Assistência da enfermagem obstétrica à mulher em ciclo gravídico-puerperal | Colunista

Atuação do Enfermeiro (a) Obstétrico (a):

Através da Resolução N° 0477/2015, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) dispões sobre a atuação do enfermeiro especializado em obstetrícia na assistência às gestantes, parturientes e puérperas.

O profissional possui diversas atribuições relacionadas ao cuidado com a gestante, bem como é respaldado por diversas leis e portarias que regulamentam sua atividade laboral e práticas privativas, como por exemplo a execução de procedimentos como a episiotomia (quando há indicação), episiorrafia, prescrição de medicamentos e solicitação de exames de pré-natal segundo protocolo dos serviços e orientações do Ministério da Saúde.

Assistência no pré-natal de risco habitual:

O serviço do pré-natal se inicia antes mesmo do diagnóstico da gravidez, no período pré-concepcional, onde a mulher realiza o planejamento familiar e recebe as suas primeiras orientações quanto a suplementação alimentar, exames preventivos, utilização do ácido fólico e a elaboração de intervenções para cada necessidade percebida na anamnese. O serviço no risco habitual é fomentado pelas orientações do Caderno de Atenção Básica Pré-natal, acontece nas Unidades Básicas de Saúde de cada Distrito Sanitário.

O Ministério da Saúde preconiza que aconteçam no mínimo 6 consultas de enfermagem obstétrica durante a gestação de risco habitual, nas Unidades Básicas de Saúde. Além disso, é necessária a continuidade do atendimento, na promoção de saúde e prevenção de agravos por meio de atividades de educação em saúde ou rodas de conversa com as gestantes sobre as modificações gravídicas.

Também é importante estimular o acompanhamento pré-natal e a realização do pré-natal do parceiro, fazer o rastreio de doenças e orientar sobre manejos específicos relacionados a gestação e puerpério. Nas últimas consultas de enfermagem, antes do parto, é válido realizar a orientação também sobre os primeiros cuidados com o RN e a amamentação.

Compreendem a consulta de enfermagem obstétrica no pré-natal:

  • Anamnese completa: Queixas e questionamentos;
  • Atualização da caderneta vacinal;
  • Análise de exames anteriores, prescrição de novos exames e suplementação (Sulfato ferroso e Ácido fólico);
  • Elaboração conjunta do Plano de parto (recomendado pela Organização Mundial de Saúde desde 1986 e reafirmado pelo Ministério de Saúde por meio da Rede Cegonha);
  • Preenchimento da caderneta da gestante;
  • Exame obstétrico (medida da altura de fundo uterino, ausculta dos batimentos cardiofetais e realização das Manobras de Leopold):
  • Educação em saúde: Sinais de trabalho de parto (TP), como identificar sinais de alerta com indicação de busca pelo serviço de emergência;
  • Prescrição de cuidados e orientações de enfermagem.

A gestante deve ser bem orientada quanto aos sinais verdadeiros do trabalho de parto, para que evite o seu deslocamento desnecessário para as unidades de saúde sem que haja a real necessidade, lhe expondo à riscos inerentes ao transporte e, no momento, aos riscos que envolvem a pandemia por Covid-19. Dessa forma, apresentar os sinais que de fato justificam a necessidade de ir para uma maternidade, conforme o quadro abaixo:

Figura2: Sinais de trabalho de parto (TP), como identificar sinais de alerta com indicação de busca pelo serviço de emergência. Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.

Urgências/emergências obstétricas: Classificação de riscos

A parturiente é recebida no serviço pela equipe de Acolhimento associada a ferramenta de classificação de risco, o A&CR, toma as decisões a partir da escuta qualificada, raciocínio clínico e protocolos baseados na literatura, com normativo formalizado pela Rede Cegonha.

O protocolo de CR é universal para as urgências obstétricas, objetiva a identificação da paciente, permite celeridade no atendimento de acordo com o potencial de risco e baseado em evidências cientificas. Os encaminhamentos são baseados em fluxogramas preexistentes publicados pelo A&CR considerando as principais queixas das gestantes, são eles:

  •  Alteração do estado de consciência/estado mental;
  • Avaliação da respiração e ventilação;
  • Avaliação da circulação;
  • Avaliação da dor;
  • Sinais e sintomas gerais;
  • Fatores de risco (agravantes presentes ou doenças prévias);

Assistência à parturiente:

Segundo a portaria N°11, de 7 de janeiro de 2015 define as diretrizes para a implantação e habilitação de Centro de Parto Normal no Sistema Único de Saúde quanto ao acolhimento a mulher e ao recém-nascido fundamentado na Rede Cegonha.

