Introdução
A fisioterapia se tornou a profissão que mais cresceu durante a pandemia da COVID-19, o que ocorreu devido à falta desses profissionais nas UTIs até então. É preciso lembrar que a fisioterapia tem uma atuação de suma importância na reabilitação pós COVID, uma vez que, devido a diversas sequelas, faz-se necessário esse acompanhamento fisioterapêutico. É necessário, a princípio, compreender a origem da COVID.
Origem da doença
Em dezembro de 2019, a cidade de Wuhan, na província de Hubei na China começou a registrar diversos relatos de casos de pacientes apresentando quadro de pneumonia com origem desconhecida. No mês de janeiro de 2020, no dia 7, as autoridades chinesas confirmaram a identificação de um novo tipo de coronavírus, o qual não tinha sido encontrado anteriormente em seres humanos.
Rapidamente a doença ficou mundialmente conhecida devido ao surgimento em massa de casos relacionados a quadros de pneumonia viral. Dessa forma, em março de 2020 a OMS caracterizou a nova doença como uma pandemia, uma vez que já havia se espalhado para mais de dois continentes de uma maneira epidêmica.
A transmissão do SARS-CoV-2 é predominantemente através de gotículas e contato. Quando o indivíduo é infectado, inicialmente ocorre a replicação primaria no epitélio da mucosa na parte superior do trato respiratório, ou seja, na cavidade nasal e faringe, em seguida ocorre a proliferação no trato respiratório inferior e mucosa gastrointestinal. Por fim, inicia-se uma viremia leve. Poucos casos da infecção são controlados nesse momento, devido a seu caráter assintomático.
Dados Epidemiológicos
Após mais de um ano da declaração de pandemia da COVID-19 pela OMS, a situação ainda continua sob análise dos órgãos de saúde nacionais e mundial. Os dados epidemiológicos mundiais do dia 16 de julho de 2021, mostram um total de 189 milhões de casos confirmados de infecção pelo SARS-CoV-2 e um total de 4,09 milhões de óbitos causados pela doença.
Os dados da difusão da doença no Brasil também são preocupantes: o país tem um total de 19,3 milhões de casos confirmados e mais de 539 mil óbitos.
Quais são as sequelas e atuação da fisioterapia?
Devido aos inúmeros casos presentes do mundo e no Brasil, percebem-se também as consequências e sequelas que são deixadas pela Covid, uma vez que os pacientes não exibem somente sintomas respiratórios, pois se encontram evidências de insuficiência renal, lesão aguda do fígado e coração.
Além disso, brônquios, pulmão, coração, esôfago, rim, estômago, bexiga e íleo são todos vulneráveis ao SARS-CoV-2. Outro aspecto importante são as manifestações neurológicas, como disgeusia em casos mais leves ou, em casos graves, a presença de doença cerebrovascular aguda, alteração de consciência e até o envolvimento musculoesquelético.
Considerando isso, a reabilitação é de suma importância para recuperação logo após a ocorrência de doenças. Em relação à Covid-19, essa reabilitação será de extrema relevância para melhora das condições físicas e cognitivas com o objetivo de diminuir os riscos de incapacidade e morbidade. A atuação do fisioterapeuta é, portanto, fundamental neste momento.
Uma cartilha produzida pelo Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional de Minas Gerais (CREFITO 4-MG) faz observações importantes a respeito da reabilitação pós-covid. O material elaborado indica que as sequelas principais são: “função pulmonar prejudicada, fadiga, fraqueza muscular, limitação da mobilidade e da capacidade de realizar atividades diárias, delírio e alterações cognitivas, desordens mentais e psicológicas”.
Importa verificar, portanto, alguns pontos relevantes sobre a reabilitação do paciente pós-covid.
O que fazer na avaliação física?
- No paciente que apresentar redução da tolerância ao exercício, a redução pode ser avaliada utilizando-se o Teste de Caminhada de 6 minutos.
Para realizar o teste, o paciente deve descansar por 10 minutos e, então, poderá ser medida sua pressão arterial e pulsação. Após esse procedimento, o paciente irá caminhar em um local plano e demarcado com 30 metros de comprimento, o que ocorrerá durante 6 minutos cronometrados. É válido lembrar que o indivíduo deve andar o mais rápido possível, mas sem correr.
Após finalizar, deve-se medir novamente pressão e pulsação e perguntar se o paciente está cansado ou não. Deve-se lembrar também de medir a distância que o paciente andou. Por fim, as aferições de pressão e pulsação devem ocorrer novamente em 7, 8 e 9 minutos depois do término do teste.
