Teorias de enfermagem: a filosofia do cuidado | Colunista

A enfermagem é a ciência e a arte do cuidar, cujo objetivo principal é prestar o cuidado à família, à comunidade e ao ser humano em todas as suas fases da vida (1).

Como toda ciência requer sua filosofia própria e assim como existe na Física várias teorias, como a Teoria Especial da Relatividade de Albert Einstein, na enfermagem existem as Teorias de Enfermagem.

Com o avanço da profissão, na década de 50 e 60 surgiram as primeiras teorias de enfermagem (2), procurando relacionar fatos e estabelecer bases científicas para atuação de enfermagem (3). Esse movimento iniciou quando os enfermeiros começaram a refletir sobre a prática e a definição de enfermagem, buscando por respostas as questões, tais como: “O que é enfermagem? ” ou “O que fazem os enfermeiros? ”. Essa busca por respostas e a análise dessas questões, resultou nas teorias de enfermagem (4).

O esquema abaixo apresenta o histórico das etapas que a enfermagem seguiu para alcançar a filosofia própria de sua ciência – a filosofia do cuidado (4).

PRÁTICA → EDUCAÇÃO → ADMINISTRAÇÃO → TEORIZAÇÃO → FILOSOFIA DO CUIDADO

Ao longo de sua história, a enfermagem passou por várias etapas. Inicialmente se preocupou em aprimorar sua prática, depois focou na adequação dos estudos de enfermagem e após se preocupou com a organização administrativa da assistência. Mas a partir da etapa de TEORIZAÇÂO, que os profissionais começaram a produzir conhecimento, metodologias, fundamentos e teorias de enfermagem, construir uma lógica específica na assistência (4).

Para Leopardi, as principais características das Teorias de Enfermagem são (4):

  • Versões da realidade.

  • Expressões de valores sobre seu objeto.

  • Ferramentas para intervenção na realidade.

  • Representações do estado de arte profissional.

  • Propostas desde Florence Nightingale.

  • Referência ao cuidado.

  • Geradoras de conflitos.

  • Soluções para problemas relacionados ao fazer profissional.

Quais são as principais Teorias de Enfermagem?

Em algum momento dentro da área de enfermagem, já ouviu falar sobre as teorias de enfermagem. Apresentaremos a seguir o resumo das principais Teorias de Enfermagem desenvolvidas por grandes nomes da área (3 e 4).

  • Teoria Ambientalista – Florence Nightingale

Itália – 1859: Florence foi a pioneira na enfermagem no mundo. Ela acreditava que o ambiente e as influências externas afetam a vida e o desenvolvimento do organismo, como: a iluminação, ventilação, limpeza, calor, odores, ruídos e alimentação eram capazes de prevenir, diminuir, acabar ou contribuir para a doença e morte do indivíduo.

  • Teoria das Relações Interpessoais – Hildegard Peplau

Estados Unidos – 1952: Peplau foi a primeira enfermeira após Nightingale a publicar uma teoria. Ela acreditava que as relações entre o enfermeiro e o paciente geram crescimento e desenvolvimento humano. Com base nos seus estudos pode formular definições para conflito, agressão e ansiedade.

  • Teoria das 14 Necessidades Humanas Básicas – Virgínia Henderson

Estados Unidos – 1955: Virginia acreditava que a enfermagem deve assistir ao indivíduo doente ou sadio no desempenho de suas atividades e se possível torna-lo independente, contribuindo para sua saúde ou morte tranquila, atendendo as suas necessidades humanas básicas.

  • Teoria Prescritiva – Ernestine Wiedenbach

Estados Unidos – 1964: Para Wiedenbach a enfermagem é um serviço de auxílio, de nutrição e de cuidado com compaixão, entendimento e habilidades, sendo a sensibilidade o foco principal para ajudar a enfermagem a identificar os problemas do paciente.

  • Teoria dos Sistemas de Enfermagem – Imogene King

Estados Unidos – 1964: King acreditava que a enfermagem é um processo de interação em que cada um percebe o outro através da comunicação, onde ambos sugerem objetivos para manter a saúde. Baseou-se nas teorias dos sistemas interatuantes: social, interpessoal e pessoal.

  • Teoria da Adaptação – Sister Callista Roy

Estados Unidos – 1964: Roy acredita que para o indivíduo responder positivamente as mudanças do meio, ele precisa se adaptar, sendo quatro modos de adaptação: necessidades fisiológicas, autoconceito, papel funcional e interdependência. O objetivo é aumentar o enfrentamento para gerar a adaptação.

  • Teoria da Enfermagem Humanística – Josephine G. Paterson & Loretta T. Zderad

Estados Unidos – 1966: Elas acreditavam que há uma mutualidade entre enfermeiro e aquele que necessita do cuidado de enfermagem, que se tornam dependentes e interdependentes de acordo com suas experiências de vida. Tem como objetivo a qualidade tanto do cuidado como da vida do enfermeiro.

  • Teoria da Relação Interpessoal – Joyce Travelbee

Estados Unidos – 1966: Joyce acreditava que a enfermagem é um processo interpessoal entre dois seres humanos, no qual um precisa de ajuda e outro a fornece. Proporcionando ao paciente meios para enfrentar a situação da doença, aprendendo com a experiência e fazendo escolhas, com a auxílio da enfermagem.

