Para uma assistência adequada ao tratamento das feridas, primeiro de tudo o profissional deve conhecer as camadas da pele e o seu processo de cicatrização, para então saber como tratá-la. Visto isso, vamos começar?
A pele humana é o maior órgão, reveste e delimita nosso corpo e representa 15% do peso corporal. Exerce funções como: proteção, termorregulação, conservação de líquidos corporais e percepção sensorial. E é composta de três camadas: epiderme, derme e hipoderme.
Conhecendo as camadas…
Epiderme – é a camada mais externa, sem vascularização, formada por várias camadas de células. Tem função de proteger o corpo contra os fatores ambientais.
Derme – é a camada intermediária, situa-se logo abaixo da epiderme, constituída por denso tecido fibroso, fibras de colágeno, reticulares e elásticas. Nela se situam os vasos os nervos e os anexos cutâneos (glândulas sebáceas, sudoríparas e folículos pilosos).
Hipoderme – é a camada mais profunda da pele, também chamada de tecido subcutâneo. Tem como função principal o depósito nutritivo de reserva, funcionando como isolamento térmico e proteção mecânica do organismo contra traumas.
Mas quando essas barreiras falham…
Surgem as feridas, que é qualquer lesão que rompe a continuidade da pele. Pode atingir da epiderme ao tecido subcutâneo (hipoderme), podendo chegar a estruturas profundas. A avaliação e classificação delas é o primeiro passo em direção a um tratamento adequado.
1. Avaliação da Ferida consiste em:
- Classificação da Ferida
- Localização e posição anatômica
- Dimensões
- Aspecto do leito da ferida
- Características do exsudato (aspecto,quantidade, cor e odor)
- Borda e pele perilesional
2. A classificação da ferida consiste em:
- Profundidade:
Superficial ou parcial – que envolvem danos da epiderme, podendo chegar na derme;
Profunda ou Total – que envolvem destruição da epiderme, derme, podendo chegar nos tecidos subcutâneos, músculos e ossos;
Cavitárias – caracterizam-se por perda do tecido muscular e adjacente e a formação de uma cavidade com envolvimento de órgãos ou espaços;
- Evolução:
Feridas Agudas – quando há ruptura da vascularização ( cirúrgicas ou acidentais);
Feridas Crônicas – quando há desvio na sequência do processo cicatricial fisiológico (lesão por pressão – LPP, úlceras em membros inferiores – MMII, feridas congênitas e neoplásicas);
- Presença de Infecção:
Limpa – quando não há processo inflamatório, lesão feita em condições assépticas e isenta de organismos;
Potencialmente – contaminada – têm lesão com tempo inferior a 6 horas entre o trauma e o atendimento e sem contaminação significativa;
Contaminada – têm a lesão com tempo superior a 6 horas entre o trauma e o atendimento e com presença de contaminantes mas sem processo infeccioso local;
Infectada – presença de agente infeccioso local e lesão com evidência de intensa reação inflamatória e destruição de tecidos, podendo haver pus;
- Comprometimento tecidual:
Categoria/Estágio I – não há perda tecidual, atingindo a epiderme (eritema e vermelhidão);
Categoria/Estágio II – perda tecidual envolvendo a epiderme,derme ou ambas (abrasão,flictema ou ulcerações rasas);
Categoria/Estágio III – comprometimento de tecido subcutâneo sem atingir a fáscia muscular;
Categoria/Estágio IV – comprometimento do tecido muscular e adjacentes,como tendões,cartilagens e ossos;
- Características do Leito:
Granulação – de aspecto vermelho vivo, brilhante,ricamente vascularizado, úmido e sangra com facilidade;
Epitelização – é o processo de recobrimento epidérmico e apresenta – se com coloração rósea e frágil;
Necrosado – presença de crosta preta/dura, firmemente aderida. Ou presença de crosta preta/amolecida cinzenta ou amarelada, fina ou espessa que se desprende ou não do leito da lesão;
Desvitalizado – tecido de coloração amarela ou branca, que adere ao leito da ferida e se apresenta como cordões ou crostas grossas;
- Características e volume do exsudato: Volume mínimo, moderado ou intenso, podendo ser seroso, sanguinolento, purulento e pio – sanguinolento;
- Borda e Região Perilesional: bordas regulares, irregulares, íntegra, necrosada e friável. E observar a região quanto hiperemia, ressecamento e maceração.
