O avanço do envelhecimento precoce da saúde bucal no período pandêmico | Colunista

Em 2020 fomos surpreendidos bruscamente por uma pandemia afetando a todos nós, seja mentalmente ou fisicamente. Muito tem sido falado sobre como o psicológico está sendo afetado com o turbilhão de informações trágicas, necessidades de continuar a vivência de uma forma nunca vivida antes, e o pior: tudo isso da noite para o dia. Nós sabemos a dificuldade que tem sido essa adaptação, imagina só para o nosso corpo? Como será que tem sido a adaptação do nosso sistema morfofisiológico?

O sistema estomatognático tem em sua composição ossos, músculos, lábios, articulações, bochechas, artérias, veias, nervos e até glândulas fazendo parte através de toda uma união para termos nosso sistema funcional de sucção, mastigação, deglutição, respiração e fonoarticulação funcionando de forma adequada. Quando há um desequilíbrio em algum desses fatores, o nosso corpo acaba nos mostrando em algum momento. Mais a frente vamos conseguir entender melhor como isso pode acontecer e como pode aparecer odontologicamente.

Não é segredo para ninguém que estamos vivendo em uma geração acelerada, com uma necessidade enorme de tudo ser feito para ontem (e ainda sim vão ter os que acham tarde). Com a rapidez tecnológica que estamos tendo, diariamente nós cruzamos com muitas informações. Na Odontologia há uma necessidade enorme dos acadêmicos e dos profissionais se adaptarem ao mundo digital, fazendo com o que os mais antigos se renovem e se adequem a esse novo mundo. 

Com essa necessidade de vivermos constantemente em aceleração, com a mente coletando informações a cada minuto, muitas vezes não há psicológico que suporte. O século atual apresenta um número absurdo de casos de transtornos de ansiedade, depressão, obsessivo-compulsivo, entre muitos outros. E como muitas vezes essa descarga de adrenalina é descontada? Afetando o nosso sistema funcional.

Com isso, há o aparecimento de sintomas, como: hipersensibilidade dentinária, dor orofacial, cefaléia temporal, contração mandibular, fadiga facial, havendo todo um processo de desequilíbrio por trás desses alertas do corpo. E é agora que você vai entender isso melhor. 

A atrição é vista quando há contato entre os dentes superiores e inferiores na oclusão, causando uma perda de estrutura dentária, ocasionando o aparecimento do bruxismo, por exemplo. Com os estresses do dia a dia, muitas vezes a parte funcional da face acaba sendo descontada por meio de tensionamentos dentários, seja por meio do sono ou em estado em vigília. 

Da mesma forma que o bruxismo, o surgimento de disfunção temporamandibular tem crescido bruscamente no dia a dia do clínico. A nossa articulação temporomandibular é composta pela fossa articular e pelo disco articular, em que para ocorrer a função da ATM é necessário que haja um acompanhamento desse disco ao movimento do côndilo mandibular, pois não há como haver uma movimentação sozinho. Quando há força exagerada na musculatura, o disco sai do lugar, e acaba se deslocando, assumindo uma posição fora do seu normal. 

Portanto, o contato entre as superfícies articulares durante os movimentos de abertura e fechamento mandibular são mantidos pela morfologia do disco e pressão interarticular resultante do equilíbro da atividade muscular. No bruxismo, o hábito constante de lateralidade pode ocasionar uma força excessiva no músculo pterigoideo lateral -um músculo extremamente importante na atuação da mastigação- e pode acabar entrando em colapso e causando uma desordem no sistema articular e muscular.

Há muitos estudos sobre a possibilidade do bruxismo influenciar na ocorrência das disfunções temporomandibulares, e a grande parte dos pesquisadores encontram que analisados de forma simultânea, há fortes associações entre elas sim, mas não é possível dizermos que necessariamente um paciente com bruxismo pode apresentar – agora ou lá na frente- uma disfunção temporomandibular e vice-versa, pois há casos em que não se associam. 

No entanto, deve ser muito ressaltado a importância de ambas questões no âmbito psicossocial para o seu tratamento. De nada adianta confeccionar uma placa para bruxismo extremamente funcional, impecáveis resinas ou facetas para disfarçar os desgastes ou fazer o paciente investir em sessões de laserterapia para diminuir a dor orofacial se há por trás outras questões que não estão centralizadas somente na Odontologia.

O tratamento deve ser feito uma análise e anamnese criteriosa envolvendo uma equipe interdisciplinar quando houver um diagnóstico frente a casos como estes. Deve ser realizado, ainda, um diálogo a fundo para que o paciente possa entender a importância de sua melhora ser a longo prazo, pois funcionalmente será mais benéfico para ele próprio. Ou seja, é de mera importância que nós saibamos sobre como funciona por inteiro o processo funcional estomatognático, mas mais ainda: saber que  o nosso paciente não se resume apenas a isto. Todos nós somos as nossas batalhas diárias enfrentadas.

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???? Referências:

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