Urgência odontológica é qualquer problema dentário que precisa ser resolvido imediatamente para salvar um dente, parar um sangramento persistente ou lidar com casos de infecção. Na área odontológica, as urgências normalmente envolvem quadros severos de dor que geram desconforto físico e emocional nos pacientes.
O diagnóstico executado de maneira criteriosa é de fundamental importância para escolha da conduta clínica e resolução do quadro até que o tratamento definitivo seja realizado.
Dependendo das condições de aparecimento da dor, intensidade, localização e duração relatada pelo paciente pode-se inferir o diagnóstico provável.
Dentre os casos que necessitam de urgência no atendimento, um é de grande relevância clínica pode causar danos mais graves se o manejo não for preciso e adequado: as pulpopatias.
A pulpite consiste em uma inflamação dolorosa da polpa dentária, a parte mais interna do dente que contém os nervos e vasos sanguíneos, situada no interior do dente. Sua ocorrência nas maiorias das vezes está relacionada a processos cariosos, podendo ser uma patologia reversível ou irreversível.
A pulpite reversível é por definição uma leve alteração inflamatória da polpa, em fase inicial, em que a reparação tecidual advém uma vez removido o agente desencadeador do processo. Se os irritantes persistem ou aumentam, a inflamação pulpar torna-se de intensidade moderada à severa, o que caracteriza a pulpite irreversível, com ulterior necrose pulpar.
Quanto ao diagnóstico da pulpite reversível, Lopes & Siqueira Junior relataram que é usualmente assintomática, porém ao serem aplicados os recursos semiotécnicos o paciente pode sentir uma dor aguda, rápida, localizada e fugaz, cessando após a remoção do estímulo. Nos testes térmicos com o calor o paciente sente dor tardia a aplicação inicial do estímulo e no exame radiográfico, verifica-se a presença de lesões cariosas ou restaurações extensas, próximas à câmara pulpar.
Sobre a pulpite irreversível, os referidos autores, afirmaram que a mesma é caracterizada por uma inflamação severa, sendo a remoção dos irritantes insuficiente para reverter o quadro. Acometida por um processo inflamatório, a polpa, invariavelmente, progride para a necrose, a qual pode dar-se lenta ou rapidamente.
O teste pelo calor é positivo, exacerbando a dor nos casos sintomáticos. No teste pelo frio pode haver, nos estágios iniciais, resposta positiva, causando alívio nos casos sintomáticos.
Quando o profissional não dispõe de tempo suficiente para realizar o tratamento convencional, a opção de tratamento é realizar apenas o atendimento de urgência para retirar o paciente do quadro de dor aguda presente, e em um momento futuro realizar o tratamento completo cujo portador necessita de assistência imediata.
Embora o tratamento endodôntico deva ser encarado mais sob o ponto de vista cirúrgico, em muitas ocasiões, faz-se necessário o uso de fármacos de ação sistêmica, para contornar problemas que podem surgir na sequência do tratamento, representados por reação inflamatória, dor e infecção, proporcionando maior conforto e segurança ao paciente.
Para Leonardo e Leal ( 998) a terapêutica sistêmica nas pulpites resume-se no uso de analgésicos, para maior conforto do paciente. A preferência recai sobre o paracetamol ou salicilatos; Andrade (1999) recomenda também analgésicos e alerta para a intervenção local parcial ou total dos canais radiculares. Raldi et al (2002) recomenda o uso de analgésicos e anti-inflamatórios nas urgências desta natureza.
Segundo Bramante ( 996); Cruz Filho e Pécora ( 997); Lopes e Siqueira Júnior ( 999); Wannmacher e Ferreira ( 999), nunca é demais chamar a atenção para o fato de que, uma vez que a polpa entrou na fase irreversível, os medicamentos se tornam ineficazes e de nada valerá administrar analgésicos. A conduta correta e eficaz que eliminará a dor do paciente é a abertura do dente.
A medicação sistêmica é um recurso extremamente válido como coadjuvante na terapia endodôntica: no alívio da dor, controle da inflamação e da infecção, principalmente nos quadros agudos das alterações pulpares.
O profissional atualizado necessita ter o bom senso de manter informações sobre estes agentes terapêuticos sempre disponíveis e ter a sabedoria de consultá-las antes de prescrever (SILVA et al, 2000). Sempre atentando a respeito da apresentação, posologia, da forma farmacêutica, indicação e contraindicação e possíveis efeitos adversos.
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia – Procedimentos clínicos e uso de medicamentos nas principais situações na prática odontológica. São Paulo: Artes Médicas, 999.
CUNHA, GEISA L. Medicação sistêmica na prática endodôntica. Estação Científica, UFJF, pág. 1-11.
ESTRELA, C. Ciência endodôntica. São Paulo: Artes Médicas, 2004.
LEONARDI, DENISE P.; GIOVANNI,.ALLAN F.; ALMEIDA, SUSIMARA; SCHRAMM, CELSO A.; FILHO, FLARES B. Alterações pulpares e periapicais. RSBO, v. 8, n°. 4, pág. 47 – 61, Oct- Dec, 2011.
MELO, J. M. S. Dicionário de especialidades farmacêuticas (DEF). 34. ed. Rio de Janeiro: Publicações Científicas Ltda. 2006.
NÓBREGA, F. J.; NÓBREGA,M. Manual de medicamentos habitualmente usados em pediatria. 2. Ed. São Palo: Nestlé/ Nutrição. 2003.
SANTOS, KATIA S. A.; VELOSO, OLGA L. L.; TEMÓTEO, LORENNA M.; BRITO, LÍVIA N. S. Concordância diagnóstica em Endodontia em clínicas odontológicas. Revista Gaúcha Odontologia, Porto Alegre, v. 59, n°. 3, pág. 365-371, Jul./Set., 2011.