O luto sob a ótica da Terapia Cognitivo-Comportamental

Pós-graduação: o luto pela Terapia Cognitivo-Comportamental
Pós-graduação: o luto pela Terapia Cognitivo-Comportamental

É estudante ou profissional de Psicologia? Se saúde mental é a sua praia, deve saber que essa é uma área de estudo fascinante, com muitas contribuições para a sociedade. Pensando nisso, hoje vamos abordar um tema muito importante: o luto pela Terapia Cognitivo – Comportamental (TCC).

O luto é um processo sofrido que, muitas vezes, demanda um acompanhamento psicológico. Muitas são as possibilidades de abordagem, cada uma com suas especificidades. A seguir, vamos conhecer mais sobre como a TCC pode contribuir para esse processo.

Para isso, conversamos com a psicóloga Isabela Couto, que também é docente e doutoranda em Ciências da Saúde, além de ser especialista em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental.

Vamos lá?

O Luto pela terapia cognitivo-comportamental

São muitas as evidências científicas que comprovam que a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é eficaz no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos. Mas, seus benefícios vão além desse quadro.  Ela auxilia, por exemplo, no processo de resolução de problemas, mesmo quando não há diagnóstico de algum tipo de transtorno dessa natureza.

Nesse contexto, também está o processo de luto. A TCC cumpre um importante papel no tratamento do processo de elaboração do luto, seja ele normal ou patológico.

A seguir, vemos mais sobre isso.

Como a Terapia Cognitivo-Comportamental trabalha o luto

Sob a ótica da TCC, existe uma relação entre os processos cognitivos do paciente e os sintomas relatados. Isso porque acredita-se que as cognições são mediadoras entre o evento e suas consequências. Essas emoções disfuncionais, por sua vez, são decorrentes dos pensamentos irracionais a respeito do luto que está vivenciando.  

Portanto, “ao longo das sessões terapêuticas, a escuta do terapeuta deve também estar voltada para identificar, no histórico do luto, os pensamentos automáticos disfuncionais do paciente e suas crenças disfuncionais a respeito das situações que envolvem o luto”, destaca Isabela.

Estão entre os focos da terapia voltada para o tratamento do luto, baseada na TCC:

  • o aprendizado de novas habilidades cognitivas e comportamentais, possibilitando ao paciente a readaptação ao seu ciclo de vida após a perda do ente;
  • a reformulação dos papéis sociais das pessoas envolvidas no luto;
  • o respeito pelo curso natural do luto;
  • a reestruturação cognitiva a respeito de pensamentos distorcidos sobre o luto e sobre a vida do paciente;
  • a resolução de problemas.

É importante destacar alguns fatores que devem ser levados em conta para melhor compreensão do contexto. Entre eles estão o grau de parentesco, as circunstâncias da morte e os recursos internos disponíveis. Tudo isso, claro, impacta o paciente.

A importância do enlutado ser acompanhado por um profissional da Psicologia

“É de extrema importância que o enlutado busque um acompanhamento com profissional qualificado e apto que o auxilie na busca da reconstrução e reorganização de sua vida, bem como na remissão dos sintomas provocados pelo processo do luto”, defende Isabela.

Ela destaca que para importantes teóricos que trabalham com o luto e a TCC, a morte é, inquestionavelmente, uma circunstância estressora na vida de uma pessoa. Sendo assim, causadora de intenso sofrimento e de alterações psicológicas, fisiológicas, comportamentais e até sociais onde o enlutado está inserido.

Ou seja, os obstáculos e as dificuldades oriundos do luto podem incapacitar, impactar negativamente e desorganizar a vida das pessoas enlutadas.

Nesse contexto, é preciso saber distinguir a tristeza característica de um luto normal daquela considerada patológica. É fundamental, portanto, compreender as crenças do paciente que foram ativadas com a morte de seu ente.

Qual o seu entendimento sobre a morte e como o paciente tem enfrentado a situação da perda? Esses são elementos importantes para que o profissional da psicologia possa ajudá-lo por meio das intervenções mais adequadas.


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O que o especialista deve saber na hora de tratar um paciente enlutado? 

O profissional da Psicologia especializado deve ter domínio das técnicas da Terapia Cognitivo – Comportamental. Além disso, deve saber diferenciar o luto normal do patológico, o que é de suma importância.

