Controle de qualidade de fitoterápicos | Colunista

A utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade, sendo tão antiga quanto à espécie humana; e por muito tempo, produtos de origem mineral, vegetal e animal foram as principais fontes de fármacos.

As observações populares sobre o uso e a eficácia de plantas medicinais contribuem de forma relevante para a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais, prescritos com frequência pelos efeitos medicinais que produzem, apesar de não terem seus constituintes químicos conhecidos.

De forma geral as plantas medicinais são de fácil acesso, além disso, sua utilização é estimulada pelos meios de comunicação que divulgam o “produto de origem natural” como uma alternativa terapêutica eficaz e sem riscos à saúde.

A globalização permitiu acesso a diferentes correntes da medicina tradicional de várias regiões, e essas práticas terapêuticas têm sido incorporadas aos sistemas de Saúde Pública.

O controle de qualidade de fitoterápicos deve ser criterioso para que sua inserção na prática clínica se dê de maneira segura, visto que há uma composição química complexa nos vegetais e seus derivados e uma consequente possibilidade de ocorrência de reações adversas, semelhante a qualquer medicamento.

Para melhor compreensão deste assunto algumas definições são importantes como:

  • Droga vegetal: planta medicinal, ou suas partes, depois de submetidas a processos como coleta, secagem e outros, na sua forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada
  • Fitoterápico: medicamento obtido exclusivamente de matérias-primas vegetais, sem a presença de substâncias ativas isoladas, mesmo que de origem vegetal
  •  Matéria-prima vegetal: planta medicinal fresca, droga vegetal ou seus derivados)
  • Derivado vegetal: produto de extração da matéria-prima vegetal, como extrato, tintura, óleo, cera
  • Adjuvantes: substâncias de origem natural ou sintética adicionadas ao medicamento com a finalidade de prevenir alterações, corrigir e/ou melhorar as características organolépticas, biofarmacêuticas e tecnológicas do medicamento.

No controle de qualidade destes produtos diversas metodologias analíticas são empregadas para obter informações sobre aspectos botânicos, químicos, físico-químicos, biológicos e microbiológicos. A validação dos métodos analíticos aplicados na avaliação de qualidade é indispensável e colabora com as Boas Práticas de Fabricação, integrando os procedimentos com a Garantia de Qualidade.

Em geral, os requisitos ou parâmetros visam avaliar:

  • A pureza das matérias-primas vegetais e dos produtos fitoterápicos, incluindo a determinação da contagem microbiana, resíduos de solventes;
  • O teor dos princípios ativos;
  • A uniformidade dos materiais e formulações;
  • Estabilidade de matéria-prima, produto acabado e dos princípios ativos.

Após a análise botânica da matéria-prima vegetal devem ser realizadas as análises referentes ao controle físico, físico-químico e químicos, aplicáveis tanto no controle em processo como no produto acabado.

Os principais ensaios são os ensaios de pureza:

  • Determinação do conteúdo de material estranho: aplicado às matériascomercializadas na forma in natura ou a serem processadas para obtenção de extrato;
  • Quantificação do teor de umidade e substancias voláteis: fator determinante para sua conservação, o excesso de água pode favorecer o desenvolvimento de micro-organismo, deterioração do material vegetal e hidrólise de princípios ativos;
  • Determinação do conteúdo de cinzas:cuja finalidade é determinar a porcentagem de compostos inorgânicos oriundos de impurezas ou não;
  • Presença de micotoxinas: a presença de micotoxinas apresenta riscos para saúde humana e animal – a contaminação pode ocorrer tanto na fase de cultivo como no armazenamento;
  • Determinação qualitativa e quantitativa de constituintes químicos característicos: parte essencial do controle de qualidade uma vez que deles dependem a atividade farmacológica.
  • Avaliação de parâmetros específicos: características presentes em algumas drogas vegetais constituem parâmetros complementares à avaliação da qualidade como identificação de compostos voláteis em óleo essencial.

