Psicanálise e psicoterapias – quais as diferenças? | Colunista

Bom, antes de entrar nas diferenças específicas, você leitor, precisa saber que a Psicanálise é uma abordagem teórica e técnica criada pelo Sigmund Freud no final do século XIX. Esta abordagem foi criada a partir dos desdobramentos da Histeria (uma doença acometida principalmente nas mulheres daquela época), muitos acreditavam que tal patologia era de ordem biológica, mas Freud ao trabalhar a questão, foi descobrindo que a patologia tinha raízes psíquicas. 

Ao formular a teoria e técnica da Psicanálise, a abordagem ganhou notoriedade e logo foi se difundido no mundo todo, criando as diversas sociedades psicanalíticas existentes, além de Freud, pioneiro, temos diversos outros autores renomados que também contribuíram com a teoria, são eles: Melanie Klein, Wilfried Bion, Donald Winicoot, Jaqcues Lacan, a própria filha de Sigmund, Anna Freud, entre outros. 

A Psicoterapia orientada pela teoria psicanalítica, nada mais é, do que o uso da abordagem na clínica psicológica, logo você pode pensar que não há diferenças, mas ledo engano, há algumas. 

Primeiro, você que almeja ingressar na profissão, saiba que para ser reconhecido como psicanalista de fato, você precisa fazer parte da sociedade psicanalítica, no caso do Brasil, a SBP (Sociedade Brasileira de Psicanálise), ou seja, só a graduação de psicologia não é o suficiente.

Para ser um profissional e realizar psicoterapia orientada pela psicanálise, basta apenas, cursar psicologia e ter a documentação profissional em mãos, e vale lembrar, que as psicoterapias podem ser orientadas por várias abordagens teóricas, bem como: Análise do Comportamento, Teoria Cognitiva Comportamental, Psicologia Humanista, Gestalt-Terapia, entre outras.

Mas, e quais são as diferenças para os pacientes que usufruem os serviços? Uma análise feita essencialmente por um psicanalista dispõe de mais sessões ao longo da semana, na psicoterapia orientada pela psicanálise ou qualquer outra teoria é comum observarmos um encontro por semana, já na análise de fato a média é de 3 sessões por semana, isto varia de acordo com a localidade da sociedade Psicanalítica, há em outros países por exemplo, que a média é de 5 sessões por semana.

Uma psicoterapia seja ela orientada por qual for a abordagem, tende a trabalhar em uma demanda específica seja pelo motivo que trouxe o paciente a psicoterapia ou a queixa que se apresenta no decorrer da psicoterapia, uma análise, apesar do paciente chegar com uma queixa, a finalidade da análise é estritamente levar o paciente a se compreender, como diz Freud, “A principal tarefa de uma existência é compreender a própria mente.”

Neste quesito tanto a psicoterapia como a análise favorecem o autoconhecimento, as suas peculiaridades se distinguem a partir da metodologia, tempo e profundidade das análises.

No início, Sigmund trabalhava com uma ferramenta chamada hipnose, esta ferramenta se caracterizava de forma sugestiva, ou seja, o terapeuta hipnotizava o paciente o colocando de forma passiva e o guiava no decorrer do tratamento, logo ele rompe com esta prática clínica por não obter resultados satisfatórios, e passa a aderir a associação livre, delegando a tarefa para o paciente falar tudo que lhe vier à mente, colocando o paciente em uma posição mais ativa. Além do mais, vale ressaltar que na contemporaneidade a hipnose não é um método tão usual, principalmente no cenário brasileiro, pois a ferramenta não é reconhecida pelo conselho federal de psicologia (CFP). 

Depois de romper com a hipnose a associação livre foi a técnica utilizada pelo Sigmund que até hoje se faz presente no rol de técnicas dos psicanalistas contemporâneos, como já apontado, esta técnica coloca o paciente no ato de falar o que vier a cabeça, com isso facilita ao psicanalista acessar o material inconsciente do paciente por meio do seu discurso sem orientações de regras, esta técnica junto a atenção flutuante do psicanalista visa explorar a personalidade do sujeito, de modo a favorecer o autoconhecimento do paciente.

E aí alcançamos outra diferença entre psicanálise e psicoterapia, enquanto que na psicoterapia há uma participação mais ativa e sugestiva do terapeuta, na análise, coloca-se o próprio sujeito no processo de descoberta dos elementos psíquicos que compõe a sua personalidade, ou seja, a psicanálise abandonou há muito tempo qualquer sugestão ou diretividade durante o tratamento. E este aspecto é apontado por Aguiar (2016) como a principal diferença entre Psicanálise e Psicoterapia em sua obra “Psicanálise e Psicoterapia: o fator da sugestão no tratamento psíquico”.

Enfim, ao falar de psicoterapia e psicanálise, haverá também algumas igualdades, tais como: o tempo de sessão pouco se difere, em geral são 50 minutos, salvo os psicanalistas na perspectiva lacaniana que encurtam mais as sessões, em torno de 20 a 30 minutos; em ambas intervenções, psicoterapias e psicanálise, é exigido dos pacientes o compromisso com a verdade, e dos profissionais, a serem o objeto mediador do tratamento. Portanto, há algumas diferenças da psicoterapia para análise de fato com um psicanalista, mas também como vimos há algumas semelhanças. Ambas alcançam resultados para aquilo que se propõem, não sendo uma melhor do que a outra, apenas cumprindo propósitos diferentes.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Fernando. Psicanálise e Psicoterapia: o Fator da Sugestão no “Tratamento Psíquico”. Psicol. cienc. prof. Brasília, v. 36, n. 1, pág. 116-129, março de 2016. Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141498932016000100116&lng=en&nrm=iso>. acesso em 17 de abril de 2021.  https://doi.org/10.1590/1982-3703004102015 .

NASIO, Juan-David. Como trabalha um psicanalista?. Zahar, 1999.

FREUD, S. Relatório sobre meus estudos em Paris e Berlim (1886). In FREUD, S. Histeria: Primeiros Artigos. Rio de Janeiro, Imago, 1998.

Por Sanar

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