  • Teoria Holística – Myra Levine

Estados Unidos – 1967: Levine acreditava que o ser humano era comporto por corpo-mente que responde e interage de acordo com o meio. Sendo o papel da enfermagem realizar intervenções com a finalidade de conservação da energia, da integridade estrutural, pessoal e social. 

  • Teoria das Necessidades Humanas Básicas – Wanda Horta

Brasil – 1970: Para Horta os seres humanos possuem necessidades humanas básicas e buscam satisfazê-las. A enfermagem deve assistir o ser humano no atendimento dessas necessidades e se possível torná-lo independente nesse processo de cuidado. Ela elaborou o Processo de Enfermagem em seis passos: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano ou prescrição de enfermagem, evolução de enfermagem, prognóstico de enfermagem.

  • Teoria do Ser Humano Unitário – Martha Rogers

Estados Unidos – 1971: Rogers acreditava que o ser humano e o meio ambiente são sistemas abertos, em constantes trocas de matéria e energia, como campos de energia infinitos que interagem uns com os outros. O enfermeiro deve ser um profissional que promove uma interação harmoniosa entre o indivíduo e o seu meio.

  • Teoria do Autocuidado – Dorothea Orem

Estados Unidos – 1971: Orem acreditava que as pessoas desejavam e podiam se tornar aptas a desempenhar o seu autocuidado, podendo a enfermagem assumir essa tarefa quando não são capazes de realizá-las. Ela propôs três teorias articuladas entre si: a dos déficits do autocuidado, de autocuidado e dos sistemas de enfermagem.

  • Teoria dos Sistema de Saúde – Betty Neuman

Estados Unidos – 1971: Neuman acredita que que cada indivíduo é único e composto por variáveis fisiológicas, psicosocioculturais e espirituais, onde cada uma delas é uma subparte de um todo, interagindo com o meio que pode ser o interno ou externo. Os estressores são forças da natureza intra/extra e interpessoal, com o poder de quebra da estabilidade desse sistema. E a enfermagem é uma profissão única, que se preocupa com essas variáveis e pode intervir, ajudando o indivíduo a desenvolver melhores respostas.

  • Teoria de Enfermagem Transcultural – Madeleine Leininger

Estados Unidos – 1978: Leiniger acreditava que os povos de cada cultura eram capazes de conhecer e definir suas práticas de saúde conforme suas experiências, crenças e através do cuidado de enfermagem. Para ela, o cuidado é a essência da enfermagem e seu foco único, unificador e dominante, não existindo cura sem cuidado. Sendo a enfermagem uma disciplina de cuidados transculturais humanísticos. Criou o modelo Sunrise ou Sol Nascente como guia para o planejamento e  intervenção da Enfermagem.

  • Teoria do Ser Humano-Existência-Saúde – Rosemarie Rizzo Parse

Estados Unidos – 1981: Parse propõe que se olhe o ser humano como uma unidade viva participativa, no qual a enfermagem focaliza-o com um todo aberto, que coparticipa com o meio para criar e transformar, deixando-o livre para escolher sua forma de viver e responsável pelas decisões tomadas. O enfermeiro tem o objetivo do cuidado e a cura através da busca de significados, tendo uma participação qualitativa.

  • Teoria Sócio-Humanista – Beatriz Beduschi Capella & Maria Tereza Leopardi

Brasil – 1996: Elas acreditavam que o ser humano é composto por um ser natural, submetendo-se às suas leis para sobreviver e se transforma conforme suas necessidades. A enfermeiro responde ao indivíduo de acordo com as suas potencialidades e limites da assistência de Enfermagem.

Considerações finais

As Teorias de Enfermagem são um conjunto de conceitos, definições, relações e pressupostos que:

  • Formulam os conhecimentos na área.

  • Explicam fenômenos entre os sujeitos enfermeiro x cliente x família x comunidade.

  • Testam as funções de enfermagem.

  • Apoia os enfermeiros em seus papéis.

  • Refletem o domínio da prática de enfermagem.

  • Fornece subsídios para a assistência em saúde.

  • Fortalece a enfermagem como ciência.

Com isso, há razões para utilizar as teorias na assistência de enfermagem, olhando por uma perspectiva mais geral na filosofia da ciência ou em suas particularidades, refletindo sobre seu desenvolvimento e potencialidades aplicáveis para o alcance de resultados e qualidade nas práticas profissionais.

Matérias relacionadas:

post apoio atualização_1524x200_lp-atualização (1).jpg (122 KB)

Referências

1. O que é enfermagem? [Online] Brasil, 2021 [consultado em 03 de abr. 2021] Disponível em: http://www.juventudect.fiocruz.br/categoria-ciencia/ciencias-da-saude/enfermagem

2. A Teoria de King e sua interface com o programa “Saúde da Família” [Online] Brasil, 2021 [consultado em 03 de abr. 2021]. Disponível em: http://www.ee.usp.br/REEUSP/upload/html/136/body/05.htm

3. Horta WA. Processo de Enfermagem. 1. Ed. São Paulo: EPU: Ed. Da universidade de São Paulo; 1979. 99 p.

4. Leopardi MT. Teorias de Enfermagem. 1. Ed. Florianópolis: Ed. Papa-Livros; 1999. 228 p.