Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais
A Lei 13.116 (Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência – Estatuto da Pessoa com Deficiência) no Art. 2º considera a pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial (biopsicossocial), que pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas e é destinada a assegurar e promover, de forma igualitária, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social.
A Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais é uma especialidade com objetivo de prevenção, diagnóstico, tratamento e controle das alterações de ordem bucal de pacientes que tenham alguma alteração no seu sistema biopsicossocial.
A Resolução CFO-116/2012 tem no seu Art. 70º que as áreas de competência para atuação do especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais, incluem:
a) prestar atenção odontológica aos pacientes com distúrbios psíquicos, comportamentais e emocionais;
b) prestar atenção odontológica aos pacientes que apresentam condições físicas ou sistêmicas, incapacitantes temporárias ou definitivas no nível ambulatorial, hospitalar ou domiciliar;
c) aprofundar estudos e prestar atenção aos pacientes que apresentam problemas especiais de saúde com repercussão na boca e estruturas anexas, bem como das doenças bucais que possam ter repercussões sistêmicas; e,
d) inter-relacionamento e participação da equipe multidisciplinar em instituições de saúde, de ensino e de pesquisas.
Baseado nisso, na Odontologia faz parte do grupo dos pacientes com necessidade especial pessoas com alguma situação clínica que necessitem um atendimento odontológico diferenciado e individualizado. Sendo que alguns grupos podem ter condições com maior predisposição para o desenvolvimento de alterações bucais, dentre estes, indivíduos com Síndrome de Down.
O atendimento a pacientes portadores de Síndrome de Down:
Acompanhamento Odontológico:
É importante que seja iniciado no 1° ano de vida com periodicidade anual para o acompanhamento regular da erupção dentária, prevenção de cáries e as alterações gengivais, baseado nas Diretrizes de Atenção à Pessoa com Síndrome de Down.
Segundo PIRELA DE MANZANO, SALAZAR e MANZANO (1999) as alterações mais comuns em pacientes com SD são: Maloclusão (100%), Alteração da morfologia dental (96,77%), Alteração no tamanho (60%), Bruxismo (44,62%) e alterações nas características da gengiva (41,54%)
As alterações do desenvolvimento incluem:
O reduzido desenvolvimento do palato, geralmente pequenos em crianças com síndrome de Down, além de formato de V e ogival aprisionando a comida que pode levar a infecções crônicas. Além disso, esse formato anatômico dificulta o encaixe de aparelhos ortodônticos (caso necessário)
A mandíbula pode projetar-se para fora/anterior levando a um alinhamento do maxilar insatisfatório, com a maxila pequena em relação à mandíbula e que traz prejuízos a oclusão, mastigação e as articulações.
Esse posicionamento alterado da mandíbula, juntamente com a mordida aberta, induzem a respiração bucal, o que contribui para a sensação de boca seca (xerostomia), que promove o crescimento de bactérias e pode levar ao desenvolvimento de de cáries, inflamações gengivais e mau hálito.
Alterações na erupção dentárias tanto dos decíduos quanto dos permanentes, pois nas crianças portadoras de SD a erupção ocorre fora de ordem e de forma atrasada. Pode ser que complete 4/5 anos antes de ter todos os dentes de leite, aos 8/9 anos os dentes permanentes da frente e os primeiros molares podem não terem surgido, os dentes decíduos talvez não esfoliam (caiam), o que leva ao atraso da erupção dos dentes permanentes e, consequentemente, problemas de espaçamento entre os dentes
A hipodontia (falta de dentes) e desenvolvimento de anormalidades nos dentes é uma característica comum em crianças com síndrome de Down.
Os dentes erupcionados são menores em toda sua dimensão, com alterações no formato, como os incisivos conóides. Também pode apresentar hipoplasia do esmalte.
Em relação a hipodontia, dente que mais falta é o incisivo lateral.
Patologias Bucais:
Cáries dentárias: a redução nos índices de cáries dentárias é comum e pode ser explicado pela erupção tardia dos dentes, o que é positivo para esses pacientes.
Já a Periodontite é a condição patológica mais comum em pessoas com síndrome de Down e pode estar relacionada ao comprometimento do sistema imunológico.
O Bruxismo (ranger ou travar os dentes) é frequente e se for mantido por muito tempo pode levar ao desgaste dentário, gerando exposição no complexo dentino-pulpar e dor de dente. O bruxismo pode também acarretar dores de cabeça e dores na mandíbula devido a tensão muscular.
O tratamento mais recomendado para o bruxismo (apesar de nem sempre eficaz) é o uso de uma placa bucal, que pode ser de um material acrílico, mole ou duro. Ela se encaixa nas superfícies de mordida dos dentes superiores ou inferiores.
Assim, é fundamental que o cirurgião-dentista conheça as características orais para promover um atendimento adequado e inclusivo para pacientes com Síndrome de Down, iniciando-se o mais breve possível para que haja o acompanhamento do desenvolvimento individual do paciente, para reduzir as dificuldades encontradas pelas limitações, estimular hábitos de higiene oral para promoção e prevenção de saúde bucal.
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Referências:
PIRELA DE MANZANO, M. Altagracia; SALAZAR, Carmen Rosa; MANZANO, Moisés A. Patología bucal prevalente en niños excepcionales. Acta Odontológica Venezolana, v. 37, n. 3, p. 193-198, 1999.
CIVIL, Casa. Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência (estatuto da pessoa com deficiência). Brasília, 2015.
MOVIMENTO DOWN. Cuidados com a saúde bucal. 2015. Disponível em: http://www.movimentodown.org.br/wp-content/uploads/2015/06/Sa%C3%BAde-Bucal-jun15.pdf
