A Associação de Psicologia Americana (APA) descreve a Psicologia como a ciência que se debruça sobre o estudo da mente e do comportamento humano, das suas relações e experiências.
Podemos logo perceber que a Psicologia fornece diversas áreas de atuação que muitas vezes se entrelaçam. Tendo em vista este papel importante é necessário embasar a prática psicológica com ciência, para que, embora se reinvente a Psicologia não se afaste do seu conceito científico. Por isso, recentemente iniciaram a prática chamada “baseada em evidências”.
É importante destacar que o uso de evidências não é restrito a psicologia e que vem sendo aplicado a diversas áreas da saúde, sendo denominado com o termo “saúde baseada em evidências”. De maneira geral a prática baseada em evidências tem como objetivo auxiliar na tomada de decisão clínica individual ou coletiva.
Abaixo, você poderá conferir um pouco mais sobre o campo da prática baseada em evidências, iniciando pela compreensão do que é uma evidência científica, os tipos de estudo e como aplicá-la na prática diária.
O que é uma Evidência Científica? Primeiro passo para compreender a prática baseada em evidências
Evidências são provas científicas derivadas das pesquisas disponíveis. Isso pode ser traduzido para artigos, guidelines, teses, dissertações. Todavia, o mais importante aqui é conhecer os desenhos de estudo e o impacto destes sobre a qualidade da evidência.
Existem diversas metodologias para construir um estudo, o que denominamos tipos ou desenhos de estudo. Cada tipo de estudo (que vamos caracterizar a seguir) serve para responder a uma pergunta específica, por isso não podemos dizer que um é melhor do que o outro.
No entanto, quando você trabalha com Psicologia Baseada em Evidências é importante lembrar que um estudo de caso realizado com apenas um paciente, por exemplo, não resultados suficientes para caracterizar o que pode acontecer com a maioria da população.
Para conclusões e escolhas de tratamento as melhores evidências são as revisões sistemáticas com metanálise ou os ensaios clínicos randomizados. Para escolher o melhor desenho de estudo, em nível de evidência temos a pirâmide de evidências científicas, que fica assim organizada:
Importante mencionar que todo estudo é importante, desde os pré-clínicos (in vitro e com animais) até os clínicos e estudos de revisão. Geralmente cada tipo de estudo serve para responder uma pergunta, e vamos conhecer rapidamente cada um deles:
Opinião de Experts/Estudos com Animais/Estudos in vitro:
Estes tipos de estudo estão na base da pirâmide. Por meio destes não é possível tirar conclusões factíveis para a prática clínica coletiva;
Relato de Caso/Série de Casos:
Estes estudos podem ser úteis para compreender especialmente o manejo clínico de doenças raras. Costumam descrever casos clínicos de um ou dois pacientes, mas esses dados não podem ser considerados como prática para a maioria das pessoas;
Estudos de Caso-Controle:
Estes estudos podem ser úteis para investigar etiologia e curso de doenças.Os estudos do tipo caso-controle possuem grupos de estudo definidos pelo desfecho. Estudos de caso-controle não avaliam qualidade de tratamento, portanto você poderá utilizá-los para comprar grupos (grupo com dano cognitivo comparado com quem não possui dano, por exemplo).
Estudos de Coorte:
Estes estudosse propõem a observar, em uma população previamente definida, qual será a incidência de determinada doença ou fenômeno relacionado à saúde ou doença.
Ensaios Clínicos Randomizados:
Estes estudos avaliam a qualidade ou eficácia de uma intervenção. São indicados para verificar qual é o melhor tratamento para determinada situação. Os ensaios clínicos são compostos por dois grupos (grupo controle x grupo intervenção), e é chamado randomizado pois os pacientes são alocados aleatoriamente em um dos grupos.
Revisão Sistemática e Metanálise:
É a síntese das evidências, considerada o topo da pirâmide de evidência científica. Tem por objetivo reunir estudos semelhantes, publicados ou não, avaliando-os criticamente em sua metodologia e reunindo-os numa análise estatística, a metanálise, quando isto é possível. Estes estudos podem avaliar a eficácia de tratamentos, avaliar a prevalência de alguma condição de saúde ou mesmo.
