Os transtornos de ansiedade são os quadros psicológicos mais prevalentes na população brasileira, tanto em adultos como também em crianças. E suas causas são variadas, como: genéticas, cognitivas, social, psicológica, ambientais, dentre outras.
São variadas as situações adversas que podem desencadear esses transtornos, como: traumas, estresse, sobrecarga, bullying, abusos (nas suas diversas formas), fatores emocionais e de personalidade, contexto social etc.
A ansiedade está presente na vida de todos e ela pode ser descrita como um grande mal-estar físico e psíquico, derivado de uma antecipação de algo desconhecido ou estranho. É um sentimento vago e desagradável de preocupação, nervosismo e desconforto relacionado a um evento iminente e/ou perigoso, ou uma antecipação de perigo. Ela se diferencia do medo. Enquanto o medo é a resposta emocional a uma ameaça iminente ou percebida, a ansiedade é a antecipação de uma ameaça futura.
O medo está frequentemente associado a um período de excitabilidade aumentada do sistema nervoso autônomo, necessária para luta ou fuga, e incluí pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga. Já a ansiedade está mais frequentemente associada a tensão muscular e vigilância, em preparação para um perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva.
A ansiedade nada mais é que uma reação natural do nosso corpo. É um mecanismo de sobrevivência para lidarmos com situações de perigo. Portanto, é normal se sentir ansioso frente a situações em que precisamos tomar decisões importantes, ou em situações de estresse e/ou alta pressão.
A ansiedade e o medo podem ser considerados patológicos quando estes são persistentes, exagerados e desproporcionais em relação ao estímulo/situação. De maneira prática podemos diferenciar ansiedade adaptativa da ansiedade patológica, avaliando se a reação ansiosa está ou não relacionada ao estímulo do momento, se ela é de curta ou longa duração, e se ela é autolimitada (tem um decurso específico e limitado, com começo, meio e fim).
Os transtornos ansiosos são aqueles em que nos quadros clínicos os sintomas são primários, ou seja, não são derivados ou mais bem explicados por outras condições psiquiátricas (p. ex. transtornos do desenvolvimento, psicoses, depressão etc.), outras condições médicas, ou por efeitos fisiológicos do uso de substâncias/medicamentos.
Os Principais Tipos de Transtornos de Ansiedade
Transtorno de Ansiedade Generalizada
As características essenciais desse transtorno são: ansiedade e preocupação excessivas acerca de diversos eventos ou atividades cotidianas. A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à probabilidade real ou ao impacto do evento antecipado. Ocorrendo na maioria dos dias por pelo menos seis meses e em diversos contextos.
Essas características geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial do indivíduo, trazendo prejuízo relacionado ao funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes de sua vida. Os sintomas são:
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele.
2. Fatigabilidade.
3. Dificuldade em concentrar-se ou sensações de “branco” na mente.
4. Irritabilidade.
5. Tensão muscular.
6. Perturbação do sono (dificuldade em conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório e inquieto).
Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social)
Esse transtorno tem como características essenciais o medo persistente e intenso de situações em que a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa. A ansiedade pode ser expressa por choro, “acessos de raiva” ou afastamento de situações sociais nas quais não haja pessoas familiares. O medo, ansiedade ou esquiva é persistente, geralmente durando mais de seis meses e causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. São sintomas desse quadro:
- Preocupação desproporcional sobre as situações sociais e cotidianas.
- O medo ou ansiedade desproporcionais à ameaça real apresentada pela situação social e o contexto sociocultural.
- Preocupação excessiva e dificuldade em manter interações sociais, ser observado, ser avaliado como, por exemplo: manter uma conversa, encontrar pessoas que não são familiares, ser observado comendo ou bebendo, proferir palestras etc.
- As situações sociais quase sempre provocam medo ou ansiedade. E são evitadas ou suportadas com intenso medo ou ansiedade.
Transtorno específico de Fobia:
As características essenciais desse transtorno é que o medo ou ansiedade está limitado à presença de uma situação ou objeto particular (p. ex., voar, alturas, animais, tomar uma injeção, ver sangue) que pode ser denominado estímulo fóbico.
Para o diagnóstico de fobia específica, a resposta de medo ou ansiedade devem ser diferentes dos medos normais e passageiros que normalmente ocorrem com a maioria das pessoas. Eles se constituem por reações excessiva e desadaptativa, que fogem do controle do indivíduo, levando a pessoa a reações de fuga.
