Ansiedade: aprenda a lidar com ela e cuidar de si e do próximo

ilustracao de homem pensando e com ansiedade

Os transtornos de ansiedade são, atualmente, os mais comuns do mundo, seguidos de perto pela depressão. O Brasil figura desde 2017 no topo do ranking mundial da ansiedade, sendo que as mulheres são as mais afetadas. 

Com o cenário dos transtornos mentais sendo agravado pela pandemia da COVID-19, e reconhecendo o caráter emergencial da necessidade de cuidados quanto à ansiedade em específico, a pós-graduação da Sanar Saúde promoveu no mês de maio um Webinar tratando deste tema: “Ansiedade: cuidando de si e do outro”, trazendo os principais pontos de atenção sobre o assunto, especialmente do ponto de vista da saúde mental do psicólogo que se dedica a tratar esta população.

Neste Webinar, as psicólogas Ana Paula Varella Ferreira e Andrea Machado Vianna, colaboradoras do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, discutiram as particularidades da psicoterapia voltada ao tratamento da ansiedade. Além disso, trouxeram atenção aos cuidados específicos que os psicoterapeutas precisam ter com a própria saúde mental, uma vez que se encontram submetidos, neste momento, às mesmas condições estressoras de seus pacientes.

Reunimos aqui os principais pontos abordados no Webinar, que está disponível clicando aqui.  

Os limites entre o normal e o patológico se tornaram tênues

O cenário atual de adoecimento e mortes trouxe de forma muito explícita a situação de perigo iminente potencialmente deflagradora de uma resposta ansiosa.

Enquanto em condições típicas o limite entre a ansiedade normal e a patológica são mais facilmente discrimináveis, o contexto atual oferece um desafio à parte ao trabalho em psicoterapia, uma vez que o risco e a incontrolabilidade relativos ao adoecimento pelo coronavírus tornam a ansiedade uma resposta extremamente adaptativa, embora sofrida e muitas vezes prejudicial.

Seja pela manifestação de transtornos ansiosos pela 1ª vez ou pela piora de quadros pré-existentes, os psicólogos se veem hoje com uma dificuldade a mais quanto ao diagnóstico e condução dos tratamentos: como definir os limites seguros do trabalho terapêutico, uma vez que a ansiedade outrora patológica hoje se revela funcional em relação à percepção de risco do ambiente?

Desde a conceitualização do caso até o planejamento das intervenções, os psicoterapeutas têm sido forçados a diminuir o passo em seus tratamentos e a serem extremamente criteriosos na escolha das técnicas e estratégias de enfrentamento.

Outros quadros como a depressão (comumente desencadeada a partir da evolução dos quadros ansiosos) e abuso de substâncias que se apresentam, frequentemente, como comorbidades, trazem outras complicações e aumentam a complexidade dos casos atendidos.

O aumento exponencial da busca por psicoterapia devido à ansiedade

As restrições impostas pela pandemia da COVID-19 e o risco iminente sobre a integridade física e psicológica dos indivíduos parece ter contribuído, de forma significativa, para um aumento expressivo de Transtornos Ansiosos na população. 

A mídia vem trazendo cada vez mais informações sobre Saúde Mental e sobre os prejuízos do cenário atual. A disseminação da importância do trabalho psicológico gerou uma situação sem precedentes para o contingente de terapeutas: uma explosão de busca por psicoterapia.

Com consultórios lotados, os próprios psicólogos se vêm experimentando dificuldades em equilibrar os cuidados para si e para os outros, uma vez que a sobrecarga de atendimentos, aliada às condições estressantes impostas pela pandemia, os desafia a reconhecer a respeitar os limites pessoais e profissionais.

A sobrecarga de trabalho demanda alterações no modo usual de se organizar

Com tanta busca por psicoterapia, os psicólogos têm se visto diante da necessidade de, devido às agendas já lotadas, optarem por abrirem novos horários ou encaminharem estes pacientes para outros profissionais.

Recusar um atendimento nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente em um momento em que a saúde mental está sendo reconhecida como uma questão de saúde pública.

Podem ser muitas e variadas as dificuldades: desde fazer um encaminhamento ético e responsável, que atenda à demanda do paciente, até como comunicar esta impossibilidade de atender, os terapeutas acabam se vendo obrigados a fazer uso maciço da assertividade e da auto-compaixão. Sabemos que um psicoterapeuta competente precisa estar, antes de mais nada, em boas condições de saúde física e mental para conduzir um bom trabalho.

Limitar o número de horas da agenda; fazer pausas mais longas entre os atendimentos; buscar supervisão e psicoterapia pessoal podem ser bons passos na direção do autocuidado precioso para manter a si e ao outro bem amparados.

Infelizmente, como qualquer outro ser humano, o psicólogo também está sujeito às suas próprias distorções cognitivas que podem dificultar este processo de colocar limites para si mesmo. Autoexigência e autocrítica excessiva são comportamentos reconhecidamente nocivos quando ocorrem em um contexto de alto estresse e sobrecarga emocional.

O psicólogo que se preocupa com a qualidade de seu trabalho precisa voltar a sua atenção sobre suas cognições e fazer a escolha da quantidade versus qualidade com a máxima consciência de suas próprias necessidades.

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