A pandemia de COVID19 trata da maior dificuldade sanitária em escala global do século XXI. Desde 2019, até o cenário atual, ela vem impactando fortemente o mundo e afetando a área da saúde na qual está inserido o setor hospitalar, demandando cuidados específicos e ações estratégicas rápidas em relação a insumos e medicamentos, visto que um dos efeitos provocados por esse período prolongado de pandemia é o desequilíbrio de gastos, vivência de situações atípicas e o desabastecimento de medicamentos e insumos nos estabelecimentos hospitalares, incluindo desde os medicamentos de uso ambulatorial até medicamentos e equipamentos de proteção individual aos profissionais, necessários ao manejo de pacientes com casos graves.
Este texto se propõe a trazer algumas reflexões sobre os desafios de um gestor de estoque na farmácia hospitalar, visando contribuir para debate e apontar caminhos para equilíbrio no gerenciamento frente à COVID-19.
Uma pesquisa feita pela Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) apontou que, no período de junho de 2016 a maio de 2017, os medicamentos correspondiam a, em média, 11% das despesas das instituições hospitalares brasileiras. A pesquisa apontou ainda que o bom gerenciamento da farmácia hospitalar era imprescindível para diminuir falhas, reduzir gastos e garantir o armazenamento dos medicamentos necessários, ampliando a segurança do paciente.
Ter responsabilidade sobre a logística da farmácia hospitalar sempre foi algo muito complexo, pois, dela depende o abastecimento de todos os pontos de distribuição de medicamentos, insumos e artigos médico-hospitalares necessários para os atendimentos realizados em toda a instituição hospitalar.
Considerando todos os aspectos mencionados, é fácil perceber quais os desafios que podem marcar e tirar o sono de um gestor de farmácia hospitalar neste período de pandemia.As implicações no gerenciamento de estoque partem em termos de análise de consumo.
Nesse contexto, o excesso é tão ruim quanto a falta e por isso é preciso ter sensibilidade e preparo visto que a grande diversidade de materiais e medicamentos utilizados em um hospital, associada ao desejo profundo de afastar o fantasma do desabastecimento, podem gerar produtos em estoque sem demanda de consumo,recursos financeiros imobilizados, ocupação desnecessária dos espaços nos setores de armazenamento que poderiam estar sendo aproveitados de outra maneira além risco de perdas por prazo de validade.
Quanto ao fornecimento, há um problema adicional: a falta de previsibilidade e dificuldades para garantir o abastecimento dos estoques em cenários de flutuações significativas de preços e de altos graus de incertezas, fatores críticos diante da necessidade de manter medicamentos em disponibilidade na mesma proporção da sua utilização.
A capacidade produtiva é um aspecto de extrema fragilidade da cadeia de abastecimento de medicamentos no mundo, sendo um dos determinantes mais importantes para a ocorrência de desabastecimento em nível global. As cadeias de produção de medicamentos estão localizadas em poucos locais e unidades de produção no mundo.
A concentração da produção em poucas unidades fabris e em poucos locais do mundo é uma grande fragilidade da oferta de medicamentos, pois, dificulta o aumento rápido da quantidade produzida em casos de picos de demanda. Caso haja algum problema que impeça ou diminua a produção desses produtos nos poucos países produtores, haverá uma redução de sua oferta global.
No início de 2020, os hospitais brasileiros não estavam preparados para uma pandemia. A COVID-19 afetou muito o comportamento da demanda, das previsões de compra e de estoque. As instituições vivenciaram muitos picos de consumo ocorridos de forma abrupta, ou seja, muitos doentes no mesmo intervalo de tempo em proporções antes vistas somente resultantes de situações de guerra, desastres ou pandemias anteriores.
A operação da gestão e compras passou a ter que lidar então com os desafios de otimizar os poucos recursos financeiros com retração da oferta e a importância de garantia dos melhores preços em uma situação de urgência, dentro do arcabouço dos requisitos da legislação brasileira. Neste cenário, o olhar do gestor de estoque no contexto hospitalar teve que se repaginar, mantendo o foco nos produtos mais importantes e aumentando o estoque de segurança para garantir a disponibilidade e minimizar o risco de escassez, além do que, o acompanhamento do mercado, levou à tomada de decisão antecipada priorizando pelo atendimento e continuidade na prestação de serviço.
A preocupação quanto à situação no contexto da pandemia foi manifestada também pela Sociedade Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (SBRAFH) que realizou um questionário com 731 farmacêuticos para identificar o atual cenário. Como resultado da pesquisa observou-se dificuldades no abastecimento em todas as regiões do Brasil; 87% dos entrevistados relataram ruptura de estoque de medicamentos e produtos para saúde, muitos deles (para sedação, analgesia e bloqueio neuromuscular) utilizados no tratamento de pacientes críticos, acometidos ou não pela COVID-19. É evidente que o desabastecimento configura-se como sério fator de risco à vida desses pacientes.
Diante do exposto, entendemos que o gestor precisa ter estratégia, criatividade e deve buscar desenvolver habilidades e maneiras de lidar, solucionar e por vezes até evitar maiores problemas. Entre as estratégias, ele pode tomar as seguintes decisões:
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Manter contatos e criar uma rede de colaboração com outros hospitais e clínicas para a tentativa de empréstimos dos insumos, reuniões semanais para verificar a disponibilidade dos materiais e medicamentos para procedimentos nas unidades e também a substituição de medicações, no caso das que estiver com dificuldade de compra.
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Desenvolver e implementar planos de contingência e fluxo de trabalho local para controle de medicamentos e insumos.
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Prevenir, informar e educar a comunidade, a equipe de trabalho e o gestor do serviço com informações oficiais e baseadas em evidência científica.
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Saber usar a tecnologia, realizando coletas dos dados do sistema de gestão hospitalar da Instituição, analisando relatórios de consumo de materiais e medicamentos, que tragam informações quantitativas e financeiras de cada item.
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Referências Bibliográficas
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PAULUS JÚNIOR, Aylton. Gerenciamento de recursos materiais em unidades de saúde. Revista Espaço para a Saúde. Paraná, v.7, n.1, p. 30-45, 2005.
SILVEIRA, Marcos. Gestão hospitalar: os desafios na área da saúde em tempos de pandemia. 15 Jul. 2020. Disponível em: https://www.prosaude.org.br/noticias/gestaohospitalar-os-desafios-na-area-da-saude-em-tempos-de-pandemia/. Acesso em: 20 Abril. 2021.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE FARMÁCIA HOSPITALAR (SBRAFH). Levantamento nacional sobre o abastecimento de medicamentos e produtos para a saúde durante o enfrentamento da pandemia pela COVID-19 (Anexo do Ofício nº 037/2020, enviado ao Ministro da Saúde em 15/06/2020). Disponível em: http://www.sbrafh.org.br/inicial/levantamento-sobre-o-abastecimento-de-medicamentose-produtos-para-a-saude-durante-a-pandemia-da-covid-19/ Acesso em 20/04/2021.