CIF: Uma nova abordagem sobre saúde | Colunista

Caetano Veloso em “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” na música “Dom de Iludir” nos faz recordar a famosa Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, ou para os íntimos: CIF. Publicado em 2001, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), essa nova abordagem repensa a conduta do profissional da saúde, tornando-se fundamental o seu estudo. 

Século XIX e a evolução na ciência: 

Com a chegada do século XIX foi notável a evolução no campo científico. Louis Pasteur e Robert Koch apresentaram à época a descoberta e o estudo dos microrganismos. Esse avanço foi extraordinário para a ciência sendo a mesma “caminhando a passos largos”. Porém, concomitantemente houve um distanciamento do foco em estudos dos profissionais da saúde do “doente” para a “doença”.   

Ufa… não somos iguais! 

Segundo SAMPAIO et. al., (2005) a mudança de uma abordagem baseada na doença para enfatizar a funcionalidade fica evidente quando observamos três indivíduos com lombalgia crônica, onde uma mesma patologia diagnosticada em diferentes pessoas não causará necessariamente as mesmas repercussões funcionais. 

Fatores sociais, psicológicos e ambientais contribuem para a saúde e qualidade de vida. Fazendo com que o estreitamento na relação paciente e profissional de saúde se torne mais eficaz e direcional. 

O que é a CIF? 

A CIF é considerada um modelo para a organização e documentação de informações sobre funcionalidade e incapacidade (OMS, 2001). A CIF foi publicada em 2001 pela OMS pertencendo à família das classificações internacionais, podendo ser aplicada em vários aspectos da saúde do indivíduo. 

E os seus objetivos? 

Proporcionar uma linguagem unificada e padronizada. Além de organizar informações, integrar bases de dados, tornar a linguagem unificada em literatura científica e aos profissionais da saúde. Proporcionando, desse modo, a fomentação em discussões e novas condutas. 

Evolução histórica da CIF 

Foi em 1960 que o sociólogo americano Saad Nagi propôs quatro conceitos lineares desde a instalação da doença até a sua repercussão funcional, sendo eles: patologia ativa, disfunção, limitação funcional e incapacidade.  

A OMS compreendendo um novo contexto sociocultural da época formulou a International Classification of Impairments Disabilities and Handicap (ICIDH) onde se encontra os conceitos “doença, deficiência, incapacidade, restrição social” sendo protagonistas nas discussões. Em um período em que os avanços na área saúde colocavam em foco a redução das condições crônicas comparado as agudas. 

Com a chegada do modelo biopsicossocial a ICDH – 2 é apresentada pela OMS em 

2001. Após discussões as três dimensões “disfunção, limitação de atividade e restrição da participação” ganharam espaço e desde então se mostram presente pelo mundo afora.  

Mudança para uma nova visão 

Refletindo uma nova abordagem de saúde, onde observamos os holofotes para a funcionalidade como componente de saúde o ambiente também ganha o seu destaque podendo ser considerado como facilitador ou dificultador para o desempenho de ações e/ou tarefas. 

Você conhecia? 

A CID – 10 (Classificação Internacional das Doenças – 10ª revisão) atuará em conjunto com a CIF fornecendo uma estrutura etiológica das condições de saúde.  

E quanto estruturação da CIF? 

Ok, vamos lá! Ela será estruturada em duas partes. 

A primeira parte falará a respeito de funcionalidade e incapacidade. 

A segunda: Fatores contextuais compreendendo os aspectos ambientais e pessoais. Levando em consideração os seus impactos (positivos ou negativos) nas três dimensões das condições de saúde 1) estrutura (funções fisiológicas e/ou psicológicas dos sistemas corporais e por suas partes anatômicas) de função do corpo, atividade (habilidade individual de executar uma tarefa ou ação da rotina diária em diversos contextos) e participação social (interação do indivíduo com a sociedade em situações de vida cultural, comportamental e social).  

A foto abaixo (tabela 1) retrata essa interação dinâmica entre os componentes da CIF. Curioso, né?  

Tabela 1 – Modelo CIF


Fonte: SANTOS, Silvana Sidney Costa et al., 2013 

Novas possibilidades à Fisioterapia

Verdiani et al., (2020) apresenta a relevância da CIF na prática profissional da equipe multidisciplinar de saúde. Com o objetivo de determinar objetivos funcionais de pacientes com Paralisia Cerebral em um centro de reabilitação se abriu uma nova perspectiva entre os profissionais ao traçar especificamente para cada paciente uma tarefa a ser alcançada dentro do que o paciente almeja e do que é possível.

Como vimos a interação entre corpo, comportamento e a vida em sociedade irá refletir na funcionalidade. Essa, por sua vez, será um indicador de saúde. Desse modo, a fisioterapia usufrui de um modelo – ainda em constantes estudos – ao entender as diversas faces da estrutura biopsicossocial e suas inúmeras possibilidades.

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Bibliografia:  

JUNQUEIRA, C. R. Bioética: conceito, fundamentação e princípios. Especialização em Saúde da Família, UNASUS, Universidade Federal de São Paulo – Pró-Reitoria de Extensão, 2010. Disponível em: http://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/1/modulo_bioetica/Aula01.pdf. 

Sampaio, R. F; Mancini, M. C; Goncalves, G. G. P; Bittencourt, N. F. N; Miranda, A. D; Fonseca, S. T. – Aplicação da classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde (CIF) na prática clínica do fisioterapeuta / Application of the international classification of functioning, disability and health (ICF) in physiotherapists clinical practice. Braz. j. phys. ther. (Impr.) = Rev. bras. fisioter; 9(2):129-136maio-ago. 2005. 

[OMS] Organização Mundial da Saúde, CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde [Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para a Fami?lia de Classificaço?es Internacionais]. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo – EDUSP; 2015. 

MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ. Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)1. Página inicial. Disponível em: <https://pcd.mppr.mp.br>. Acesso em: 14 de maio de 2021. 

SANTOS, Silvana Sidney Costa et al . Classificação internacional de funcionalidade, incapacidade e saúde: utilização no cuidado de enfermagem a pessoas idosas. Rev. bras. enferm.,  Brasília ,  v. 66, n. 5, p. 789-793,  Oct.  2013 .   Available from  <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000500021&lng=en&nrm=iso>. access on  14  May  2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000500021. 

TAÍS SEIFERT QUEIROZ, D. .; CHEREM NETTO FERNANDES, A.; SANTOS DE CARVALHO, M.; GRIVICICH DA SILVA, G.; BOMBARDA MÜLLER, A. Comparação entre GMFCS e CIF na avaliação da funcionalidade na paralisia cerebral. Revista Neurociências, [S. l.], v. 28, p. 1–27, 2020. DOI: 10.34024/rnc.2020.v28.10972. Disponível em: https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/view/10972. Acesso em: 24 maio. 2021.