Bases de Dados: Segundo passo na trilha das evidências científicas
Base de dados é a nomenclatura apropriada para o que pode ser considerado como um site para busca de artigos científicos.
Para pesquisar as evidências científicas podemos procurar guias de tratamento (menos comuns na Psicologia e também chamados de guidelines, disponíveis em sites de associações, federações e conselhos de atuação profissional) ou de maneira pura nos em artigos (disponíveis em sites específicos para busca).
Para busca de artigos, no Brasil a base de dados mais conhecida e difundida na maiora das universidades é a Scielo. No entanto, em nível internacional a Scielo não é a base mais completa.
Dentro das Ciências da Saúde as bases que fornecem artigos mais completas são: PUBMED (link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/ ), Embase (https://www.embase.com/landing?status=grey) , LILACS (lhttps://lilacs.bvsalud.org/ ), e a Base de Dados Cochrane (https://www.cochranelibrary.com). Sim, você vai notar que os melhores artigos estão nas bases de dados internacionais, e grande parte em inglês. Mas siga firme, você vai conseguir!
Guidelines podem ser encontrados nos sites do Conselho Federal de Psicologia, Ministério da Saúde, Federação Brasileira de Terapias Cognitivas. Ou seja, estas instituições já realizaram um compilado de evidências e posteriormente publicaram para acesso rápido.
Teses e dissertações brasileiras podem ser acessadas na Biblioteca CAPES. Esta biblioteca é regulada pela CAPES e Ministério da Educação, tornando públicas todas as produções fruto de mestrados e doutorados realizados no brasil, disponível aqui: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/.
Nós, psicólogos, também contamos com o site DIV-12 que destaca os transtornos mentais e os devidos tratamentos, já avaliando a força da evidência. Uma mão na roda, né? Por isso você pode clicar aqui e explorar o site! (link: https://div12.org/ )
Interpretar as Evidências: Terceiro e importante passo!
De forma simples e geral, para interpretar as evidências é necessário compreender o significado de alguns termos. Conhecer os conceitos científicos é imprescindível para entender o que é ciência de verdade. Alguns termos que você pode encontrar quando se aventura no mar das evidências:
Desfecho:
É um evento pré-definido. Uma doença, um sintoma, uma alteração de laboratório. Por exemplo: Avaliação da TCC [Intervenção] para ansiedade [desfecho]. Pode ser divido entre primário e secundário.
Viés:
Termo comumente encontrado. É relativo a erro. Consiste em um erro sistemático, sendo uma distorção aleatória de uma estatística, como resultado do processo de amostragem.
Aplicabilidade:
Consiste na avaliação dos dados obtidos por meio do conjunto das evidências, levando em consideração a individualidade do seu paciente. É necessário aplicar as práticas considerando o histórico e subjetividade de cada paciente.
Este foi apenas um resumo geral sobre Psicologia Baseada em Evidências, com termos e tipos de estudo, para elucidar essa área tão importante e pouco explorada. A prática baseada em evidências além de reduzir o risco de erros, oferece o melhor tratamento ao paciente. Agora que você já está familiarizado é hora de praticar e fortalecer a ciência e a profissão!
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Referências
APA. Evidence-based practice in psychology. American Psychologist, [S.L.], v. 61, n. 4, p. 271-285, 2006. American Psychological Association (APA).
MACIEL, Bira. Saúde baseada em evidências. 2017. Disponível em: https://neuroup.com.br/saude-baseada-em-evidencias/. Acesso em: 06 jul. 2021.
MELNIK, Tamara; OLIVEIRA, Iraní Tomiatto de; ATALLAH, Álvaro Nagib. Evidence-based psychology. Sao Paulo Medical Journal, [S.L.], v. 129, n. 2, p. 63-63, mar. 2011.
NETO, José. Saúde Baseada em Evidências: na prática clínica. Belo Horizonte: Sbe Academy, 2021. 34 p. E-book.
YOUNGSTROM, Eric A.. Future Directions in Psychological Assessment: combining evidence-based medicine innovations with psychology’s historical strengths to enhance utility. Journal Of Clinical Child & Adolescent Psychology, [S.L.], v. 42, n. 1, p. 139-159, jan. 2013.