A saúde bucal é definida segundo a Federação Dentária Internacional (FDI World Dental Federation) como uma condição multifacetada e inclui, sem limitações, a capacidade de falar, sorrir, cheirar, saborear, tocar, mastigar, engolir e transmitir uma variedade de emoções, através de expressões faciais, com confiança e sem dor ou desconforto e sem doença do complexo craniofacial.
Ainda de acordo com a FDI, a saúde bucal reflete os atributos fisiológicos, sociais e psicológicos que formam a essência da qualidade de vida (FDI, 2016 apud SOEGO, 2016). Sendo o Brasil o 9° país com maior desigualdade social do mundo, se faz necessária a aplicação de estratégias que torne praticável a promoção da saúde bucal em comunidades com menores níveis socioeconômicos.
A fitoterapia é uma prática terapêutica ainda pouco utilizada, caracterizada pelo uso de plantas medicinais, que apresenta vantagens e pode ser utilizada em Odontologia como meio para o alcance da saúde bucal.
Caracteriza-se como fitoterápico os extratos, tinturas, pomadas e cápsulas que utilizam como matéria-prima as plantas e suas partes e apresentem efeitos farmacológicos.
Breve Histórico
A fitoterapia surgiu da necessidade dos povos antigos e de suas experiências com plantas para a cura de enfermidades. O Papiro de Ebers (1500 a.C.), apresenta várias espécies vegetais, suas formulações e indicações. O discípulo de Aristóteles (384-322 a.C.), Teofrasto (372-285 a.C.), inventariou cerca de 500 espécies de plantas.
No Egito, também, foram encontrados registros da prática fitoterápica. Em Corpus Hippocraticum, obra de Hipócrates (460-361 a.C.), o pai da medicina descreve o uso de drogas de origem vegetal. Durante a Idade Média, as pessoas que possuíam conhecimento as plantas medicinais foram julgados bruxos e queimados em fogueira.
Com o passar do tempo, já no período da Idade Moderna, o uso de terapias medicamentosas sem base na ciência foram abandonadas. A Fitoterapia se desenvolveu por meio da medicina Chinesa e do milenar sistema de saúde vindo da Índia, Ayurvédica.
No Brasil, foi desenvolvida graças às contribuições dos negros, indígenas e portugueses. Com o desenvolvimento da indústria farmacêutica e da produção sintética dos princípios ativos encontrados na estrutura vegetal, no século XX, houve novamente uma desvalorização do conhecimento cultural a cerca do uso de plantas como processo de cura (ALMASSY JÚNIOR et al. 2005; ALONSO, 1998; ALVIM et al. 2006).
A Organização Mundial da Saúde (OMS), no final da década de 1970, criou o Programa de Medicina Tradicional, que objetivava proteger e promover a saúde dos povos do mundo, incentivando a preservação do conhecimento popular sobre a utilização de plantas medicinais.
No Brasil, em 2006, com intuito de “garantir à população brasileira o acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional”, foi criado o Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (APANAT, 2007 apud BRASIL, 2006).
Fitoterapia e Saúde Bucal
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), aprovada pelo Ministério da Saúde, contempla a fitoterapia para uso no Sistema Único de Saúde (SUS). O cirurgião-dentista é apto a utilizar-se da fitoterapia no tratamento e prevenção de patologias bucais de seus pacientes (BRASIL, 2008).
Uma das maiores vantagens do uso de plantas medicinais é que esta se trata de uma terapia menos invasiva, gerando menos efeitos colaterais e maior conforto aos pacientes.
Monteiro lista em sua monografia as espécies alecrim, alecrim-pimenta, arnica, barbatimão, calêndula, camomila, cacau, capim-limão, cavalinha, copaíba, crataégus, cravo-da-Índia, equinácea, guaco, malva, maracujá, melissa, passiflora, romã, rosa rubra, salgueiro branco, salvia, tanchagem, unha-de-gato como ervas que podem ser prescritas como anestésico tópico, ansiolítico, antifúngico, anti-inflamatório, antisséptico bucal, antiviral, hemostático e hidratante/protetor epidérmico.
Ainda em seu trabalho, Monteiro afirma que a prescrição de fitoterápicos deve ser feita com cuidado em pacientes pediátricos, em gestantes e lactantes, assim como em pessoas acometidas de comorbidades e/ou que utilizam simultaneamente medicamentos sintéticos. Esta última prescrição deve ser feita com cuidado para que sejam evitados efeitos colaterais ou adversos, gerados pela interação química dos componentes da medicação sintética com os princípios ativos das plantas.
Embora a fitoterapia seja um método dotado de vários benefícios para saúde, que apresente baixo custo e grande disponibilidade de sua matéria-prima, principalmente nos países tropicais, no dia a dia clínico, ainda é pouco utilizada pelos profissionais da área.
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RERERÊNCIAS
FDI APRESENTA NOVA DEFINIÇÃO UNIVERSALMENTE APLICÁVEL DE “SAÚDE BUCAL”. Soego, 2016. Disponível em: http://soego.org.br/fdi-apresenta-nova-definicao-universalmente-aplicavel-de-saude-bucal/. Acesso em: 8 de maio de 2021;
APANAT- ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE NATUROLOGIA. Fitoterapia. São Paulo, 2007. Disponível em: http://apanat.org.br/fitoterapia/. Acesso em 16. Jun. 2021;
ALMASSY JÚNIOR, Alexandre; LOPES, Reginalda Célia; ARMOND, Cíntia; da SILVA, Francieli; CASALI, Vicente Wagner Dias. Folhas de Chá – plantas medicinais na Terapêutica Humana. UFV: Viçosa, 2005;
ALONSO, Jorge. Tratado de Fitomedicina: Bases clínicas e farmacológicas. Argentina, Rosário: Corpus Libros, 1998;
ALVIM et al. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: das influências da formação profissional às implicações éticas e legais de sua aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Rev Latino-am Enfermagem, v.14, n.3, mai./jun. 2006. Disponível em www.eerp.usp.br/rlae. Acesso em 17.jun.2021;
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Brasília, DF, 2006;
BRASIL. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO-82, de 25 de setembro de 2008;
MONTEIRO, Maria Helena Durães Alves. Fitoterapia na odontologia: levantamento dos principais produtos de origem vegetal para saúde bucal. 2014. 218 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) – Instituto de Tecnologia em Fármacos/Farmanguinhos, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2014. Farmacocinética.