Impactos do cuidado farmacêutico na farmacoeconomia em âmbito hospitalar | Colunista

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Você sabia que o Cuidado Farmacêutico vai além de melhorar a qualidade vida do paciente? Pois é, hoje falaremos sobre redução de custos com a aplicação do Cuidado Farmacêutico.

Com o avanço da indústria farmacêutica e suas tecnologias, em conjunto com a obsolescência dos laboratórios magistrais, a profissão farmacêutica foi sendo modificada, passando de um mero entregador de medicamentos para o cuidado centrado no paciente, no âmbito da farmácia.

Como resultado dessa insatisfação da profissão farmacêutica, simplificada na entrega de medicamentos, no caso do balcão da farmácia, foi criado, na década de 1960, o movimento “Farmácia Clínica”, formado por estudantes e professores da Universidade de São Francisco nos Estados Unidos, cujo objetivo era aproximar o farmacêutico do paciente e da equipe de saúde, possibilitando o desenvolvimento do acompanhamento farmacoterapêutico (PEREIRA; FREITAS, 2008).

Após esse movimento, vários autores redefiniram o papel do farmacêutico em relação a sua posição diante do paciente no ambiente hospitalar e na atenção primária, culminando, em 1990, o termo “Pharmaceutical Care” introduzido por Hepler e Strand, traduzido para o Brasil como Cuidado Farmacêutico*, apresentando-o como a parte da prática farmacêutica que permite a interação do farmacêutico com o paciente, objetivando o atendimento das suas necessidades relacionadas aos medicamentos (MENEZES, 2000; PEREIRA; FREITAS, 2008).

*Inicialmente, “Pharmaceutica Care” foi traduzido erroneamente como Atenção Farmacêutica pelo Consenso Brasileiro de Atenção Farmacêutica em 2002. Mas, a partir de 2013, houve diversas publicações da área farmacêutica introduzindo o novo termo “Cuidado Farmacêutico” (BATISTA, 2020).

O conceito de Cuidado Farmacêutico do Brasil vai ao encontro com o conceito mais aceito nessa área – do Hepler, Strand – definindo o Cuidado Farmacêutico como um conjunto de ações e serviços realizados pelo profissional farmacêutico levando em consideração as concepções do indivíduo, família, comunidade e equipe de saúde, com foco na prevenção e resolução de problemas de saúde, além da sua promoção, proteção, prevenção de danos e recuperação, incluindo não só a dimensão clínico-assistencial, mas também a técnico-pedagógica do trabalho em saúde (HOSPITAL OSVALDO CRUZ; CONASEMS; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

“Tá, mas como isso está relacionado com a farmacoeconomia?”. Você deve estar se perguntando (Ou não rss)

Cuidado Farmacêutico x Farmacoeconomia

Bom, primeiramente, a farmacoeconomia é um ramo da economia da saúde que geralmente se concentra nos custos e benefícios da terapia medicamentosa. Todas as análises farmacoeconômicas estimam o custo de várias estratégias de intervenção, incluindo consequências para a saúde, consequentemente, auxiliando no processo de tomada de decisão e no direcionamento de investimentos baseados numa distribuição mais racional de recursos (THOMAS et al, 2019; SECOLI et al, 2005).

A crescente demanda da utilização de medicamentos, principalmente associada às práticas de automedicação ou não adesão ao tratamento, teve como consequências o aumento de intervenções médicas, como internações, para tratar problemas de saúde derivados desse uso irracional do medicamento. Assim, percebe-se uma conexão entre os temas de farmacoeconomia e Cuidado Farmacêutico, uma que vez que o cuidado farmacêutico é capaz de aumentar a adesão à terapia medicamentosa, a partir do acompanhamento farmacoterapêutico e educação em saúde, promovendo o uso racional do medicamento, portanto, reduzindo os custos em saúdes derivados desse mau uso do medicamento (BATISTA, 2020; MARTINS, 2009).

Quer exemplos reais da interface entre cuidados farmacêuticos e farmacoeconomia? Bora, lá!!

