Conhecer a cinesiologia e a biomecânica das articulações é de suma importância para o profissional da fisioterapia. Com isso, podemos dizer que o ombro é formado pela cabeça do úmero que se encaixa na cavidade glenoide, e que por ser muito menor que o úmero necessita do labrum para aumentar a área de contato entre as estruturas. Além disso, o ombro possui estabilizadores passivos, que são formados pela cápsula e ligamentos, e estabilizadores ativos, que são formados pela musculatura, principalmente a do manguito rotador, que ajuda na estabilização da articulação glenoumeral, e que assim, pode realizar os movimentos de forma sinérgica.
Falando em movimento, o ombro se movimenta em 3 planos. No plano sagital temos os movimentos de flexão e extensão, no plano transverso temos o movimento de rotação externa e interna, e no plano frontal temos os movimentos de adução e abdução, que é o foco desse artigo.
Dito isso, um dos maiores pesquisadores dessa área e escritor do livro “Cinesiologia do Aparelho Musculoesquelético”, o professor Donald Neumann descreve nesse mesmo livro, os 6 princípios da cinemática do complexo do ombro durante o movimento de abdução, que são eles:
Primeiro Princípio
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O arco de movimento de 180° durante a abdução do ombro somente é possível devido aos movimentos combinados da articulação glenoumeral (120°) e da articulação escapulotorácica (60°).
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Conhecido como ritmo escapuloumeral, consiste no movimento em conjunto dessas duas articulações. Tal movimento ocorre de 1:1 até os primeiros 30° de abdução, e depois ocorre na proporção de 2:1.
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A cada 2° da articulação glenoumeral (GU), a escapulotorácica (ET) se movimenta 1°
Segundo Princípio
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Os 60° de rotação superior da escapulo durante a abdução do ombro somente são possíveis devido à elevação da clavícula na articulação esternoclavicular (EC), combinadas com a rotação superior da escapula na articulação acromioclavicular (AC)
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A articulação esternoclavicular eleva-se cerca de 30° durante a abdução completa
Terceiro Princípio
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Esse princípio diz que durante a abdução, a clavícula realiza o movimento de retração na articulação EC
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Na posição anatômica a clavícula fica praticamente horizontalizada cerca de 20° posterior ao plano frontal. Já durante a abdução a clavícula retrai mais 15°, isso ajuda a articulação AC a otimizar o posicionamento da escápula no plano horizontal
Quarto Princípio
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O quarto princípio diz que durante a abdução, a escápula realiza um tilt posterior de aproximadamente 20° e roda externamente cerca de 10°
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No descanso a escápula fica em tilt anterior de aproximadamente 10° e em cerca de 35° de rotação externa
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Esses movimentos são necessários para poder movimentar o arco coracoacromial para longe da cabeça umeral, assim, aumentando a amplitude de movimento e não ocorrendo o choque das estruturas.
Quinto Princípio
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Mostra que clavícula roda no seu próprio eixo cerca de 30°
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Essa rotação aproxima o ligamento coracoclavicular do processo coracoide, assim, tirando a tensão posta sobre ele, e permitindo que a escápula realize os últimos graus de rotação superior
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Sem esse movimento da clavícula não é possível realizar os últimos graus de abdução do ombro
Sexto Princípio
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O sexto princípio diz que o úmero naturalmente realiza uma rotação externa. Essa rotação externa faz com que o tubérculo maior do úmero não se choque com o acrômio.
Com isso, podemos concluir que, o conhecimento é uma arma muito importante, que pode ser usada para tratar pessoas em diferentes situações. No entanto, do que adianta ter o conhecimento se não podemos externa-lo? Por isso, escrevo esse artigo e indico o livro de Donald Neumann, para quem se interessar em adquirir mais conhecimento sobre como funciona o nosso corpo.
Referências
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Neumann, Donald A. Kinesiology of the Musculoskeletal System. 3rd ed., Mosby, 2016.