A pandemia da COVID-19 alterou o mundo presumido, isso significa que os contextos de saúde, de trabalho, as relações e tantas outras dimensões da vida sofreram impactos significativos, gerando estados de crises e emergências, visto as circunstâncias ameaçadoras e perigosas em níveis físicos, emocionais e sociais experienciadas no momento. E são nestes campos que os Primeiros Socorros Psicológicos (PSP) entram em ação.
Crises e emergências: entenda seus conceitos
Antes de adentrar nos Primeiros Socorros Psicológicos (PSP) é necessário compreender os conceitos de crises e de emergências, pois essa compreensão levará a um melhor entendimento sobre PSP.
Crises: conforme revisão da literatura realizada por Carvalho e Matos (2016), são respostas emocionais intensas oriunda de uma conjuntura ameaçadora em que o sujeito não encontra estratégias pessoais para lidar e por isso se desorganiza emocionalmente.
Emergências: “são eventos desencadeadores de estresse pela exposição a um perigo imediato à integridade física e emocional das pessoas envolvidas, requerendo assim ações imediatas”. (PARANHOS e WERLANG, 2015).
Assim, os Primeiros Socorros Psicológicos (PSP) atuam como uma intervenções breves que buscam reduzir o sofrimento inicial desencadeado por contextos de crises ou por emergências.
Fundamentos dos Primeiros Socorros Psicológicos
Os Primeiros Socorros Psicológicos são práticas não invasivas com foco na empatia e no acolhimento, eles são fundamentados em oitos objetivos:
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Realizar escuta ativa e ampliar capacidade de compreensão;
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Avaliar as necessidades da pessoa, considerando a pirâmide das necessidades de Maslow. O autor classifica as necessidades humanas em cinco categorias: fisiológicas, segurança, sociais, estima e autorealização as necessidades devem ser supridas a parti da base que são as necessidades fisiologicas , seguindo a ordem crescente . Deste modo, quanto maior o nível de satisfação das necessidades , melhor a saúde mental do sujeito.
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Reconhecer as estratégias de enfrentamento adaptativas do sujeito, ou seja, quais recursos ele utiliza para proteger a sua saúde mental. Ex.: rede de apoio, religião, atividade de autosuporte como meditação entre outras.
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Reconhecer as reações comportamentais e psicológicas desestabilizadoras e que estão incapacitando o sujeito;
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Mitigar o estresse agudo;
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Caso seja necessário realizar encaminhamento para profissionais especializados em saúde mental;
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Reduzir potenciais riscos adversos (pode ser por exemplo retirar o sujeito do local caso ele seja perigoso para sua integridade física ou psicológica);
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Promover a autopreservação, isto é, estimular no individuo a sua capacidade de manter-se salva de perigo, preservando a sua integridade física.
(BEJA, et al, 2018).
Aplicação dos fundamentos
É importante salientar, que a prática do PSP não é exclusiva dos psicólogos ou de profissionais de saúde mental.
Pode-se pensar que o PSP está para a Psicologia assim como os Primeiros Socorros Médicos estão para a Medicina, ou seja, basta ter o treinamento adequado para ser um aplicador dos funamentos dessa intervenção.
Outra ressalva é que aplicação dos primeiros socorros psicológicos não substituem o trabalho do profissional de saúde mental. O PSP é focal, ou seja, atua na minimização de sofrimento inicial a fim de que este sofrimento não seja fator desencadeante para problemas psicológicos mais graves. Assim, caso após a sua aplicação o sujeito não se mostre minimamente organizado em termos emocionais, se fará necessário o encaminhamento para um profissional especializado.
Efetividade da aplicação do PSP durante a Pandemia em Profissionais de Saúde
Uma revisão integrativa publicada em 2021 acerca das estratégias de enfrentamento para manutenção da saúde mental dos trabalhadores em tempos da COVID-19 encontrou os seguintes estudos sobre aplicação de PSP para profissionais de saúde. Um estudo realizado no Equador com profissionais de saúde de um hospital que citou os primeiros socorros psicológicos como uma estratégia para manter a segurança psicológica da equipe de trabalho. O estudo apresenta que o treinamento em PSP deve ser uma das prioridades no enfrentamento dos impactos emocionais da pandemia, mencionando também a sua aplicação em pessoas em situação de crise.
Há também uma revisão publicada no Caderno de Saúde Pública no ano de 2020 em que foi realizada a análise de diversas estratégias para mitigação de sofrimento decorrente da pandemia apresentando-a os Primeiros Socorros Psicológicos como um modelo de atenção à saúde mental e como uma possibilidade de intervenção para os profissionais atuante do contexto pandêmico.
Já um estudo publicado na Alemanha também em 2020 acerca dos sofrimentos psíquicos vivenciados por trabalhadores de saúde na pandemia apresenta os primeiros socorros psicológicos como uma das recomendações das Organizações das Nações Unidas e da Cruz Vermelha na redução do estresse e da carga psicológica destes profissionais.
Considerações Finais
Os primeiros socorros psicológicos é uma intervenção acessível e eficaz em contextos de crise e de emergências. A pandemia da COVID-19 é a maior crise já vivenciada neste século. Os seus impactos são imensuráveis e olhar para a saúde dos profissionais que atua na linha de cuidado é uma necessidade global. Ainda em 2021 sentimos as consequências dessa crise que hoje se apresenta como um problema de saúde pública, assim, nunca é tarde para cuidar do cuidador, e uma alternativa para mitigar o seu sofrimento e fazer com este não seja um fator desencadeantes para o desenvolvimento de transtornos mentais futuros é o PSP.
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Referência
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