Residência em CTBMF e saúde mental: uma preocupação relevante | Colunista

Que os anos de residência – em qualquer área da saúde – são puxados já é bem estabelecido entre os estudantes e profissionais da área. Seja pelos relatos dos colegas residentes ou mesmo pela representação em programas de entretenimento (como as famosas séries médicas), o fato é que não imaginamos esse caminho como fácil e tranquilo.

Mas qual é o real impacto dessa rotina tão intensa na vida e na saúde daqueles que de fato a vivenciam?

Vivemos uma época em que a preocupação com a saúde mental está crescendo cada vez mais. Nesse sentido, é natural que isto passe a ser um fator relevante na hora de escolher quais direções iremos seguir.

No Brasil, ainda existem poucas pesquisas que objetivam analisar o impacto da rotina de trabalho na saúde mental dos residentes em CTBMF. Entretanto, em diversos países ao redor do mundo este é um tema que tem entrado no foco de muitos pesquisadores há alguns anos:

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Em 2017, um estudo constatou que mais da metade dos residentes em CTBMF nos EUA apresentavam níveis de ansiedade moderados ou altos, sendo que aqueles que tinham ansiedade severa tinham quase o dobro de chance de não se sentirem realizados profissionalmente.

Outro estudo, realizado no México, mostrou que uma parcela significativa dos estudantes de Odontologia apresentava exaustão emocional e estresse, sendo que boa parte desses também apresentava sinais da Síndrome de Burnout. 

A Síndrome de Burnout tem sido um assunto muito abordado nessas pesquisas ultimamente. Essa síndrome se caracteriza pela exaustão emocional e física em decorrência da atividade trabalhista exercida (em geral, atividades longas, estressantes e cansativas), juntamente com despersonalização e diminuição da satisfação pessoal.

Além de ser uma doença bem séria para a saúde mental e física, a síndrome pode diminuir a motivação para o trabalho, o que também pode prejudicar o atendimento dos pacientes. 

Assim como em demais especialidades da área da saúde, existe uma projeção “ideal” do cirurgião bucomaxilofacial, que dificilmente é compatível com a realidade.

Existe uma certa pressão para que todos sejam perfeitos: não cometam erros, aguentem trabalhar por longas horas seguidamente, não se deixa afetar emocionalmente em situações estressantes, etc. Soma-se a isso a rotina pesada da residência – que no Brasil tem 60 horas semanais, por 3 anos – e é compreensível porque a saúde mental desse grupo tem sido colocada em foco e recebido cada vez mais atenção.

Em se tratando de situações estressantes, é impossível não pensar naquela que está permeando nossas vidas há mais de um ano e que, com toda a certeza, impactou profundamente a vida dos profissionais da saúde: a pandemia de COVID-19. Um estudo realizado em Washington mostrou que uma parcela dos residentes passou a ter a intenção de abandonar seus programas, devido ao impacto da pandemia em sua saúde mental.


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A influência da pandemia de COVID-19

Sem dúvida nenhuma, a procura por termos relacionados à saúde mental e como identificar possíveis sintomas cresceu absurdamente durante os últimos meses. Isso não só entre os profissionais da saúde, já que a situação trazida pelo coronavírus afetou – e muito – a vida de praticamente todos os cidadãos. Entretanto, é indiscutível o peso que a pandemia depositou sobre todos os profissionais que dedicam suas vidas a cuidar da saúde do outro. 

Apesar disso, este é um problema mais antigo. Pesquisas realizadas antes do surgimento do novo coronavírus já indicavam que os estudantes e profissionais da Odontologia – em especial os cirurgiões bucomaxilofaciais – já apresentavam altos níveis de ansiedade, estresse e esgotamento emocional relacionados ao trabalho. Alguns fatores de risco identificados foram:

  • Idade;
  • Maiores cargas horárias semanais;
  • Quantidade de responsabilidades;
  • Atividades relacionadas ao atendimento clínico;
  • Atividades relacionadas ao ensino.

Mas o que fazer?

A residência e a carreira que podemos ter depois de completá-la é, para muitos, um grande sonho. Ao mesmo tempo em que não queremos desistir dos nossos objetivos, também temos o direito de nos preocuparmos com nossa saúde. Assim sendo, é fundamental evidenciar alguns meios de aliviar todo o lado mais “pesado” da profissão e manter a saúde em dia.

Obviamente, rotinas mais leves, com menos horas consecutivas de trabalho, melhor distribuição das tarefas e períodos de descanso adequados já ajudariam grande parcela desses profissionais. No entanto, o poder de alterar essa organização atual – muito provavelmente – não está em nossas mãos (pelo menos não por enquanto).

Soma-se a isso a grande variedade de sinais e sintomas que podem se relacionar à saúde mental e fica claro que cada pessoa terá necessidades específicas e individualizadas dentro do mesmo contexto. Assim, as estratégias de combate ao estresse e manutenção da saúde podem, e até devem, ser também individuais:

  • Atividades físicas;
  • Hobbies;
  • Apoio de familiares e amigos próximos;
  • Gestão do tempo e dos compromissos, para não nos sentirmos sobrecarregados;

É claro que, acima de tudo, a busca por auxílio profissional de psicólogos e psiquiatras, é primordial e insubstituível. Apenas os profissionais capacitados poderão orientar a melhor maneira de tratarmos e lidarmos com os estresses pessoais e profissionais que os últimos tempos estão nos trazendo. 

Para finalizar, não podemos nos esquecer de que para cuidarmos da saúde do próximo, precisamos cuidar da nossa própria saúde em primeiro lugar. Se não estivermos bem, não conseguiremos prover o tratamento mais digno que todos os nossos futuros e atuais pacientes merecem!

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Referências

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Por Sanar

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