A cárie dentária é um problema de saúde pública mundial, principalmente em populações industrializadas em que ocorre o elevado consumo de sacarose 1,2. Levantamentos epidemiológicos realizados no Brasil indicam que a incidência vem diminuindo com o passar do tempo, no entanto, estudos epidemiológicos realizados no SBBrasil 2010, aos 5 anos de idade, uma criança brasileira possuía, em média, o índice ceo-d (número de dentes cariados, perdidos e obturados) de 2,43 dentes com experiência de cárie3.
A questão que desperta discussão na clínica infantil é relacionada ao material restaurador ideal, o qual além de reestabelecer a função do elemento dentário, apresente resistência adequada à abrasão, boa adaptação marginal, biocompatibilidade e que reproduza a cor natural dos dentes4,5. Existem vários recursos restauradores aplicados, de acordo com a quantidade de estrutura dentária remanescente e/ou número de dentes perdidos6,7,8. O uso de Coroas de aço pré-formadas (PMCs) enquadra-se na categoria de recursos restauradores e têm sido usadas para restaurar molares decíduos desde a década de 195012.
A técnica Hall (Hall techinique) possui o nome da Dra. Norma Hall, cirurgiã-dentista que trabalha na Escócia, a qual desenvolveu a técnica simplificada em 1980 1,4,5. A técnica fundamenta-se no uso das PMCs, cimentada com cimento de ionômero de vidro na coroa do molar decíduo com lesão cariosa, sem uso de anestesia local ou remoção de lesões cariosas e preparação de dentes de qualquer tipo5,9,10.
A técnica Hall foi adicionada como critério de escolha do Programa Scottish Dental Clinical Effectiveness (SDCEP), para promover a realização de tratamento não-invasivo, impulsionar a mudança de hábitos e práticas clínicas e que vai além da técnica tradicional invasiva empregada nas coroas de aço pré-formadas5,11. Consequentemente, as PMCs, também conhecidas como “pré-formadas” são uma opção viável no tratamento restaurador de lesões cariosas extensas na clínica infantil12. A longevidade do emprego da técnica Hall revelou taxas favoráveis do emprego da técnica em dentes decíduos 11,12.
A técnica Hall foi adicionada em uma diretriz do Programa Scottish Dental Clinical Effectiveness (SDCEP), de forma a auxiliar os cirurgiões dentistas a realizarem tratamento não-invasivo, impulsionar a mudança de hábitos e práticas que vão além da técnica tradicional e invasiva empregada nas coroas de aco pre-formadas5,11. De forma que a técnica exibe taxas de sucesso associado ao emprego da técnica neste país. No Brasil, os estudos clínicos começam a tomar forma, desenvolvimento e com resultados promissores.
As indicações de uso da técnica Hall incluem lesões proximais (Classe II), cavitadas ou não cavitadas, lesões oclusais (Classe I), não cavitadas5,12. As contraindicações do emprego da técnica Hall são: pulpite irreversível, patologia perirradicular, tecido saudável insuficiente para reter a coroa, coroas com extensa fratura, paciente em risco de endocardite bacteriana, em situações em que a restauração inclua remoção de tecido cariado5. A percepção do núcleo familiar em relação às PMCs, são que estas duram mais tempo do que restaurações convencionais10,11, o que contribui na aceitação do tratamento proposto.
A promoção de saúde por meio do equilíbrio no processo saúde-doença em pacientes portadores da doença cárie visa melhorar a ecologia bucal e viabilizar o controle de placa bacteriana6,7,11,12. O tratamento restaurador com uso das PMCs prioriza a reabilitação bucal do paciente infantil, ao seguir princípios de máxima preservação da estrutura dental e minimamente invasivo. A técnica Hall é considerada uma escolha segura para molares decíduos com lesões cariosas ocluso-proximais, baseado na literatura atual desde que seja indicada por meio de diagnóstico correto. Por se tratar de uma técnica conservadora, minimamente invasiva, de adequado selamento marginal promove o aumento da dimensão vertical imediato e segura para uso clínica infantil. Em pacientes sem comprometimento da polpa coronária, a técnica Hall apresenta resultados clínicos satisfatórios, sendo consideradas de fácil execução, curto tempo clínico e sem desconforto ao paciente infantil.
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REFERÊNCIAS
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