“50” tons de branco | Colunista

A tempos atrás a estética do sorriso baseava-se basicamente no alinhamento dos dentes. Jovens, crianças e até adultos, se submetiam a tratamentos ortodônticos, algumas vezes complexos, para corrigir não só a funcionalidade das estruturas, mas como também reestabelecer a harmonia do sorriso.

Sabemos que o sorriso, com elementos dentários harmônicos, contribuem para o desenvolvimento da autoestima, e tão importante quanto alinhamento, tamanho e forma, a cor também possui um papel relevante nessa composição estética.

O manchamento ou escurecimento dos dentes podem ser causados por:

  • Fatores intrínsecos: Uso de tetraciclinas durante a formação dentaria é um exemplo.
  • Fatores extrínsecos: Alimentos com pigmentos fortes como por exemplo o café. 

Normalmente, o que causa a alteração da cor dentária é o acúmulo das macromoléculas orgânicas de pigmentos no interior dos túbulos dentinários, sim, os túbulos, aqueles que ficam parcialmente preenchidos pelas terminações nervosas pulpares e pelos prolongamentos dos odontoblastos. Alguns materiais restauradores/obturadores e até a necrose pulpar, podem também, promover esse escurecimento indesejado.

Diagrama

Descrição gerada automaticamente
Imagem 1: Túbulos dentinários, local onde as moléculas de pigmentos se alojam.
Fonte: http://blogdadraju.blogspot.com

Com intuito de reverter ou minimizar essas alterações de cor, surgiram os clareadores dentários, que hoje são comercializados livremente no mercado. Essas substâncias, geralmente em forma de gel (propriedade conferida pelo Carbopol, um tixotrópico), possuem como agente clareador o Peróxido de Hidrogênio ou Peróxido de Carbamida. Existe ainda um terceiro tipo de agente clareador que possui a apresentação em pó, chamado de Perborato de sódio.

Mas como a mágica acontece?

A chave desse mistério é o oxigênio.  Tanto os peróxidos quanto o Perborato liberam radicais livres quando entram em contato com os tecidos. Esses radicais livres, nada mais são, que as moléculas de oxigênio que oxidam as macromoléculas de pigmento. Essas macromoléculas então, são quebradas em cadeias de carbono cada vez menores, até que sejam eliminadas por difusão. Eliminando o pigmento total ou parcialmente.

Peroxido de Hidrogênio X Peroxido de Carbamida

Os produtos resultantes da ação do peróxido de hidrogênio são água e oxigênio.  Não possuem em sua composição nenhum outro elemento que possa reduzir o seu poder de ação, ele libera basicamente o oxigênio e água em partes iguais, o que implica numa maior velocidade de clareamento e em um menor tempo. Porém, o risco de desenvolvimento de sensibilidade torna-se maior. São mais indicados para tratamento em consultório.

Já no peróxido de carbamida, os produtos resultantes são peróxido de hidrogênio e ureia, aproximadamente nas proporções 1/3 para H2O2 e 2/3 para ureia. O oxigênio necessário para degradação dos pigmentos será obtido na porção de 1/3 de peroxido de hidrogênio (H2O2).

Baseada nessa informação, percebemos que a quantidade de oxigênio liberado pelo peroxido de carbamida é menor. Exemplo, um peroxido de carbamida a 10% libera, aproximadamente, 3% de H2O2 e 7% ureia. Por possuir um poder de ação menor, são mais indicados para tratamentos caseiros ou tratamentos de pacientes que apresentam previamente algum quadro de sensibilidade.

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Descrição gerada automaticamente com confiança média
Imagem 2: Quebra das cadeias das macromoléculas até sua eliminação por difusão. Fonte: https://www.teses.usp.br

Mas e o Perborato de sódio?

O perborato de sódio é comercializado em forma de pó, onde para sua utilização é necessário incorporar um líquido, geralmente peroxido de hidrogênio.

Sua função é clarear dentes não vitais (dentes que sofreram trauma ou tratamento endodôntico), e por esse motivo desenvolveram algum grau de escurecimento. Ele promove o clareamento da parte interna do elemento dentário. Durante sua reação ele libera metaborato de sódio e, adivinhem só, peroxido de hidrogênio.  A técnica para utilização desse material é diferente dos agentes em gel, por esse motivo sua utilização se limita ao consultório.

É importante ressaltar que antes indicar o tipo/técnica de clareamento e o agente clareador, o profissional precisa executar uma avaliação minuciosa e uma anamnese detalhada para identificar as possíveis causas do escurecimento. A indicação equivocada de um procedimento, pode comprometer o resultado e levar a frustração tanto do paciente quanto do profissional.

Durante a entrevista devemos compreender quais são as expectativas do paciente sobre tratamento e entender também, qual o grau de clareamento que ele gostaria de alcançar. Nem sempre será possível alcançar o grau de clareamento desejado, e todas a possibilidade devem ser expostas ao paciente.

O registro da cor inicial é de suma importância para que se acompanhe a evolução do clareamento, e esse registro pode ser feito com auxílio da escala de cores VITA. A escala VITA apresenta um código para cada cor, sua divisão é feita por tonalidade (cores) e saturação (claro e escuro) onde o número 1 representam os mais claros, variando nos intermediários 2 e 3, até chegar nos mais escuros 4. Os grupos de tonalidades são:

A1-A2-A3-A4: Vermelhos-acastanhados

B1-B2-B3-B4: Vermelho-amarelado

C1-C2-C3-C4: Tons acinzentados

D2-D3-D4: Cinza-avermelhado

Interface gráfica do usuário, Aplicativo

Descrição gerada automaticamente
Imagem 3: Na imagem acima os modelos de referências de cores foram reorganizados, de forma que, consigamos visualizar o crescente do escurecimento. Fonte: http://marcodevilla.com.br

Por fim, não podemos esquecer de respeitar a individualidade de cada paciente, o branco de uns pode ser diferente do branco de outros.

Nem sempre o paciente vai solicitar a tonalidade mais clara da escala, por vezes, buscarão somente a eliminação de uma ou mais manchas, de um grupo de dentes ou de um único elemento. Dominar a técnica, entender as propriedades e os mecanismos de ação dos agentes clareadores, podem ser a chave para o sucesso.

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Referências:

  • Odontologia restauradora: fundamentos e técnicas, volume 1/ Luiz Narciso Baratieri… [et a.]. São Paulo: Santos, 2013.
  • Odontologia restauradora: fundamentos e técnicas, volume 2/ Luiz Narciso Baratieri, Sylvio Monterio Jr. São Paulo: Santos, 2013.
  • SOARES, Felipe Fagundes; SOUSA, Jose Augusto de; MAIA, Caroline Chaves; FONTES, Ceres Mendonça; CUNHA, Leonardo Gonçalvez; Freitas, Anderson Pinheiro de. Clareamento em dentes vitais: Uma revisão literária. Rev.Saude.Com 2008; 4(1):72-84.

file:///C:/Users/Arthur/Downloads/Artigo%20sobre%20clareamento%20caseiro%20e%20de%20consult%C3%B3rio.pdf

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  • Tabela 1: Tabela criada com base nos conhecimentos adquiridos nos livros e artigos.

Por Sanar

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