A partir do momento em que a gestante entra em TP, ela já é considerada uma parturiente e é competência da enfermagem iniciar o seu acompanhamento através do Partograma, além de iniciar os primeiros cuidados de enfermagem no monitoramento materno-fetal e manejos relacionados a prevenção de distocias e a segurança do binômio.

Os cuidados de enfermagem à parturiente são específicos para cada fase do trabalho de parto, conforme os tópicos a seguir:

  • Orientações sobre as posições materna para o parto por via vaginal;
  • Realizar assistência na fase latente/prodrómos/início TP;
  • Cuidados com o períneo: ante parto, intraparto e pós-parto;
  • Estimular a autonomia da mulher em seu processo;
  • Monitorar hemodinâmica e sinais vitais maternos e fetal/fetais;
  • Realizar primeiros cuidados na sala de parto no binômio.

O enfermeiro obstetra está presente no centro obstétrico, dentro da sala de pré-parto, sala de parto, no pós-parto e na sala de reanimação do RN. Binômios estáveis (mãe-bebê), sem indicação de UTI neonatal (RN) e UTI geral (puérpera) são encaminhados para o Alojamento Conjunto (ALCON) para serem acompanhados quanto a recuperação e receberem cuidados relacionados ao puerpério e amamentação.

Assistência a puérpera:

São realizados os cuidados imediatos ainda na sala de parto e posteriormente, se faz necessário as orientações e observações quanto as mudanças fisiológicas referentes ao estado pré-gravídico, bem como relativos ao pós-parto.

Na sala de parto, sinais vitais constantemente avaliados e registrados são importantes para o controle do estado geral da puérpera, além de favorecer a prontidão em caso de necessidades de emergência e até mesmo para a percepção da necessidade de intervenções farmacológicas durante o TP ou após ele imediatamente, preservando a segurança do binômio. 

São atribuições do enfermeiro:

  1. Estar vigilante em relação aos sangramentos: Tipo de sangramento, intensidade, coloração;
  2. Saber diferenciar e orientar para a puérpera a diferença entre as hemorragias e os lóquios;
  3. Realizar cuidados com o períneo da mãe, seja pela necessidade anterior de episiotomia, que já não é indicada primordialmente, apenas em casos específicos e necessários, ou ainda para cuidados com lacerações durante o parto;
  4. Implementar manejo não farmacológico no períneo a fim de reduzir edemas e desconfortos na puérpera, bem como diminuir o risco de infecção no local, se parto natural/normal;
  5. Avaliar cicatrização de procedimento cirúrgico de cesariana, realizar a higiene local e trocar o curativo.

Ainda em sala de parto, é função da enfermagem estimular o aleitamento materno na chamada Golden Hour (primeira hora), favorecendo o contato pele a pele entre mãe e bebê, bem como os benefício imunológicos oferecidos pela composição do colostro materno e estreito de vínculo.

Os cuidados com as mamas, cicatriz cirúrgica e os cuidados gerais também são atividades da equipe de enfermeiros.

Aspectos importantes:

A adesão de boas práticas em obstetrícia, preconizando a assistência humanizada, o estímulo e preservação da autonomia da gestante, respeitando suas escolhas e lhe assegurando em cada momento é fundamental para a boa execução do exercício da enfermagem obstétrica. A sobrecarga de atividades, principalmente no setor público, não deve interferir na prestação de cuidados. Isso é, as potencialidades devem sempre ser encorajadas.

O apoio emocional é fundamental, resgate do empoderamento e o incentivo da participação do parceiro em todos os momentos desde o pré-natal são também atividades voltadas para o serviço da enfermagem.

Como se pode observar, a atuação do enfermeiro obstetra é fundamental dentro da equipe obstétrica, seja em um parto por via vaginal, ou ainda no procedimento cirúrgico de cesárea. Sua relevância vai desde as atividades voltadas ao registro e burocracia, como também no cuidado direto e especial a mulher em seus quatro estados: o de planejamento conceptivo, pré-natal, parto/pós-parto e puerpério.

Matérias relacionadas:

Referências:

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Rezende obstetrícia / Carlos Antonio Barbosa Montenegro, Jorge de Rezende Filho. – 13. ed. – Rio de Janeiro. 

Guanabara Koogan, 2017. Ricci, Susan Scott. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher / Susan Scott Ricci; tradução Maiza Ritomy Ide. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 

Zugaib, Obstetrícia, 3ª Ed., Manole, 2016.

Por Sanar

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