A psicóloga Isabela explica que o luto normal é uma resposta saudável à perda do ente e implica na capacidade saudável das pessoas enlutadas de expressar essa dor a partir do reconhecimento da perda, do reajustamento e de novos investimentos nas suas relações.

Mas, nem sempre é assim.  “Quando as capacidades de lidar com a perda são escassas, pode-se perceber o sofrimento pelos sintomas que se manifestam vinculados à negação e à repressão da perda. E esse sofrimento pode levar a um processo de luto irracional, mal adaptativo e, consequentemente, patológico”, destaca.

Para intervenções mais adequadas, também é importante que o profissional saiba identificar em qual fase do luto o paciente se encontra.  

Caso seja necessário, é preciso considerar a possibilidade de um encaminhamento para avaliação psiquiátrica. Vale lembrar que a literatura especializada aponta que o tratamento combinado (psicoterapia associada ao uso de psicofármacos) produz respostas mais breves e mais funcionais, fazendo com que o prognóstico do paciente seja melhor.

Como tratar um paciente enlutado

O terapeuta deve mostrar empatia, respeitar e se adequar ao ritmo do paciente, especialmente no uso de técnicas e estratégias. Caso haja um confronto, por exemplo, o paciente pode criar resistência ao tratamento, dificultando ou até mesmo impossibilitando o processo. 

É bom frisar que o  tratamento do enlutado deve facilitar o processo de readaptação e reorganização de vida do indivíduo. Para isso, intervenções mais direcionadas são utilizadas. Entre elas, destacam-se:

  • avaliação da intensidade de sintomas de depressão, ansiedade e desesperança;
  • psicoeducação sobre as fases do luto: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceitação (essas fases não são um roteiro e podem sofrer alterações de acordo com a perspectiva pessoal de cada paciente);
  • identificação das principais preocupações do paciente, priorizando-as no tratamento;
  • psicoeducação sobre o efeito das distorções cognitivas na emoção e no comportamento do paciente, com foco nos principais pensamentos automáticos disfuncionais a respeito da situação do luto;
  • resolução de problemas pendentes entre o paciente e o ser perdido, ou na vida atual, sobre a reorganização familiar e a busca de apoio e cuidados;
  • busca de rotina de apoio e ocupar o tempo ocioso, antes dedicado ao ente;
  • intervenções relacionadas a reorganização de vida, tocando em pontos como: independência, atividades laborais e ocupacionais, estabilização de humor e comportamentos mais funcionais e novos objetivos de curto, médio e longo prazos a serem alcançados para o seu bem-estar;
  • desenvolvimento de estratégias de Coping; utilizadas para que as pessoas possam se adaptar a circunstâncias adversas ou estressantes;
  • automonitoramento de pensamentos distorcidos;
  • treino de habilidades sociais, focando no aumento e desenvolvimento de novas habilidades cognitivas;
  • prevenção de recaída;
  • estímulo da autoeficácia do paciente, para que ele possa entender e conhecer suas capacidades e habilidades, com o objetivo de enfrentamento deste processo.

Terapia Cognitivo – Comportamental e o processo do enlutado

Por que a TCC é um bom caminho para tratar pacientes enlutados? “Acredito que um dos grandes diferenciais da TCC no tratamento do enlutado, talvez seja a capacidade desenvolvida no paciente para identificar quando entra em crise”, defende a psicóloga Isabela Couto.

Ela destaca que o automonitoramento possibilita que o paciente perceba pensamentos distorcidos, podendo substituí-los por reações mais racionais. Dessa forma, mesmo após o tratamento, o indivíduo continuará se beneficiando das técnicas e dos benefícios das terapias cognitivo-comportamentais.

Isabela também reforça que o terapeuta deve ter cuidado e sensibilidade ao elaborar o diagnóstico de luto, levando em conta se os sintomas são apropriados às circunstâncias ou não.

Isso porque pacientes que se enquadram em diagnóstico de depressão ou transtornos de ansiedade tendem a apresentar maior prejuízo disfuncional, sendo vinculados a crenças disfuncionais.

“O foco na reestruturação dessas crenças também é uma importante especificidade no tratamento do luto baseado na TCC”, diz.

A partir de estratégias da TCC espera-se, portanto, alcançar significativa melhora na interpretação do paciente a respeito do evento morte.

Isso, além da maior capacidade de reavaliação das interpretações, que passam a ser mais funcionais, refletindo em emoções mais positivas.

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Por Sanar

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