Diferenças na descarga de peso após sutura de menisco | Colunista

As lesões meniscais fazem parte do dia a dia do fisioterapeuta esportivo, assim como, saber a biomecânica dessas estruturas é essencial para construir um raciocínio clínico correto e eficiente.

Com isso, é interessante a priori falar sobre a anatomia dos meniscos para consequentemente entendermos como é seu funcionamento.

Os meniscos são estruturas bifásicas, ou seja, possuem a fase fluida e a fase sólida, e por esse motivo eles conseguem suportar forças de compressão e de tensão. Sua maior parte é constituída de colágeno tipo I, porém, ainda estão presentes colágenos tipos II, III e V. 

Existem diferenças entre os meniscos em si, no que se refere ao seu formato e as estruturas em volta.

Menisco Medial (MM)

O menisco medial é maior e possui um formato incongruente, sendo o corno posterior maior do que o corno anterior. Além disso, ele é dividido em 5 zonas, são elas:

  • Zona I: raiz anterior  
  • Zona IIa e IIb: anteromedial 
  • Zona III: medial
  • Zona IV: corno posterior
  • Zona V: raiz posterior 

Dentre essas zonas, 2 delas devemos prestar uma maior atenção. Na zona III ou medial, o menisco faz ligação com as fibras profundas do ligamento colateral medial (LCM), isso é importante pois nas lesões de LCA pode existir uma lesão associada de LCM e MM, a chamada tríade infeliz. Além disso, na zona IV ou zona do corno posterior, é onde ocorrem as lesões em rampa do menisco.

Menisco Lateral (ML)

O menisco lateral é mais congruente, então não possui essa disparidade de tamanho entre os cornos. No entanto, ele também possui 5 zonas:

  • Zona I: raiz anterior 
  • Zona II: corno anterior
  • Zona III: área do hiato do poplíteo 
  • Zona IV: ligamentos meniscofemorais 
  • Zona V: raiz posterior 

No caso do menisco lateral, temos que a zona I ou da raiz anterior, que é também o local de inserção do ligamento cruzado anterior (LCA), e a zona IV ou dos ligamentos meniscofemorais, ligamento de Humphrey (anterior) e Wrisberg (posterior), são as zonas mais importantes do ML. Ambos os meniscos permanecem ligados à tíbia pelos ligamentos menisco-tibiais ou coronários.

Agora entrando mais afundo no que se refere a lesão de menisco, temos diversos tipos de lesões, desde lesões mais simples, como um lesão longitudinal,  até lesões mais complexas,  como uma lesão vertical. No entanto, antes, é necessário falar sobre o conceito de “hoop stress”.

Hoop stress

O arranjo das fibras de colágeno mais internas do menisco é ideal para modificar uma força compressiva vertical em uma força de tensão circunferencial, conhecida como hoop stress (Fig 1), e que ocorre da seguinte maneira:

  • Carga compressiva é aplicada no menisco (flecha azul)
  • Tensão circunferencial é criada (linha traçada)
  • Ocorre o hoop stress (flecha preta)

É como se essa força de tensão circunferencial “empurrasse” o menisco contra a sua própria parede, que por sua vez também “empurra” de volta, então no final, essas forças se anulam, o que mantém o menisco estável.

Mas porque isso é tão importante?

É que entendendo esse conceito, você será capaz de entender o porquê em certas lesões de menisco se dá a descarga precoce e em outras não.

Então vamos lá…

Lesão longitudinal vertical 

Esse tipo de lesão (Fig 2) ocorre ao longo do comprimento longitudinal do menisco. Com isso, nos casos em que essa lesão ocorre, a descarga de peso pode ser liberada, pois de acordo com o mecanismo do hoop stress, ao ser imposta uma carga axial vai fazer com que esse foco da lesão se “una”, então a sutura meniscal que o cirurgião fez não vai tensionar.

Lesão vertical radial

Já em lesões radiais (Fig 3) não é possível que ocorra o hoop stress no foco da lesão, então ao receber uma carga compressiva, esse foco da lesão tende a se afastarem, assim podendo gerar uma tensão na sutura e caso essa tensão seja grande e muito precoce, pode ocorrer esse rompimento da sutura e desfazer a cirurgia.

Pra finalizar, teoricamente nesse primeiro tipo de lesão a descarga é precoce e no segundo tipo, a descarga é um pouco prolongada, porém, em relação à descarga de peso, tudo vai depender da orientação médica, porque foi ele quem fez a cirurgia e consequentemente sabe a tensão e o tipo de sutura utilizada nessa lesão.

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Referências 

  • Scott, W. N., & Insall, J. N. (2012). Insall & Scott surgery of the knee. 6th Edição. Philadelphia, PA: Elsevier/Churchill Livingstone.
  • SHERMAN, Seth L. et al. Meniscus Injuries. Clinics In Sports Medicine, [S.L.], v. 39, n. 1, p. 165-183, jan. 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.csm.2019.08.004.
  • LaPrade, R., Arendt, E., Getgood, A. and Faucett, S., 2017. The menisci. 1st ed. Colorado, CO: Springer.

Por Sanar

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