Desvendando o VITAMIN-D: os diagnósticos diferenciais de afecções neurológicas na medicina veterinária | Colunista

Na rotina da avaliação neurológica, um dos mais conhecidos sistemas de triagem dos diagnósticos diferenciais é o VITAMIN-D, também conhecido como DINAMIT-V ou DAMNIT-V. No texto abaixo, explicamos o que ele significa e como o clínico pode utilizá-lo.

O que é o sistema?

O VITAMIN-D é um acrônimo que reúne todas as possíveis causas de uma afecção neurológica. Dessa forma, cada letra que faz parte desta expressão simboliza uma ou mais das possíveis etiologias para a alteração que o animal está apresentando. 

É importante pontuar que podem ser encontrados diversos acrónimos (VITAMIN-D, DAMNIT-V e DINAMIT-V) que significam e representam as mesmas coisas, alterando apenas a ordem das palavras, que não estão organizadas segundo nenhum critério de importância, de forma que o médico veterinário pode aderir a qualquer uma das expressões que ele considerar mais memorável.

O que o acrônimo significa?

Como citado anteriormente, cada letra indica alguma possibilidade de etiologia para uma manifestação neurológica, sendo da seguinte forma: D = degenerações; I = inflamatórias/infecciosas/idiopáticas/iatrogênicas; N = neoplasias/nutricionais; A= anomalias; M = metabólicas; T = traumáticas/tóxicas; V = vascular.

Estão representados na tabela abaixo todos os termos presentes no sistema em suas diversas formas de representação:

VascularDegenerativoDegenerativo
Infeccioso, InflamatórioAnomaliaInfeccioso, Inflamatório
Tóxico, TraumaMetabólicoNeoplásico, Nutricional
AnomaliaNeoplásico, NutricionalAnomalia
MetabólicoInfeccioso, Inflamatório, Iatrogênico, IdiopáticoMetabólico
Iatrogênico, IdiopáticoTóxico, TraumaIatrogênico, Idiopático
Neoplásico, NutricionalVascularTóxico, Trauma
DegenerativoVascular

É importante citar, entretanto, que na literatura podem ser encontradas algumas diferenças nos termos utilizados, sendo que algumas vezes determinada etiologia não é representada. Isso pode ser notado principalmente com as causas iatrogênicas e imunes, sendo que a primeira por vezes não é lembrada, e a última raramente é mencionada.

Uma das explicações para isso é que determinados autores ou profissionais simplesmente consideram que essas causas podem ser incluídas em algum outro termo, como idiopático. Deve-se considerar, ainda, a possibilidade da fonte escolhida estar desatualizada ou incompleta, tendo em vista que a Medicina Veterinária é uma ciência que está constantemente em atualização.

Qual a importância do sistema na rotina clínica?

O sistema é de grande utilidade tanto para os médicos veterinários clínicos gerais, quanto para os especialistas na área, pois ele reúne todas as principais etiologias de uma afecção neurológica primária para que o profissional possa raciocinar melhor nos diagnósticos diferenciais do caso. 

Para os clínicos gerais de pequenos animais, porém, pode ser ainda mais benéfico, uma vez que não possuem tanta vivência clínica com as doenças neurológicas, e eventualmente poderiam se esquecer de algumas opções diagnósticas. Apesar disso, obviamente deve-se lembrar que o Neurologista Veterinário é o profissional mais apto a realizar com precisão os diagnósticos e instituir a terapêutica mais indicada para o paciente com afecção neurológica.

Como e quando ele é utilizado?

Ele deve ser aplicado após uma detalhada anamnese e exame físico, e consequente localização da lesão no Sistema Nervoso, que é um dos principais passos na avaliação neurológica de um animal. Assim, após constatação de quais alterações o animal apresenta, e de onde provavelmente está localizada a alteração, é montado o acrônimo VITAMIN-D.

Abaixo está um exemplo do uso do sistema:

Tabela – Possíveis causas de convulsões em felinos

Fonte: RUSBRIDGE, 2005.

No exemplo acima visualiza-se o funcionamento do sistema, que evidencia os principais diagnósticos diferenciais para um felino convulsionando distribuídos entre cada categoria, desde as mais comuns até as menos recorrentes. 

Após a esquematização do sistema, o profissional decidirá qual sua próxima conduta segundo seus conhecimentos técnicos, selecionando qual ou quais as principais suspeitas diagnósticas e pedindo exames complementares ou instituindo determinada conduta terapêutica.

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Referências:

Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG. Neurologia em cães e gatos, 2013. Disponível em: https://vet.ufmg.br/ARQUIVOS/FCK/file/editora/caderno%20tecnico%2069%20neurologia%20caes%20e%20gatos.pdf. Acesso em 30 de junho de 2021.

CHAVES, Rafael Oliveira, et al. Doenças neurológicas em cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Santa Maria, RS: 1.184 casos (2006-2013), 2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/307702562_Doencas_neurologicas_em_caes_atendidos_no_Hospital_Veterinario_da_Universidade_Federal_de_Santa_Maria_RS_1184_casos_2006-2013/fulltext/57cea3b608ae83b37461f231/Doencas-neurologicas-em-caes-atendidos-no-Hospital-Veterinario-da-Universidade-Federal-de-Santa-Maria-RS-1184-casos-2006-2013.pdf. Acesso em 29 de junho de 2021.

LIRA, Daniela da Silva. Epilepsia Idiopática Felina: relato de caso, 2018. Disponível em: https://ri.cesmac.edu.br/bitstream/tede/460/1/Epilepsia%20idiop%C3%A1tica%20felina%20-%20relato%20de%20caso.pdf. Acesso em 01 de julho de 2021.
COSTA, Ronaldo Casimiro da; DEWEY, Curtis W. Practical guide to canine and feline neurology, 2016. 3ª edição.

Por Sanar

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