Cuidados no atendimento do paciente hipertenso na clínica odontológica | Colunista

Pressão Arterial é a pressão exercida pelo sangue nas artérias durante a circulação. 

Os movimentos de sístole e diástole produzidos pelo coração são para manutenção da circulação sanguínea e da PA. 

  • A sístole é a contração do coração para levar sangue às veias, maior e primeiro valor medido. 
  • A diástole é o momento em que o coração relaxa para se abastecer de sangue, menor e segundo valor medido. 

A alteração na pressão exercida durante esses 2 movimentos leva a hipertensão arterial (HA) que consiste em uma elevação, em 2 aferições distintas, da da pressão sistólica acima de 140 mm/Hg e/ou pressão diastólica acima de 90 mm/Hg em repouso. ​A pressão normal é 120/80, acima de 120 até 140 é considerado pré hipertensão. 

A sintomatologia inclui: sensação de mal estar, ansiedade, agitação, cefaleia severa, tontura, visão turva, dor no peito, tosse e falta de ar. 

A Hipertensão é uma condição clínica multifatorial e pode estar associada a alterações funcionais e estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos). 

  • Olhos: as artérias que irrigam a retina podem sofrer alterações devido a hipertensão crônica, com uma elevação repentina da PA, podem ocorrer hemorragias e afetar a visão. 
  • Rins: as artérias renais são atingidas pela HA, causando uma perda progressiva da função excretora do órgão, por outro lado quando os rins não conseguem eliminar o excedente, a PA pode subir mais. 
  • Cérebro: os vasos que levam sangue ao cérebro são danificados pela HA, a diminuição do fluxo pode causar demência vascular pois o sangue fornece o oxigênio essencial para o funcionamento cerebral. Além disso, ao longo do tempo as artérias se enrijecem podendo causar bloqueios ou obstruções dos vasos sanguíneos e enfraquecimento das paredes das artérias, elevando o risco de rompimentos. É um fator de risco por AVC. 
  • Coração: sobrecarga do órgão e espessamento das suas paredes que é a hipertrofia ventricular que aumenta o risco de infarto ou insuficiência cardíaca. 

Os medicamentos utilizados no tratamento da hipertensão incluem:

Diuréticos (tiazida, furosemida)
Bloqueadores beta adrenérgicos (propranolol e atenolol)

  • Apresentam interação medicamentosa com anestésicos locais com vasoconstritor epinefrina, devido ao bloqueio da ligação da Epinefrina aos receptores beta causando uma sobrecarga da medicação e vasoconstrição. 

Bloqueadores dos canais de cálcio (nifedipina)
Inibidores da enzima conversora de angiotensina (captopril) 
Alfa adrenérgico (clonidina) 

Manifestações Orais:

São secundárias pelo uso de Medicamentos Anti-hipertensivos. 
Diuréticos: boca seca e reações liquenóides. 
Betabloqueadores: alterações no paladar e reações liquenóides.
Alfabloqueadores: boca seca e alterações no paladar. 
Alfa agonistas centrais: boca seca e alterações no paladar. 
Alfa e beta bloqueadores associados: alterações no paladar.
IECAs: angioedema de lábios, face, língua e alterações no paladar. 
BRAs:  angioedema de lábios, face, língua.
Bloqueadores dos canais de cálcio: hipertrofia gengival
Vasodilatadores diretos: lesões bucais e cutâneas semelhantes ao lúpus.

A Cirurgia Odontológica:

A avaliação do risco deve considerar o risco imposto pela doença, o imposto pela cirurgia e pela reserva ou capacidade cardiopulmonar funcional do paciente. Complicações no tratamento odontológico devem ser evitadas como: aumento do sangramento, angina, insuficiência cardíaca congestiva, AVC. 

O paciente deve estar com a pressão controlada, abaixo de 140/90 mmHg.​

Até 160/110 mmHg (Estágio 2 de hipertensão): os procedimentos podem ser realizados, com os cuidados necessários. ​

180/110 mmHg é o valor limite: urgência​. Acima disso, são casos de urgência médica e devem ser encaminhados ao hospital. 

Descompensados​

Eletivo: evitar​

Urgência: a decisão é baseada na clínica do paciente e de preferência em ambiente hospitalar com monitoração constante dos sinais vitais.

Protocolo de Atendimento:

  • Detecção e aferição da PA pré-procedimento, se está controlada e monitorar os sinais vitais ao longo da cirurgia. 
  • Deve reduzir ao máximo o estresse e ansiedade associados ao tratamento  para diminuir a liberação de catecolaminas endógenas durante a consulta.  
  • Evitar consultas longas e estressantes, preferencialmente consultar de manhã. Transmitir segurança.
  • Não é contraindicado o uso de adrenalina, mas deve respeitar o limite de limite de 0,038/0,04mg​ ou usar Felipressina 0,03UI/mL​. Também fazer aspiração prévia para evitar injeções intravasculares e técnica atraumática. 
  • AINES podem afetar o mecanismo de ação de drogas anti-hipertensivas como β-bloqueadores, inibidores da ECA e diuréticos.
  • Como alguns medicamentos vasodilatadores podem produzir hipotensão ortostática deve evitar alterações súbitas na posição da cadeira após terminar.

Caso ocorra uma crise hipertensiva

  • Interromper o procedimento e controlar o sangramento com gaze. ​
  • Sentar o paciente confortavelmente, folgar as roupas. ​
  • Captopril sublingual (se necessário) ou nifedipina (bloqueador do canal de cálcio – vasodilatador) ​
  • Encaminhar para hospital

Dessa forma, ter o conhecimento sobre quais as particularidades e modificações no tratamento de hipertensos é fundamental para evitar complicações no transcirúrgico como  aumento do sangramento na loja cirúrgica, angina, Infarto Agudo do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral.

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Referências:

DE MATOS, Jefferson David Melo et al. Comportamento da pressão arterial sistêmica em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos odontológicos. Revista da Faculdade de Odontologia-UPF, v. 23, n. 3, p. 361-370, 2018. 

SOUTHERLAND, Janet H. et al. Dental management in patients with hypertension: challenges and solutions. Clinical, cosmetic and investigational dentistry, v. 8, p. 111, 2016.

LITTLE, James W. The impact on dentistry of recent advances in the management of hypertension. Oral Surgery, Oral Medicine, Oral Pathology, Oral Radiology, and Endodontology, v. 90, n. 5, p. 591-599, 2000.

RHODUS, Nelson L.; MILLER, Craig S. Update on the Detection and Management of the Dental Patient with Hypertension. Northwest Dentistry Journal, v. 97, n. 2, p. 32-36, 2018.

LITTLE, J.W.; FALACE, D.A.; MILLER, C.S.; RHODUS, N.L. Manejo odontológico do Paciente Clinicamente Comprometido. Tradução de Izabella de Jesus Pasolini e col. 7 edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 605p.

Por Sanar

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