As feridas…
- Dermatite Associada à Incontinência (DAI) – é uma manifestação clínica de lesões de pele associados à umidade, comum em pacientes com incontinência fecal e/ou urinária. É uma inflamação da pele na região perineal, perigenital, perianal e adjacências, provenientes do contato com urina ou fezes. São lesões caracterizadas por erupções cutâneas, erosão da epiderme e aparência maceradas;
- Cirúrgicas – Durante o processo de cicatrização podem apresentar complicações como, deiscência, infecções e hematomas. Podendo resultar com exsudato drenado através da incisão;
- Neoplásicas -É originada pela quebra da integridade da pele devido à infiltração de células malignas. Isso se dá em decorrências da proliferação celular descontrolada. Esse processo compreende três eventos: crescimento do tumor, neovascularização e invasão da membrana basal das células saudáveis. Tendo como principais características, necrose, infecção, muita exsudação, sangramento capilar e odor ativo;
- Úlceras Vasculogênicas -São feridas crônicas de membros inferiores(MMII) tais como, venosas, arteriais, mista( arterial e venosa) e neuropáticas(em decorrência de algumas patologias de base – hanseníase, diabetes mellitus, alcoolismo e outros.);
- Lesão Por Pressão – É uma área de trauma tecidual causada por pressão contínua e prolongada, excedendo a pressão capilar normal, aplicada à pele e tecidos adjacentes provocando uma isquemia que pode levar à morte celular.
Geralmente sobre uma proeminência óssea ou relacionada ao uso de dispositivos médicos. As lesões por pressão são categorizadas para indicar a extensão do dano causado na pele e a profundidade acometida. Sendo elas:
A. Estágio I: Caracteriza – se por pele intacta com rubor não branqueável, geralmente sobre proeminência óssea. A área pode estar dolorosa, dura, mole, mais quente ou mais fria comparado aos tecidos adjacentes;
B. Estágio II:perda parcial da espessura da derme que se apresenta como uma ferida superficial com leito vermelho – rosa sem tecido desvitalizado, podendo apresentar como flictema fechada ou aberta preenchida por líquido seroso;
C. Estágio III:perda total da espessura dos tecidos.O tecido adiposo subcutâneo pode ser visível, mas os ossos, tendões ou músculos não estão expostos.
D. Estágio IV:perda total da espessura dos tecidos com exposição óssea, dos tendões ou dos músculos.Em algumas partes do leito da ferida,pode aparecer tecido desvitalizado ou necrose.
E. Não Classificáveis:perda total da espessura dos tecidos, na qual a base da lesão está coberta por tecidos desvitalizados e/ou necróticos no leito da ferida.
Depois de entendermos e conhecermos todo o processo que uma pele, com sua barreira rompida acidentalmente ou intencionalmente sofre, vamos saber quais os métodos utilizados para favorecer essa cicatrização.
Com esse breve caminhar pelo conhecimento e desenvolvimento da pele, chegamos ao fim com o tratamento e as devidas coberturas utilizadas. Mas como a ciência e a saúde estão sempre em constante evolução, fiquemos atentos a novos tratamentos que surgem no mercado para benefício de um tratamento cada vez mais eficaz e auxiliar a cicatrização de forma não tão prolongada.E até o próximo estudo!!
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Referências:
- Brasil,Ministério da Saúde.Manual de Condutas para Úlceras Neurotróficas e Traumáticas,2002.( Séries J. Cadernos de Reabilitação e Hanseníase,nº2).Disponível em :https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_feridas_final.pdf
- More L.F et al .Protocolo de Cuidados de Feridas.Prefeitura Municipal de Florianópolis,2008.Disponível em: https://www.saudedireta.com.br/docsupload/134049915626_10_2009_10.46.46.f3edcb3b301c541c121c7786c676685d.pdf
- Cunha C.V;Ferreira D. Nascimento D.;Felix F.; Cunha P.; Penna L.H.G.Artigo de Revisão – Dermatite Associada à incontinência em Idosos:Caracterização,prevenção e tratamento. Vol. 13. nº 3, 2015.Disponível em : https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/218
- Brasil,Ministério da Saúde.Terapia por Pressão Subatmosférica (VAC) em Lesões Traumáticas Agudas Extensas,2013.Disponível em :http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2014/fevereiro/03/Relatorio-VAC-CP.pdf