Tendão central e a unidade do corpo | Colunista

Sim, existe um tal de tendão central que conecta estruturas do corpo desde o crânio ao assoalho pélvico! Mas, calma lá… não estou falando sobre aquele tecido conjuntivo, denso modelado, revestido de fáscia para conectar o ventre muscular aos ossos, ok?

O lance aqui é perceber, na anatomia, a conexão e interação das estruturas (músculos, ligamentos, fáscias, tendões), por tecido conjuntivo, para uma abordagem mais ampla da avaliação e tratamento. Vamos lá? 

De cima para baixo, começaremos pela tensão recíproca das fáscias do crânio. Estou falando da foice do cérebro e tenda do cerebelo, que revestem toda a parede craniana com inserção nos ossos temporais, occipital, parietais, esfenoide.

Da junção dessas estruturas fasciais surge a dura-máter espinhal, que se fixa no occipital até o sacro (aproximadamente em S2). Pronto! Já chegamos na conexão crânio-sacro? Sim, mas… tem mais!

Ainda a nível occipital, temos a conexão da fáscia com os músculos suboccipitais, na base do crânio. Esses músculos se agrupam posteriormente à cervical alta (C0-C1-C2) e assim formam a parte posterior.

O músculo estiloglosso leva suas fibras da língua até o osso temporal, estabelecendo conexão com a zona posterior e os suboccipitais. Para outros músculos anteriores, o ponto de convergência será o osso hioide (estilo-hioideo, digástrico posterior).

Basta desenhar a letra “Y” num individuo de perfil, onde o vértice está no osso hioide, que podemos perceber a disposição das fibras anteriores e posteriores, além de descer pela cervical com os infra-hioideos estabelecendo conexão com o esterno (esterno-hioideo) e a escápula (omo-hioideo). Pois é descendo por esse “Y” que a brincadeira continua, dessa vez para a caixa torácica.

NO MEIO DO CAMINHO…

Na caixa torácica, o saco pericárdio será o elemento chave. Primeiro, por fixar os ligamentos vertebro-pericardios na transição cervico-torácica (c7t1). Segundo, pela ligação com o esterno (ligamento esterno-pericardio).

Por fim, e não menos importante, o ligamento frênico-pericardio vai trazer o diafragma para a continuidade do tendão central. Com o diafragma no centro das atenções já está fácil perceber a continuidade das estruturas, né? 

O diafragma, como estrutura central do corpo, traz consigo várias conexões com vísceras, ossos e músculos. Pelo caminho visceral, o ligamento falciforme (fígado), que está intimamente ligado ao diafragma, tem continuidade pelo ligamento redondo, que leva fibras até o umbigo, sendo ponto de encontro e conexão dos ligamentos suspensores da bexiga. Essas tensões ligamentares geram interferência nos músculos do assoalho pélvico. Pelo caminho muscular, o foco está no ligamento arqueado medial, que caracteriza a continuidade do diafragma com o potente músculo psoas.

Então, espera aí…deixe-me ver se entendi: quer dizer que uma disfunção no Psoas pode trazer pouca mobilidade ao diafragma, influenciando na respiração e com isso repercutir na cervical como um torcicolo, por exemplo? Ou até mesmo esse tensionamento gerar uma repercussão ao nível das membranas, conectadas na cervical, provocando cefaleia por compressão nervosa ou congestão venosa? Parece bem louco, né? 

Então, esse é um esboço do dia a dia de avaliação e tratamento de um fisioterapeuta atuante na Osteopatia, onde toda minúcia e detalhe fazem total diferença. A avaliação do corpo como uma unidade traz benefícios no tratamento, onde se interfere na causa e não no sintoma. Um salve ao maior centro de engenharia e tecnologia avançada do mundo: o corpo humano!

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Referencias:

  1. Wilke J, Krause F, Vogt L, Banzer W (2016a) What Is evidence-based about myofascial chains: a systematic review. Arch Phys Med Rehabil 97(3):454–461. https://doi.org/10.1016/j.apmr.2015.07.023 – DOI – PubMed
  2. Moore, Keith L.; DALLEY, Arthur F.. Anatomia orientada para a clínica. 6 ed. Rio De Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 2011.
  3. Stecco, C. Functional atlas of the human fascial system. Elsevier. Toronto, 2015

Por Sanar

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