Diagnóstico psicopatológico em saúde mental | Colunista

O processo de diagnóstico psicopatológico é indispensável na prática clínica psiquiátrica/psicológica, pois evidencia de maneira clara e precisa a queixa trazida pelo paciente e permitindo com que o profissional consiga compreender, de maneira adequada, o sofrimento vivenciado pelos sujeitos e pelas pessoas com as quais convivem. Assim, por meio do diagnóstico, é facilitado a criação e manutenção de um plano terapêutico adequado para o caso, possibilitando a identificação do curso provável do transtorno – prognóstico. 

Diante disso, realizar um diagnóstico requer do profissional incumbido de tal feito: habilidade e experiência clínica, responsabilidade, conduta ética, conhecimento aprofundado em psicopatologia. Em casos de psicólogos que se utilizem de testagem psicológica, precisa de conhecimento em psicometria, a fim de analisar adequadamente os escores e integrar os resultados com a história do sujeito e seu contexto, visando resultados precisos e efetivos, com menor probabilidade de equívocos. 

Um diagnóstico fidedigno deve contar com uma equipe multiprofissional que incluía médicos e psicólogos de diferentes especialidades, que auxilie, tão logo a demanda extrapole o campo de atuação do profissional, uma vez que o sujeito não pode/deve ser tratado como mero “receptor” de um diagnóstico, esquecendo-se das implicações existenciais deste para seu transcurso de vida, enquanto sujeito de vida e de desejo. 

Portanto, deve se pautar em uma prática que se atenha aos impactos decorrentes do estigma social relacionado ao diagnóstico psicopatológico, afastando-as no aspecto pessoal, social e laboral. 

Para que seja realizado um diagnóstico psicopatológico confiável, os resultados precisam ter a maior aproximação possível, no momento de uma reavaliação. É necessário um profundo conhecimento da dinâmica da personalidade do paciente, além da dimensão afetiva, social, laboral, contextual/cultural, que incluem local de residência, condições socioeconômicas, relações interpessoais, pois são esferas que favorecem, se conturbadas, o desenvolvimento de patologias.

Assim, visando penetrar na dinâmica do sujeito, uma das técnicas mais usadas e também a mais indicada para avaliação do paciente é a entrevista psicopatológica, que consiste em questionamentos realizados pelos profissionais de saúde mental (Psicólogo ou Psiquiatra), juntamente com a observação minuciosa do comportamento, bem como uma escuta cuidadosa do relato trazido pelo paciente. Dentre essa avaliação, torna-se possível realizar:  a anamnese (aprofundamento na história dos sinais e sintomas apresentados pelo paciente) e o exame do estado mental. 

O exame do estado mental é um instrumento utilizado para fins diagnósticos, que favorece a avaliação das funções psicológicas (memória, atenção, consciência, linguagem, pensamento, sensopercepção, juízo de realidade, vontade). Na maioria das condições clinicas psicopatológicas, tais funções mostram-se alteradas e, por isso, servem como indicativos aos profissionais. No mais, o exame também visa apreender o quadro geral do paciente no que diz respeito aos atributos e características físicas no momento da entrevista. 

Desse modo, para ampliar a confiabilidade do diagnóstico no âmbito da saúde mental, realizar um diagnóstico diferencial é fundamental. Kraepelin foi um dos primeiros a impulsionar essa forma de diagnóstico, a fim de diferenciar e procurar irregularidades entre dois quadros psicopatológicos que possuíam similaridades sintomáticas. 

Essa maneira de diferenciar quadros clínicos é essencial para averiguar as vivências existenciais de cada sujeito que podem propiciar o desenvolvimento de sintomas semelhantes aos presentes em quadros psiquiátricos. (Ex.: um período de extrema tristeza em decorrência da vivência de um luto normal, resposta normal do organismo frente a situações de estresse)

Diante das questões pontuadas acima, é fundamental que, ao levantar uma hipótese diagnóstica, o paciente tenha passado por diversas avaliações físicas, neurológicas, incluindo avaliação psicológica, além de exames complementes de outras ordens. Um diagnóstico pode ser um instrumento imprescindível no que se refere ao desenvolvimento de intervenções eficazes tanto no fazer do psicólogo como de outros profissionais, com o foco na melhoria da qualidade de vida das pessoas acometidas, bem como na construção cooriginaria de estratégias de enfrentamentos que visem a mitigação de sintomas.  

Reitera-se que o diagnóstico não pode e não deve ser utilizado para fins diferentes dos pontuados acima, pois podem contribuir para a segregação social de pessoas com transtornos mentais, ampliando o seu quadro de sofrimento existencial. Além disso, pactuando de maneira direta para a exclusão e para práticas desumanizadas no trato a essas pessoas. 

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Referências 

DALGALLARONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. São Paulo: Artmed, 2019. Ed.3 

CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstivo – V. – Porto Alegre: Artmed, 2007.

HUTZ, Claudio Simon; BANDEIRA, Denise Ruschel; TRENTINI, Clarissa Martini; KRUG, Jefferson Silva. Psicodiagnóstico. Porto Alegre: Artmed, 2016.

PAOLIELLO, Gilda. O problema do diagnóstico em psicopatologia. Campinas, São Paulo, 2000.