Diagnóstico de enfermagem em casos de COVID-19 | Colunista

O Processo de Enfermagem é uma ferramenta intelectual do enfermeiro, norteador do raciocínio clínico e na tomada de decisão diagnóstica, de resultados e de intervenções. É composto em cinco etapas inter-relacionadas: coleta de dados ou histórico de enfermagem; diagnóstico de enfermagem; planejamento da assistência de enfermagem; implementação; e avaliação de enfermagem (1).

A etapa do diagnóstico de enfermagem – DE, requer do profissional um olhar apurado das respostas humanas a problemas de saúde e/ou processos de vida de um indivíduo, família, grupo ou comunidade, na qual são a preocupação central dos cuidados de enfermagem. A partir da análise dessas respostas, o enfermeiro utiliza a taxonomia de diagnóstico de enfermagem da NANDA International, Inc. (NANDA-I).

O DE pode ter seu foco em um problema, risco potencial ou estado de promoção à saúde. Sua elaboração depende de uma boa coleta de dados, levantamento do histórico do paciente, exame físico minucioso e a reavaliação constante do DE validado (2).

São vários os fatores para escolher um DE, depende da avaliação do indivíduo e de sua situação em saúde, das características definidoras, condições associadas e de estabelecer a existência de fatores relacionados (2).

Diagnóstico de Enfermagem – COVID-19

Estudos indicam que 40% dos casos de COVID-19 desenvolvem sintomas leves, 40% moderados, 15% graves e 5% quadro crítico apresentando uma ou mais complicações. As principais complicações são: insuficiência de múltiplos órgãos (respiratório, renal, cardíaco, hepático), distúrbios de coagulação e tromboembolismo, sepse e choque séptico, acidente vascular cerebral, entre outros. Além das complicações, o paciente pode desenvolver sequelas motora, fisiológica, neurológica, psicológica e emocional (3).

Os diagnósticos de enfermagem do NANDA-I descritos abaixo, foram analisados individualmente a partir de indicadores (características definidoras – CD, fatores relacionados – FR, condições associadas – CA) e sua consonância com casos de infecção por SARS COV-2 – COVID-19. Para facilitar o entendimento e sua aplicabilidade, os diagnósticos de enfermagem foram separados em GRUPOS, como:

  • GRUPO 1: POPULAÇÃO EM GERAL – aplicado a população como um todo, que apresente algum dos indicadores, gerados pela pandemia.
  • GRUPO 2: ISOLAMENTO SOCIAL – devido o controle da disseminação do coronavírus, foi implantado como medida de segurança o isolamento social, no qual gerou respostas no indivíduo/ sociedade.
  • GRUPO 3: COVID-19 SINAIS E SINTOMAS – aplicado ao indivíduo que apresente sinais e sintomas específicos a infecção da COVID-19, que estejam relacionados aos indicadores apresentados.
  • GRUPO 4: COMORBIDADES ASSOCIADAS – aplicado ao indivíduo que possuem diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial sistêmica associadas com a infecção do coronavírus.
  • GRUPO 5: COMPLICAÇÕES – aplicado ao indivíduo com COVID-19 que desenvolveu ou possa desenvolver alguma complicação por conta do coronavírus.

GRUPO 1: POPULAÇÃO GERAL

  • DE: Ansiedade (2).

Sentimento vago e incômodo de desconforto ou temor ou de apreensão causado pela antecipação de perigo. Evidenciado pela preocupação em razão de mudança de eventos na vida, como com a pandemia da COVID-19.

CD: Preocupações em razão de mudança em eventos da vida; medo.
FR: Contágio interpessoal; Ameaça de morte.

  • DE: Comportamento de saúde propenso a risco (2).

Indivíduos que recusam atender às medidas preventivas contra a COVID-19.

CD: Falha em agir de forma a prevenir problemas de saúde.
FR: Percepção negativa da estratégia recomendada de cuidados de saúde.

  • DE: Controle ineficaz da saúde (2).

Indivíduos que não conseguem manter o controle da saúde, seja por questões pessoais, sociais e/ou econômicas.

CD: Dificuldade com o regime prescrito, entre outras.
FR: Suscetibilidade percebida, entre outras.

  • DE: Proteção ineficaz (2).

Diminuição na capacidade de se proteger de ameaças, como o COVID-19.

CD: Deficiência na imunidade; Dispneia; Tosse.

  • DE: Risco de infecção (2).

Suscetibilidade a invasão e multiplicação de organismos patogênicos que pode comprometer a saúde, como o COVID-19.

FR: Conhecimento insuficiente para evitar exposição a patógenos.
CA: Imunossupressão.
População de risco: Exposição a surto de doença.

  • DE: Saúde deficiente da comunidade (2).

Presença de um ou mais problemas de saúde ou fatores que impedem o bem-estar ou aumentam o risco de problemas de saúde vivenciados por um grupo, como o COVID-19.

CD: Problema de saúde vivenciado por grupos ou populações, entre outras.

GRUPO 2: ISOLAMENTO SOCIAL

  • DE: Síndrome do idoso frágil ou Risco do Idoso Frágil (2).

Isolamento social da pessoa idosa, por ser do grupo de risco para infecção do COVID-19.

CD: Isolamento.
FR: Isolamento social.

  • DE: Síndrome do estresse por mudança ou Risco de síndrome do estresse por mudança (2).

Estresse por mudanças oriundas da pandemia da COVID-19.

CD: Distanciamento; medo.
FR: Isolamento social.

GRUPO 3: COVID-19 – SINAIS E SINTOMAS

  • DE: Desobstrução ineficaz das vias aéreas (2).

