Então finalmente você começou o seu curso, está feliz e cheio (a) de expectativas com essa nova jornada que se inicia. Mas com a alegria e a expectativa se misturam sentimentos de ansiedade e incerteza, e até mesmo medo pois a jornada só está no início.
Acredito que para nos tornarmos psicólogos (as), temos que pensar sobre o que nos levou a escolher esse curso em específico, porque não engenharia ou direito, ou fisioterapia etc.
A escolha da profissão está intrinsecamente relacionada com nossa história de vida, e isso envolve nossa personalidade, nossos conflitos, nossa visão de mundo, e o grande desejo de provocar transformações em nós mesmos e no mundo. Como diz Bohoslavsky, (1997) nós escolhemos a profissão como uma reparação do nosso objeto interior danificado”.
Aludindo à frase de Bohoslavsky associo ao mito de Quíron, o cuidador ferido. Resumidamente, Quíron tinha uma ferida que não conseguia curar, e em sua jornada procurando sua cura, pelo caminho se compadecia de quem estava ferido pois tinha empatia e entedia a sua dor ajudando então a curar várias pessoas.
Esse mito é uma boa analogia à frase de Bohoslavsk citada acima. Muito dos (as) psicólogos (as) se identificam com esse mito, mas esse mito é só pra te ajudar a refletir um pouco sobre o porquê você escolheu essa profissão.
No decorrer do curso, percebi que estar, mesmo que dedicada na sala de aula não era o suficiente para construir bases mais sólidas para a minha carreira. Se você percebe o mesmo e quer ir além da sala de aula já é um bom começo.
Listarei aqui algumas reflexões e dicas práticas que percebi durante a graduação e que estão fazendo toda a diferença para o meu início de carreira.
Muitas vezes nos confundimos sobre o que é realmente importante para desenvolver uma boa maneira de construir um caminho eficaz para o alcance dos nossos objetivos. Para isso, é necessário entender e discernir o que parece ser o mais óbvio, versos o que realmente temos que desenvolver, para que tenhamos constância e consistência nesse caminho:
Resiliência x Vontade
Uma das coisas que mais ouvi no curso de psicologia é que a vida é multifacetada, há vários aspectos internos e externos que temos que lidar. E sim, no curso não foi uma experiência diferente pois ele envolveu várias faces da minha vida. Percebi então que você pode se organizar, se planejar, mas tentar controlar o que vai acontecer só trará mais ansiedade e frustração frente aos atritos da vida.
Vou contar só um pouquinho da minha jornada. Na graduação engravidei, não parei, infelizmente meu filho faleceu depois de 16 dias de nascido, e aí como continuar com essa dor indizível? Aprendi que a resiliência não é só uma palavrinha bonita para textos, mas apliquei ela na prática.
Segundo a Psicologia Positiva para desenvolver a resiliência, é necessário: atribuir sentido à adversidade; ter um olhar mais positivo; transcendência e espiritualidade; ter mais flexibilidade; ter mais clareza; se expressar emocionalmente; colaborar na resolução de problemas.
Então, não tente controlar o que acontecerá, se planeje sim, mas desenvolva o seu autoconhecimento para lidar com adversidades e desenvolver também resiliência para continuar o caminho apesar dos obstáculos.
Vontade é um poder impulsionador, mas não conte com ela o tempo todo pois ela é falha, desenvolva resiliência pois assim haverá mais probabilidade de você continuar apesar de estar sem vontade.
Sonho x Fantasia
Muitas vezes confundimos esses dois, o sonho nos indica uma direção, a fantasia nos tira da direção, mas como isso acontece? O sonho tem muito mais a ver com você, e o que você pode fazer para alcançá-lo. É focar naquilo que está no seu controle e fazer.
A fantasia te coloca em um não lugar, aí você pode acabar se comparando, se achando muito distante para alcançar a realização desse sonho, se sente incapaz e sem confiança em si mesmo.
Para ficar mais claro, se você usa a sua imaginação para devaneios que te aliviem momentaneamente de estresse de coisas que você tem que fazer, isso é fantasiar. Agora, se você imagina coisas e em imaginar cria caminhos que te possibilitem alcançar objetivos, então isso é sonhar. Sonhe, mas de uma forma que te possibilite criar condições para a realização desse sonho.
Ânimo x Disciplina
O que mais acontece no decorrer da graduação é o desânimo. Gostamos do que fazemos? Sim, queremos aprender mais e nos formar? Sim! Mas isso não é o suficiente. O ânimo e a motivação têm relação com o prazer e felicidade.
O que acontece muitas vezes, é que ficamos mal acostumados (as) com prazeres imediatos e procrastinamos o que realmente precisa ser feito no momento, pois tal tarefa não nos dará o resultado ou sensação de prazer imediato.
