Delirium em UTI: implicações para família e atuação do psicólogo | Colunista

A admissão de um paciente em Unidade de Terapia Intensiva pode ocorrer por diversos fatores. Independente do motivo de admissão a unidade ainda é vista como um tabu pelo paciente e por sua família.

Durante a permanência em UTI o paciente pode apresentar uma alteração cognitiva aguda chamada delirium. Uma das peças-chave do tratamento e manejo de delirium é a presença da familia durante os cuidados críticos. Vamos conhecer esta condição?

O que é o Delirium?

O delirium é uma alteração cognitiva de início agudo e curso flutuante. É uma das alterações mais reportadas durante os cuidados críticos, comumente associado à idade avançada e a desordens neurológicas, sendo também responsável por piores desfechos de internação, além de aumentar o período de cuidados intensos, e por este motivo vem sendo destacado como um problema de saúde pública.

Podemos classificar os quadros de delirium conforme a manifestação psicomotora:  hipoativa (paciente apresenta-se letárgico, com fala arrastada e sonolento); hiperativo (paciente apresenta-se combativo, por vezes agressivo) ou misto (apresenta episódios de letargia facilmente alterados para períodos de agressividade). Os principais sinais e sintomas podem ser observados nas escalas de delirium que vamos falar a seguir.

Como o delirium pode ser diagnosticado?

Existem diversas ferramentas já validadas para o diagnóstico do delirium. No ambiente de UTI as mais utilizadas são as escalas CAM-ICU e ICDSC. Estas escalas são usualmente aplicadas pelos enfermeiros da UTI e não pelo psicólogo da equipe multiprofissional. As escalas são aplicadas ao menos duas vezes ao dia, já que se trata de uma condição de início agudo.

Os principais sinais e sintomas avaliados nestas escalas são: consciência, atenção (alterações na atenção podem indicar delirium), orientação e memória. Para avaliação do delirium também é necessário considerar o nível de consciência por meio das escalas Glasgow ou RASS

O que pode fazer o psicólogo?

O papel do psicólogo engloba a prevenção, tratamento e também ao acompanhamento deste paciente após a alta. Dessa forma o trabalho com delirium em UTI é extensivo do hospital até a clínica psicológica. Em aspectos relacionados a prevenção os órgãos de saúde (OMS, AMIB que você pode acessar nesse link: https://www.amib.org.br/) recomendam a aplicação diária das escalas de delirium. Fatores sociais como a ausência da família, isolamento, vulnerabilidade são elencados como também relacionados ao risco de delirium. 

O psicólogo poderá atuar com a equipe multiprofissional, vindo ao encontro com o que com o que vem sendo descrito como ambiente enriquecido de UTI. Poderá avaliar o paciente, conhecer seu dia a dia, realizar ações como música, videochamadas e encorajar a participação da família no processo terapêutico.

Além disso o psicólogo também pode atuar com a psicoeducação, explicando ao paciente e aos seus familiares o que é o delirium e como pode ser prevenido. Alguns estudos destacam que atividades de orientação espacial e temporal, higiene do sono e acolhimento podem ser estratégias que previnem o delirium. Estas ações podem ser executadas pelo psicólogo hospitalar.

Família e Delirium: O que é preciso saber

O papel da família na prevenção e manejo do delirium vem ganhando destaque em pesquisas nacionais e internacionais. Os órgãos de saúde recomendam que a participação da família no processo de cuidados críticos seja encorajado pela equipe multiprofissional.

Dessa forma a família precisa receber as informações precisas do quadro de saúde do paciente, comparecer as visitas ou vídeo chamadas e também receber orientações sobre as condições de saúde e eventuais complicações. O psicólogo pode realizar aqui a ponte entre paciente, equipe e família agindo como facilitador da comunicação entre estas partes.

Por se tratar de uma alteração cognitiva aguda, pacientes em delirium costumam apresentar alterações na orientação temporal e espacial. Por este motivo é fundamental que o profissional e o estudante de Psicologia compreendam sobre psicopatologia, funções psíquicas e diagnóstico diferencial, visto que o delirium não tem a mesma apresentação clínica do delírio (este ultimo caracterizado por ilusões e alucinações). A família precisa compreender esta diferença e deve ser orientada sobre as consequencias desta alteração para o prognóstico do paciente.

 É comum que a família esteja em um momento de angústia e que queira evitar os detalhes sobre o paciente. O psicólogo deve acolher esta angustia e pode contribuir formulando com a família estratégias de enfrentamento.

O uso de artifícios como objetos pessoais próximos ao leito do paciente, por exemplo, vem sendo descrito como uma das estratégias para enriquecer o ambiente de UTI e transmitir alguma espécie de vínculo com este paciente. A família pode ser responsabilizada em trazer estes objetos.

Em casos onde o paciente possui algum déficit em nível ou qualidade da consciência o familiar pode também informar quais músicas o paciente gostava de ouvir, quais seus horários habituais de sono, alimentação e rotina de trabalho. 

O papel da família é fundamental para que o paciente em delirium apresente remissão dos sintomas, sendo acolhido e orientado. O psicólogo nestes casos possui o papel de identificar, orientar e encaminhar este paciente. Importante mencionar que esta atuação deve acontecer sempre com família, paciente e equipe multiprofissional, caracterizando cuidados integrais e intensivos. 

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Referências:

KOTFIS, Katarzyna; MARRA, Annachiara; ELY, Eugene Wesley. ICU delirium ― a diagnostic and therapeutic challenge in the intensive care unit. Anestezjologia Intensywna Terapia, [S.L.], v. 50, n. 2, p. 160-167, 28 jun. 2018.

MALDONADO, José R.. Delirium pathophysiology: an updated hypothesis of the etiology of acute brain failure. International Journal Of Geriatric Psychiatry, [S.L.], v. 33, n. 11, p. 1428-1457, 26 dez. 2017

ROSA, Regis Goulart; FALAVIGNA, Maicon; SILVA, Daiana Barbosa da; SGANZERLA, Daniel; SANTOS, Mariana Martins Siqueira; KOCHHANN, Renata; MOURA, Rafaela Moraes de; EUGêNIO, Cláudia Severgnini; HAACK, Tarissa da Silva Ribeiro; BARBOSA, Mirceli Goulart. Effect of Flexible Family Visitation on Delirium Among Patients in the Intensive Care Unit. Jama, [S.L.], v. 322, n. 3, p. 216, 16 jul. 2019. 

Por Sanar

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