Considerando que os materiais de origem vegetal apresentam alta complexidade em sua composição, utilizam-se tantos métodos químicos como cromatográficos para análises qualitativas, doseamento de metabólitos e/ou substância marcadora do insumo vegetal, derivados ou do produto fitoterápico final.

Os métodos químicos são testes gerais utilizados como ferramenta para análise fitoquímica, entre estes, podemos citar os testes indicativos para presença de flavonoides, óleos essenciais, alcaloides, saponinas, entre outros. Contudo, estes testes apresentam diversos vieses como resultados falso-positivos e a baixa sensibilidade.

O perfil cromatográfico do material vegetal, derivado ou produto acabado, tem sido aceito internacionalmente como meio viável para o controle de qualidade desses produtos.

Técnicas cromatográficas e analíticas que permitam a separação e o isolamento de substâncias de um extrato vegetal são necessárias tanto para o conhecimento da composição química do princípio ativo e/ou do composto tóxico de uma planta, quanto para a determinação de uma substância, ou grupo de substâncias, que sirva como marcadora daquela espécie, para controle qualitativo e quantitativo da droga, propiciando a padronização do material vegetal e produtos relacionados.

Rapidez, alta sensibilidade e seletividade são vantagens dessas técnicas, sendo que o perfil de uma planta traçado pelo uso da cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), por exemplo, pode proporcionar a identificação da presença dos marcadores e também de outros compostos, oferecendo uma caracterização completa da planta ou do produto analisado, além de permitir a distinção entre espécies próximas.

Métodos simples e rápidos de análise são as melhores opções para serem utilizados em laboratórios de regulamentação e laboratórios de controle de qualidade de produtos à base de material vegetal.

Os parâmetros de qualidade a serem avaliados dependem do insumo a ser analisado. A seguir estão relacionadas algumas análises para realização do controle de qualidade e o tipo de amostra em que será realizada a análise.

Quadro 1. Determinações para controle de qualidade de matérias-primas vegetais e fitoterápicos.

O fitoterápico é um medicamento e, portanto, deve atender a todos os requisitos necessários quanto à eficácia, segurança e qualidade. Assim, todas as análises preconizadas para as diversas formas farmacêuticas devem ser realizadas no produto final, de acordo com suas características.

É necessária a determinação da maioria dos constituintes químicos de uma planta para que sejam asseguradas a confiabilidade e repetibilidade dos dados clínicos e farmacológicos, conhecer quais são os compostos ativos e possíveis efeitos adversos, a fim de promover a manutenção da qualidade do material.

O maior desafio no controle de qualidade de fitoterápicos reside na análise de produtos que apresentam mais de dois derivados da droga vegetal.

Entretanto, com o desenvolvimento de métodos analíticos como quantificação de marcadores, identificação de produtos de degradação dificuldades usuais do tipo identificação dos marcadores presentes na forma farmacêutica podem ser reduzidas.

Vale ressaltar que o perfil cromatográfico  será útil na observação das semelhanças e diferenças entre a amostra e o padrão de referência.

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REFERÊNCIAS

ANSEL, H. C.; POPOVICH, N. G.; Jr, L.V. A. Formas farmacêuticas & Sistema de Liberação de Fármacos.9ed. São Paulo: Editora Premier,2013.

GIL, E.S. Controle Físico-Químico de Qualidade de Medicamentos, 2º Ed.

Pharmabooks, 2007.

SIVIERO, A.; DELUNARDO, T.A.; HAVERROTH, M.; OLIVEIRA, L.C.; MENDONÇA, A.M.S. Plantas medicinais em quintais urbanos de Rio Branco, Acre. Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária – Embrapa Acre. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.14, n.4, p.598-610, 2012.

SOUZA-MOREIRA, T. M.; SALGADO, H. R. N.; PIETRO, R. C. L. R.O Brasil no contexto de controle de qualidade de plantas medicinais. Revista Brasileira de Farmacognosia [online]. 2010, v. 20, n. 3 [Acessado 20 Junho 2021], pp. 435-440. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-695X2010000300023>.

Por Sanar

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