Vale destacar que temos que estar atentos(as) a essas formas imediatas de prazer, como ficar olhando redes sociais, maratonar filmes ou séries na Netflix, etc.
Observe então que não podemos contar só com motivação para levar a graduação adiante da melhor forma. O que é mais eficaz então é desenvolver disciplina. Disciplina resumidamente é fazer algo mesmo quando não se está com vontade.
É traçar o planejamento do dia, e seguir à risca, sem pensar se está com vontade ou não. Fazer só o que tem vontade é agir somente pela emoção, e essa não é uma forma segura de alcançar objetivos.
Muitas vezes queremos estar motivados para fazer algo, mas na verdade, é fazendo que essa motivação pode ser ativada. Então, na maioria das vezes não é se motivar para fazer, é fazer para se motivar, nunca esqueça disso.
Comodismo x Protagonismo
Tá, mas agora digamos que você já definiu bem claramente seu sonho, já aprendeu que a disciplina é a melhor aliada para alcançar os objetivos, como de fato ir além para fazer o diferencial em sua carreira desde a graduação?
Você já deve imaginar que atividades extra curriculares estariam em algum lugar nesse texto, não é? Acertou. Um bom começo já é participar de palestras promovidas na própria faculdade e fora dela que poderá te garantir horas complementares, mais conhecimento e certificados para você.
Se na sua faculdade tem liga estudantil, procure saber como entrar, é um ótimo campo de conhecimento e atuação. Se não tem, quem sabe você seja o (a) pioneiro (a) e inicia uma?
Há estágios voluntários também que podem agregar de forma inimaginável em seu currículo, pode também te direcionar em qual área de atuação você vai exercer, e fazer toda a diferença em seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Tem também a empresa júnior, nem todas as faculdades possuem. A minha não tinha, então eu me juntei com alguns colegas e em plena crise de pandemia nós criamos uma empresa júnior.
Uma Empresa Júnior é uma empresa sem fins lucrativos, visa fins educacionais. É criada e organizada por alunos de graduação de um determinado curso.
No curso de psicologia, podem ser desenvolvidos serviços de psicologia organizacional por exemplo, como recrutamento seleção, clima organizacional. Esses serviços podem ser vendidos para pequenas empresas por valores abaixo do mercado.
A escolha de serviços a serem prestados fica à disposição dos alunos integrantes da empresa júnior, desde que esteja de acordo com o seu curso de psicologia. Deve ser um serviço que os alunos se sintam mais capazes e confiantes para oferecer e executar.
Se você acha que estudar para tirar notas boas e para boas apresentações de trabalho é o mínimo que você pode fazer, então a empresa júnior é a opção perfeita para você. Você aproxima-se do mercado de trabalho, desenvolve networks, aprende na prática, tem mais visibilidade dentro e fora da faculdade.
Essas são algumas dicas práticas para você analisar e saber com o que mais se identifica no momento.
Sempre estar se atualizando
Para finalizar é importante ressaltar que mesmo ainda na graduação é necessário que você esteja se atualizando sobre os caminhos mais pertinentes para você no cenário em que estamos inseridos.
Sabemos que muita coisa está mudando nesse cenário de pandemia, e com a psicologia não é diferente. Os atendimentos de forma online por exemplo, estão ganhando cada vez mais espaço.
Uma sugestão que dou, é que que você se atualize em como desenvolver o seu trabalho com a ajuda das redes sociais, entendendo mais sobre marketing digital para psicólogos, e as diversas áreas de possibilidades para a atuação do psicólogo.
Se você já escolheu a clínica, é muito bom você procurar saber outras formas em que o (a) psicólogo (a) pode atuar além de atendimento psicoterapêutico, como por exemplo, workshops, minicursos, palestras, escrever ebooks, etc.
E aproveitar já as pesquisas, para estar atualizado nos atendimentos com a demanda da pandemia e todos os danos psicológicos que ela vem causando.
Esses aprendizados, enfrentamentos e iniciativas podem te ajudar a ter bases mais sólidas e com muitas possibilidades para se tornar um(a) profissional com mais vivência e consequentemente, rico (a) em experiências e conhecimentos para estar mais preparados (as) para a atuação de psicólogo(a).
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Referências:
SHIMADA, Milena et.al. A história das cinco fotos preferidas do BBT-Br como processo de simbolização. Scielo. Psicol. clin. vol.25 no.2 Rio de Janeiro jun. 2013.
TORRES, Renata Ferraz. O curador-ferido e a individuação. Pepsic. Junguiana vol.36 no.1 São Paulo jan./jun. 2018.
YUNES, Maria Angela Mattar. PSICOLOGIA POSITIVA E RESILIÊNCIA: O FOCO NO INDIVÍDUO E NA FAMÍLIA. Scielo. 2003.