- Para paciente que apresenta redução da força muscular esquelética, uma sugestão de avaliação é utilizar dinamômetro manual, teste de força com esfigmomanômetro ou teste de 1RM, conhecido também como teste de força máxima ou repetição máxima.
O teste de 1RM é definido como uma repetição máxima, ou seja, será avaliada a quantidade máxima de peso com o qual o paciente consegue completar determinado movimento, sendo que, estando em seu limite máximo, o avaliado não conseguirá repetir o movimento pela segunda vez.
Para uma breve exemplificação, suponhamos que o teste seja realizado para flexão de membros superiores. Com um halter de 2kg, o paciente consegue realizar o movimento com facilidade; já com o de 4kg, o paciente consegue realizar somente uma vez.
• Com o paciente com redução da flexibilidade, podem-se utilizar três tipos de testes, sendo o teste de dedo ao solo para membros inferiores, teste do banco de Wells para membros inferiores e o teste Backscratch para membros superiores.
Além desses pontos, é importante lembrar do uso do Teste de velocidade de marcha para avaliar mobilidade, e para avaliar alteração de equilíbrio, o uso da Marcha Tandem ou Semi-Tandem e a Escala de Equilíbrio de Berg.
O que pode ter no programa de reabilitação?
Recomenda-se realizar exercícios aeróbicos com aqueles que tiveram algum acometimento cardiopulmonar ou não tenham um bom condicionamento físico, exercícios de fortalecimento muscular aos pacientes que tenham fraqueza muscular e pensar também em exercícios de flexibilidade.
Para o Sistema Respiratório, é importante a realização de exercícios e também treino de força ou resistência para reabilitação de sua musculatura. Por fim, é necessário lembrar a importância dos exercícios de equilíbrio e controle neuromuscular, uma vez que, a depender da sequela, o paciente precisará dessa reabilitação.
A seguir, será explicado como realizar a reabilitação para a parte muscular e neurofuncional dos indivíduos.
Treinamento de força muscular: o treino de força muscular pode ocorrer de três formas diferentes sendo: exercícios ativo-assistidos, ativos livres e resistidos. A indicação é que sempre deve-se começar dos exercícios simples para os mais elaborados, isto é, começar com atividade monoarticulares na cadeia cinética aberta e posteriormente os multiarticulares na cadeia cinética fechada.
Treinamento neurofuncional: durante a avaliação do paciente é necessário compreender quais são seus objetivos com a reabilitação a fim de realizar os procedimentos de acordo com esses objetivos e com a disfunção presente. Pacientes que ficam por longo tempo internados tendem a ficar imobilizados, o que impacta na funcionalidade.
Sendo assim, poderá ser realizada mobilização articular, inibição dos pontos de gatilhos, os quais são chamados de trigger points, e alongamentos, para auxiliar no fato do paciente ter ficado muito tempo imobilizado. É válido lembrar que o alongamento será realizado de acordo com cada paciente, mas poderá começar de forma passiva, depois assistida e por fim o alongamento ativo.
Além disso, poderá ser realizado o treino de marcha e o treino funcional para que o paciente possa aos poucos voltar às tarefas diárias de vida.
O paciente pode realizar exercícios todos os dias?
É sempre de suma importância analisar a condição física de cada paciente, sendo assim os parâmetros ideais são:
• Os pacientes que apresentaram sintomas leves podem realizar os exercícios de 3 a 5 vezes por semana e com duração de 20 a 30 minutos;
• Já para os pacientes que tiveram sintomas acentuados de fadiga, a duração do exercício será diferente, sendo de 2 a 3 vezes por semana e com média de 20 minutos de prática. É válido ressaltar, contudo, que deverá ser feita uma pausa de 2 minutos ou mais de acordo com a necessidade do paciente.
Por fim, vale lembrar que para algumas situações existem contraindicações, sendo elas: pacientes com saturação de oxigênio menor que 80%, frequência cardíaca em repouso sendo menor que 50 e maior que 100 batimentos por minutos, arritmia descontrolada, hipertensão e diabetes não controladas. Portanto, é impreterível realizar uma avaliação completa para manter a segurança do seu paciente.
Conclusão
É notório, pois, que a fisioterapia tem grande importância na reabilitação pós COVID, atuando na parte aeróbica, respiratória, muscular e neurofuncional, sendo que todas têm como objetivo a melhora do paciente. A reabilitação fisioterapêutica visa a devolver a funcionalidade aos pacientes, para que eles possam realizar novamente as atividades de vida diária, com adaptações ou não.
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