Mas, antes, vou ressaltar a diferença entre farmácia clínica e cuidado farmacêutico 😊

Farmácia Clínica x Cuidado Farmacêutico

Farmácia Clínica consiste em um conjunto de conhecimentos teórico-práticos necessários para aplicação do Cuidado Farmacêutico centrado no paciente.

De acordo com o consenso definido pelo Hospital Osvaldo Cruz, CONASEMS e Ministério da Saúde (2018), a farmácia clínica é uma ciência da saúde, cuja responsabilidade é assegurar, mediante aplicação de conhecimento e funções relacionados ao cuidado centrado na pessoa, na família e na comunidade, a promoção da saúde, do bem-estar, prevenindo doenças e/ou otimizando o tratamento farmacoterapêutico. O farmacêutico necessita de educação especializada e treinamento estruturado para desenvolver tais atividades.

Ou seja, a Farmácia Clínica é o conhecimento e o Cuidado Farmacêutico é a sua ferramenta com uma lupa focada no paciente.

Agora assim vamos para os exemplos:

De acordo com o estudo desenvolvido por Jourdan, J. P. et al (2017), as intervenções farmacêuticas realizadas durante 6 meses no Centro de Saúde Universitário de Caen na Normandia, França, evitaram cerca de 140 internações hospitalares, impedindo, assim, o gasto de quase € 300.000,00 de despesas públicas com a saúde.

As principais intervenções farmacêuticas, desse estudo, envolveram correções de dosagens e renovação ou descontinuação do medicamento.

Quer outro exemplo? Aqui:

Em consoante com este outro estudo elaborado por Grégori, J. et al (2020), que aconteceu no ambulatório de onco-hematologia na França, em que dois farmacêuticos clínicos foram responsáveis por realizar 1970 intervenções farmacêuticas, principalmente modificando o regime de imunoterapia ou quimioterapia, cuja economia de custos foi de quase € 400.000,00.

Desse modo, esses estudos evidenciaram o impacto benéfico do cuidado farmacêutico na farmacoeconomia. De forma que através das intervenções farmacêuticas, pode-se, por exemplo, otimizar as prescrições médicas, permitindo redução de custos em saúde significadamente.

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Até a próxima publicação

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REFERÊNCIAS:

BATISTA, S. C. M. et al. Polimedicação, Atenção Farmacêutica E Cuidado Farmacêutico. Journal of Biology & Pharmacy and Agricultural Management, v. 16, n. 4, 2020.

DALTON, K.; BYERNE, S. Role of the pharmacist in reducing healthcare costs: current insights. Integr Pharm Res Pract. V. 6: 37–46, 2017.

GRÉGORI, J. et al. Clinical and economic impact of pharmacist interventions in an ambulatory hematology–oncology department. J Oncol Pharm Pract, v. (5):1172-1179, 2020.

HOSPITAL OSVALDO CRUZ; CONASEMS; MINISTÉRIO DA SAÚDE. 1ª Oficina de Alinhamento Conceitual do projeto Atenção Básica capacitação, qualificação dos serviços de Assistência Farmacêutica e integração das práticas de cuidado na equipe de saúde. Brasília, 2018

JOURDAN, J.P. et al. Impact of pharmacist interventions on clinical outcome and cost avoidance in a university teaching hospital. International Journal of Clinical Pharmacy volume 40, pages1474–1481, 2018.

MARTINS, B. P. R. et al. Atenção Farmacêutica E Farmacoeconomia: Uma Revisão De Literatura. Value in Health. Vol. 12, Issue 7, Pages A510-A511, 2009.

MENEZES, E.B.B. Atenção farmacêutica em xeque. Rev. Pharm. Bras., v.22, n. p.28, 2000.

PEREIRA, L.R.L.; FREITAS, O. A evolução da Atenção Farmacêutica e a perspectiva para o Brasil. Revisão. Rev. Bras. Cienc. Farm. 44 (4), 2008.

THOMAS, D.  et al. Pharmacoeconomic Analyses and Modeling. Clinical Pharmacy, Drug Information, Pharmacovigilance, Pharmacoeconomics and Clinical Research, Pages 261-275, 2019.

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