Incapacidade de eliminar secreções ou obstruções do trato respiratório para manter a via aérea desobstruída, em casos de COVID-19.

CD: Alteração na frequência respiratória; Alteração no padrão respiratório; Ausência de tosse; Cianose; Dificuldade para verbalizar; Dispneia; Escarro em excesso; Ortopneia; Ruídos adventícios respiratórios; Sons respiratórios diminuídos; Tosse ineficaz.
CA: Infecção.

  • DE: Dor aguda (2).

Sensação sensorial de dor em menos de três meses.

CD: Autorrelato da intensidade usando escala padronizada da dor; entre outras.
FR: Agente biológico lesivo.

  • DE: Padrão respiratório ineficaz (2).

Inspiração e/ou expiração que não proporciona ventilação adequada.

CD: Assumir posição de três pontos (sentado, uma mão em cada joelho, inclinação para a frente); Batimento de asa do nariz; Dispneia; Fase de expiração prolongada; Ortopneia; Padrão respiratório anormal; Taquipneia; Uso da musculatura acessória para respirar; e entre outros.
FR: Fadiga da musculatura respiratória.

  • DE: Troca de gases prejudicada (2).

Excesso ou déficit na oxigenação e/ou na eliminação de dióxido de carbono na membrana alveolocapilar.

CD: Batimento de asa do nariz; Dispneia; Gasometria arterial anormal; Hipercapnia; Hipoxemia; Hipóxia; Padrão respiratório anormal; e entre outros.
CA: Alterações na membrana alveolocapilar; Desequilíbrio na relação ventilação-perfusão.

  • DE: Intolerância à atividade ou Risco de intolerância a atividade (2).

Energia fisiológica ou psicológica insuficiente para suportar ou completar as atividades diárias requeridas ou desejadas.

CD: Desconforto ao esforço; Dispneia ao esforço.

FR: Desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio.

CA: Condição respiratória.

  • DE: Ventilação espontânea prejudicada (2).

Incapacidade de iniciar e/ou manter respiração independente que seja adequada para sustentação da vida.

CA: Diminuição na saturação arterial de oxigênio (SaO2); Dispneia; Uso aumentado da musculatura acessória; Volume corrente diminuído; e entre outros.
FR: Fadiga da musculatura respiratória.

  • DE: Hipertermia (2).

Temperatura corporal central acima dos parâmetros diurnos normais devido a falha na termorregulação.

FR: Doença.

  • DE: Resposta disfuncional ao desmame ventilatório (2).

Incapacidade de ajustar-se a níveis diminuídos de suporte ventilatório mecânico que interrompe e prolonga o processo de desmame, nos casos de indivíduos com COVID-19 que evoluem para o uso de ventilação mecânica.

CA: Desconforto respiratório; Percepção da necessidade aumentada de oxigênio; Aumento moderado e/ ou significativo da frequência respiratória acima dos valores basais; Diminuição da entrada de ar à ausculta; e entre outros.
FR: Desobstrução ineficaz das vias aéreas; Conhecimento insuficiente sobre o processo de desmame; Episódios não controlados de demanda energética; entre outros.
CA: História de dependência do ventilador por > 4 dias ou de tentativas de desmame malsucedidas.

GRUPO 4: COMORBIDADES ASSOCIADAS

  • DE: Risco de Glicemia Instável (2).

Suscetibilidade à variação dos níveis séricos de glicose em relação à faixa normal que pode comprometer a saúde, no caso de indivíduos com Diabetes Mellitus associadas ao COVID-19.

População de risco: Estado de saúde física comprometido.

  • DE: Risco de pressão arterial instável (2).

Suscetibilidade a forças oscilantes do fluxo sanguíneo pelos vasos arteriais que pode comprometer a saúde, no caso de indivíduos com Hipertensão Arterial Sistêmica associadas ao COVID-19.

GRUPO 5: COMPLICAÇÕES

  • DE: Risco de função hepática prejudicada (2).

Suscetibilidade à diminuição na função hepática que pode comprometer a saúde, pela infecção do COVID-19.

CA: Infecção viral.

  • DE: Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída (2).

Suscetibilidade a uma redução na circulação cardíaca (coronariana) que pode comprometer a saúde, devido complicações pela infecção do COVID-19.

CA: Hipovolemia; Hipoxemia.

  • DE: Risco de perfusão tissular cerebral ineficaz (2).

Suscetibilidade a uma redução na circulação do tecido cerebral que pode comprometer a saúde, devido complicações pela infecção do COVID-19.

Considerações finais

Não se deve padronizar a escolha segura de um diagnóstico de enfermagem baseado em um diagnóstico médico (1). Importante ressaltar que para eleger um diagnóstico ideal, requer do profissional uma análise individual e integral do indivíduo, grupo, família ou comunidade, avaliando as particularidades de cada caso. Sua prática no dia a dia profissional norteia um plano de cuidado de enfermagem baseado na ciência e na melhoria contínua, garantindo a qualidade da assistência prestada.

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Referências

  1. Processo de enfermagem: guia para a prática / Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo; Alba Lúcia B.L. de Barros… [et al.] – São Paulo: COREN-SP, 2015. 113 p.
  2. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020 [recurso eletrônico] / [NANDA International]; tradução: Regina Machado Garcez; revisão técnica: Alba Lucia Bottura Leite de Barros… [et al.]. – 11. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2018. 1187 p.
  3. Organização Pan-americana de Saúde, Brasil. Alerta Epidemiológico Complicações e sequelas da COVID-19. [Internet]. 2021 [consultado em 26 jun. 2021]. Disponível em: https://bit.ly/3jGUlzg

Por Sanar

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