O medo experienciado pode ocorrer com a antecipação da presença ou na presença real do objeto ou situação. Além disso, o medo ou ansiedade pode assumir a forma de um ataque de pânico. Essas características geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial do indivíduo, trazendo prejuízo relacionado ao funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes de sua vida. Os sintomas são:
- Medo ou ansiedade intensos acerca de um objeto ou situação específica.
- Resposta de medo e ansiedade desproporcionais frente ao objeto ou situação fóbica.
- Evitação ativa do objeto ou situação fóbica ou suportado pelo individuo com intensa ansiedade ou sofrimento.
Transtorno de pânico:
Esse transtorno se refere a ataques de pânico recorrentes e inesperados. Que podem ocorrer com uma ocorrência moderada (p.ex. um por semana), frequentes (p.ex. todos os dias) ou pouco frequentes (p.ex. dois por mês). Um ataque é caracterizado por um surto abrupto de medo ou desconforto intenso que alcança um pico em um minuto e durante o qual ocorre quatro (ou mais) dos seguintes sintomas:
1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia.
2. Sudorese.
3. Tremores ou abalos.
4. Sensações de falta de ar ou sufocamento.
5. Sensações de asfixia.
6. Dor ou desconforto torácico.
7. Náusea ou desconforto abdominal.
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem ou desmaio.
9. Calafrios ou ondas de calor.
10. Parestesias (anestesia ou sensações de formigamento).
11. Desrealização (sensações de irrealidade) ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo).
12. Medo de perder o controle ou “enlouquecer”.
13. Medo de morrer.
Indivíduos com esse transtorno também apresentam característica como: Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico e suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco, “enlouquecer”) e comportamentos com a finalidade de evitar ter ataques de pânico, como a esquiva de situações desconhecidas.
Tratamentos e intervenções
Os tratamentos para os transtornos de ansiedade vão variar de acordo com as especificidades de cada tipo de transtorno e singularidade de cada indivíduo. No geral, como os fatores psicológicos, cognitivos, ambientais e sociais têm um papel elementar na estrutura e formação dos transtornos de ansiedade, as intervenções psicoterápicas são prioritárias no tratamento desses transtornos.
Dentro do tratamento psicoterápico busca-se desenvolver habilidades cognitivas que permitam ao paciente lidar melhor com algumas características dos transtornos de ansiedade, como: avaliação negativa e catastrófica de eventos, baixa tolerância com situações ambíguas, pouca confiança na solução de problemas, excessiva avaliação de alternativas antes de tomar decisões, entre outros.
O psicoterapeuta deve procurar formas alternativas de abordar as dificuldades psicológicas e ambientais de cada indivíduo, como, por exemplo: orientação, aconselhamento, técnicas de relaxamento e mindfulness, clarificação, além de psicoeducação e outras orientações de saúde. Cabe a esse profissional elaborar o melhor plano de tratamento psicoterápico de acordo com as necessidades de cada paciente.
O tratamento farmacológico deve ser considerado em determinadas circunstâncias, a partir da avaliação do grau de sofrimento do indivíduo e da interferência dos sintomas na vida do paciente. O médico deve avaliar a previsão de uso do medicamento, ou seja, se é necessário o uso do medicamento por curto ou longo período.
Se o período for curto (menor que 12 semanas) geralmente se utiliza um benzodiazepínico, porém se houver a possibilidade de uso mais prolongado deve pensar em uma alternativa terapêutica. Cabendo a esse profissional escolher a melhor alternativa farmacológica de acordo com a necessidade e sofrimento de cada indivíduo. Porém vale ressaltar que apenas intervenções medicamentosas não devem ser a única opção terapêutica.
Além dos tratamentos psicoterápico e medicamentoso, as intervenções no estilo de vida do paciente são essenciais, como: alimentação saudável, prática de exercícios físicos, sono regular, evitação ou cessação do tabagismo e do consumo de cafeína.
Essas intervenções estão associadas a melhoras significativas na qualidade de vida e no auxílio da redução de sintomas ansiosos. Logo, é de extrema importância que o paciente seja encorajado a adotar esse estilo de vida mais saudável, e quando necessário encaminhado para os profissionais competentes para auxiliá-lo a adotar esse estilo de vida, para que se possa potencializar o tratamento para uma maior e mais rápida redução dos sintomas.
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Referências
American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.
Castillo, A. R. G., Recondo, R., Asbahr, F. R., & Manfro, G. G. (2000). Transtornos de ansiedade. Brazilian Journal of Psychiatry, 22, 20-23.
Psiquiatria, I. (2017). Características básicas do transtorno de ansiedade generalizada. Medicina (Ribeirão Preto, online), 50(Supl 1), 51-5.