O sistema fascial pode ser definido como um tipo de tecido conjuntivo interconectado, apresentando características de resistência e elasticidade que envolve músculos e vísceras. A sua camada superficial encontra-se abaixo da pele, e a camada mais profunda envolve os músculos e nervos. As principais funções deste sistema são de proteção, lubrificação e nutrição, além de, permitir o deslizamento dos músculos.
A fáscia possui características viscoelásticas que a fazem desenvolver e armazenar energia, a sua plasticidade tem a capacidade de fazer com que assuma um novo comprimento quando a estrutura é esticada, e a biotensigridade atua realizando a absorção do impacto, durante a dissipação das forças em determinado tipo de movimento, ou seja, repercute por todo o corpo. Tal fator explica a importância da fáscia para o sistema musculoesquelético e visceral.
O Tecido Fascial como exemplo da Biotensigridade
O termo Biotensigridade é dado pela junção das palavras tensão e integridade, em que as estruturas corporais são mantidas juntas pela conexão dos segmentos fasciais do sistema musculoesquelético de numerosas cadeias musculares viscoelásticas. Tudo isso é dependente da tensão provocada pelas forças externas que atuam no nosso corpo, transmitindo forças vetoriais em várias direções, as quais iram se dissipar e manter o sistema em equilíbrio.
O tecido fascial é um exemplo da biotensigridade, por ser um tipo de tecido conjuntivo interligado, tendo como principal função a transmissão de forças em todo o corpo. As obras de Kenneth Snelson, escultor e fotógrafo contemporâneo americano, são exemplos da aplicação dessas forças, geradas por meio da angulação dos fios que passam pelos tubos criando compressão local e tensão continua tendendo ao equilíbrio estrutural, como demostrado na Figura 1.
Figura 1-Obra de Kenneth Snelson
Fonte – Needle Tower: Construída em 1968
Caso um objeto seja pendurado em algum ponto da extremidade da estrutura, essa, irá se adaptar à nova deformação se envergando para o mesmo lado, e posteriormente ao ser retirado o objeto a estrutura retornaria ao ponto inicial. No corpo humano, o conceito de tensegridade está relacionado aos segmentos corporais, influenciados por padrões de movimentos dependentes de fatores externos e biomecânicos.
Em física, o movimento consiste na mudança de posição de um corpo ou de um sistema em relação ao tempo. Na ciência, especificamente na Cinesiologia o movimento é analisado através dos princípios da mecânica, a qual se embasa por meio de dois princípios a cinemática e a dinâmica, ambos relacionados ao movimento, entretanto, o segundo, consideram-se unicamente as forças que atuam durante o deslocamento do corpo humano.
Padrões de movimento como ponto chave para achados de compensações de movimento
O padrão de movimento de um segmento corpóreo é um dos fatores mais importantes a serem avaliados dentro de um contexto biomecânico, por estarem associados a casos de lesões. O desequilíbrio tensional pode estar associado aos seguintes conceitos que embasam o movimento, a rigidez tecidual, sendo esta uma propriedade mecânica, relacionada a resistência oferecida pelo tecido a sua deformação.
Analisando uma mola presa em uma das extremidades a um suporte, em um estado de repouso, quando aplicamos uma força (F) na outra extremidade, a mola tende a deformar, esticar ou comprimir dependendo do sentido da força aplicada. Ao aplicarmos este conceito no corpo humano podemos dizer que a razão entre a mudança na tensão do músculo por unidade de mudança no seu comprimento denomina-se resistência muscular passiva.
O segundo conceito é a flexibilidade, podendo ser conceituada como a capacidade do tecido se alongar. Podendo ser passivo, quando o movimento de um segmento dentro da amplitude de movimento é livre, sendo produzido inteiramente por uma força externa sem contração muscular, ou ativo, quando se realiza o movimento de um segmento dentro da amplitude de movimento (ADM) livre produzido pela contração ativa dos músculos que cruzam aquela articulação.
As alterações dos padrões de movimento podem estar associadas ao aumento entre a capacidade ou a demanda, sendo o primeiro relacionado a habilidade do sistema em gerar e transmitir as forças, e o segundo ao estresse do indivíduo em determinado período de tempo, tendendo ao desequilíbrio tensional e consequentemente as derivações de compensações durante o movimento.
Contudo, fica explícito que o sistema fascial é um elemento importante para manutenção do corpo humano, através das suas propriedades viscoleláticas, além de sua capacidade de gerar e dissipar as tensões provocadas para os segmentos corporais de forma condizente. Cabe ressaltar que, ainda há poucos estudos que detalhem este sistema e os conceitos descritos acima, portanto se faz necessário maiores evidências científicas, as quais comprovam a atuação da biotensigridade no corpo humano.
Referências
Figueirôa, Giovana Rossi. et al. Manual de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia. 1d- Salvador, BA: Editora Sanar, 2020.
Serge Paoletti. The Fascie: Anatomy Dysfunction and Treatment. 1 agosto, 2006.