Exames laboratoriais importantes para COVID-19 | Colunista

A pandemia de COVID-19 trouxe uma série de desafios sem precedentes aos sistemas de saúde, que se depararam bruscamente com as novas demandas associadas principalmente à síndrome respiratória aguda grave, com o desconhecimento da doença e com a alta demanda de pacientes em busca de atendimento à saúde. Diante desse contexto complexo, os exames laboratoriais consistem em ferramentas essenciais principalmente para o diagnóstico, acompanhamento da efetividade da farmacoterapia adotada, como forma de prever do prognóstico do paciente e também para auxiliar os profissionais de saúde na tomada de decisões.

Para o diagnóstico da doença, o teste padrão ouro é o RT-PCR, todavia, a identificação da COVID-19 também pode ser realizada indiretamente através da mensuração da resposta imune do indivíduo à infecção pelo SARS-COV-2, agente etiológico da COVID-19, utilizando testes sorológico o teste de antígenos. Logo abaixo se encontram as especificações de cada um desses testes e quando devem ser solicitados. 

RT- PCR (Reverse transcription polymerase chain reaction

Este teste permite a detecção do SARS-CoV-2 através da amplificação de sequências conservadas do vírus através da identificação do RNA viral. Ele apresenta especificidade de aproximadamente 100%, mas sua sensibilidade é dependente de alguns fatores como a amostra coletada e o período da doença em que o paciente se encontra. Para realização desse exame, as amostras são coletadas através do swab do lavado broncoalveolar, que apresenta melhor sensibilidade quando comparada com amostras de escarros, material nasal e da orofaringe. É válido ressaltar que é recomendado que, esse exame seja utilizado para o diagnóstico da doença nas fases assintomática, pré-sintomática ou sintomática, que ocorrem nos 12 primeiros dias a contar do início dos sintomas.

TESTES SOROLÓGICOS

Também conhecidos como testes rápidos, possibilitam a detecção de anticorpos das classes IgA, IgM e IgG contra o SARS-CoV2 por meio da técnicas de ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) ou quimioluminescência. É válido salientar que, o IgG positivo indica que o indivíduo já teve contato prévio com o vírus, enquanto que o IgM indica que o paciente encontra-se infectado naquele momento.

Ressalta-se que a detecção dos anticorpos de SARS-CoV2 de fase aguda parece se iniciar em torno do 5º dia de sintomas e podem ter positividade cruzada pela infecção por outros vírus, ou vacinação contra a influenza, o que faz com que esses exames sejam utilizados como preditivos, mas não definitivos da doença ou infectividade por COVID-19. Neste sentido, os testes rápidos são indicados para serem realizados entre os dias 4 e 9 dos primeiros sintomas da infecção, visto que a concentração de IgM ocorre dentre esses dias, sendo o pico de IgM específica no dia 9 após o início da doença, e a mudança para IgG ocorre a partir da segunda semana.

Como forma de acompanhar clinicamente principalmente pacientes hospitalizados por COVID-19 alguns exames laboratoriais são importantes, dentre os quais, destacam-se o hemograma, d-dímero, e PCR.

TESTE DE ANTÍGENOS

O teste de antígenos também tem sido muito utilizado. Ele tem por finalidade a detecção da proteína do nucleocapsídeo viral do SARS-COV-2 e apresenta como principal vantagem a necessidade de menor tempo para obtenção do resultado, onde em até duas horas é possível verificar se o paciente apresenta ou não a infecção viral ativa. Outro ponto positivo é o menor custo quando comparado aos testes sorológicos. Todavia, chama-se atenção especialmente quanto a sensibilidade desse teste, que apresenta-se inferior em relação ao PCR. Dessa forma, recomenda-se que ele seja realizado somente em pacientes que apresentem carga viral elevada, que acontece especialmente na fase pré-sintomática e na fase sintomática inicial, que em geral vai até o sétimo dia da infecção.

HEMOGRAMA

O hemograma como um todo, consiste em um exame que apesar de simples, oferece uma série de informações importantes sobre as condições de saúde do indivíduo. Em pacientes com COVID-19 é importante estar atento principalmente aos parâmetros que envolvem a quantificação de linfócitos, que tendem a uma linfocitopenia (diminuição). Isso ocorre devido a uma menor resposta ao vírus, visto que os linfócitos apresentam em sua membrana plasmática receptores expressos ACE2 para o coronavírus,  o que os torna um possível alvo de infecção. Além disso, é importante atenção à leucocitose e/ou neutrofilia, visto que, o aumento no número de leucócitos, associados à redução de neutrófilos tende a estar associada com infecção bacteriana, que tem sido recorrente em pacientes internados por COVID-19. 

D-DÍMERO

 O D-dímero consiste em um importante marcador de coagulação sanguínea, que nos casos de COVID-19 pode se elevar desde o estágio inicial da doença. Recomenda-se que ele seja realizado assim que o teste RT-PRC dê positivo, e deve ser feito especialmente em indivíduos que apresentam histórico prévio ou que tenha uma predisposição genética à trombose. A realização desse exame tem demonstrado ser valioso, visto que este pode orientar quanto à necessidade ou não do uso de anticoagulantes pelos pacientes, e evitar a trombose dos alvéolos, que tem sido recorrente em pacientes que apresentam COVID-19. 

PCR

De forma geral, tem sido observado o aumento de marcadores de fase aguda em quadro de infecção por COVID-19. Dentre os quais, o mais utilizado dentro do contexto de emergência e urgência é a proteína C-reativa (PCR), visto que esta apresenta alta sensibilidade na fase aguda da infecção. Porém, por sua baixa especificidade, deve ser utilizada com cautela. 

Além desses exames laboratoriais, deve-se estar atento a alterações nos eletrólitos e glicose, visto que estas revelam alterações metabólicas importantes que podem impactar sobre o estado geral do paciente. Além disso, a quantificação de AST (TGO), ALT (TGP), Bilirrubinas e Albumina fazem-se importante a fim de identificar um eventual dano hepático, que é comum em indivíduos que fazem utilização extensiva de múltiplos medicamentos, como nos casos graves de COVID-19, e de classes medicamentosas específicas.

Além disso, a dosagem de Ureia, Creatinina são essenciais em pacientes hospitalizados por COVID-19, visto que eles tendem a apresentar complicações renais, que por meio da realização desses exames, torna-se possível avaliar o dano renal do paciente. A presepsina também é importante de ser solicitada, visto que ela possibilita o monitoramento da gravidade da infecção viral, e por fim a Procalcitonina, que permite avaliar a coinfecção bacteriana, que tem sido recorrente em quadros de infecção por COVID-19. 

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REFERÊNCIAS

DE OLIVEIRA JUNIOR, Ricardo Brito; LOURENÇO, Patrick Menezes. Alterações laboratoriais e a COVID-19. RBAC, v. 52, n. 2, p. 198-200, 2020.

DIAS, VM de CH et al. Testes sorológicos para COVID-19: interpretação e aplicações práticas. J. Infect. Control, v. 9, 2020.

THACHIL, Jecko; CUSHMAN, Mary; SRIVASTAVA, Alok. A proposal for staging COVID?19 coagulopathy. Research and practice in thrombosis and haemostasis, v. 4, n. 5, p. 731-736, 2020.

VIEIRA, Luisane Maria Falci et al. COVID-19-Diagnóstico Laboratorial para Clínicos. 2020.