Se terão mais consultórios, as pessoas terão mais acesso aos serviços, darão mais atenção à saúde bucal, poderão evitar a perda dos dentes e fazer com que as cáries, por exemplo, não sejam mais um problema de saúde pública. Tem algo de errado nisso?
E a resposta é:
Não, mas a maneira com que essas ideias são impostas geram muitos pontos negativos, que consequentemente, podem vir a ser um dos maiores problemas para os futuros dentistas.

Quando analisamos as consequências, poderíamos esquecer rapidamente todas as coisas boas, mas devemos focar principalmente no ensino desses profissionais, como esperam que sejamos futuramente e nesse desejo de empreender e montar o próprio consultório.

A maior parte dessas ideias provém do aumento da capitalização, como já citado, no entanto, na outra parcela, as universidades ganham destaque, já que também sofreram mudanças com toda a gourmetização do curso e influenciam os estudantes a terem abordagens individualistas e generalizadas, e em especial, não enfatizam a realidade que encontramos depois de formados. 

Além disso, os profissionais ficam ainda mais atados às virtudes do mundo atual extremamente globalizado, contribuindo cada vez mais para a desigualdade social e a carência de serviços odontológicos, ressaltando:

  • o aumento da privatização dos serviços;
  • o aumento dos custos dos procedimentos;
  • a seletividade do público atingido;
  • a piora da saúde bucal;
  • a romantização da profissão.

Ainda que os sistemas de ensino tenham sido mais qualificados e aprimorados, cabe dizer que, embora nós, futuros dentistas, tenhamos consciência desses fatores e nos colocarmos de maneira diferente na área, há uma exigência de habilidades e conhecimentos além da prática técnica, o que é pouco desenvolvido durante o curso, sendo necessário a procura independente do estudante para aprimorá-las e adquiri-las (sugestão: pesquisas e extensões).

Outro ponto a ser ressaltado é o efeito direto causado pelo período da pandemia de COVID-19 nos futuros dentistas.

Com um sistema híbrido, principalmente para os anos finais da graduação, os estudantes estão vivenciando um momento de aprendizagem conturbado, em que as práticas, essenciais para o curso, precisaram ser deixadas em segundo plano. Assim, podemos esperar profissionais com grandes defasagens decorrentes desse período que precisarão de mais atenção quanto às técnicas e um apoio especial da própria instituição para preencher essas lacunas.

Portanto, podemos concluir que o dentista do futuro irá precisar de muito mais esforço para de fato ser reconhecido e valorizado profissionalmente, já que o meio em que estamos inseridos, como um todo, nos influencia a tapar a realidade, os obstáculos e as dificuldades, além da visão saturada do mercado de trabalho.

Ressalto que não há nada de errado em abrir seu próprio consultório, prestar serviços privados e pensar em ter estabilidade financeira e uma vida confortável.

A problemática se faz quando esses futuros profissionais se apegam a esta visão tendenciosa e distorcida do mercado de trabalho, da área de atuação e da própria realidade. Será preciso se dedicar cada vez mais ao que a odontologia prega, se humanizar, sensibilizar e suprir toda individualidade e competitividade imposta.

No mais, fica aqui meu conselho para se reinventar, se adaptar e fazer a diferença como profissional. Desejo força para encarar tudo e muito sucesso a todos nós.

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REFERÊNCIAS:

  1. Rev Odontol UNESP. 2013; 42(4): 304-309
  2. https://doi.org/10.14295/jmphc.v12.1007

Por Sanar

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