Cuidados paliativos: o renascimento na vivência da experiência morte-morrer | Colunista

Muito se fala sobre a modalidade de Cuidados Paliativos como uma estratégia de assistência direcionada ao paciente fora da possibilidade de cura. Caracterização inadequada, visto que, os Cuidados Paliativos são prestados a qualquer indivíduo portador de doença crônica transmissível ou não-transmissível, grave, progressiva e que ameace a continuidade da sua vida, desde o seu diagnóstico. Para compreender melhor o caráter da paliação, é fundamental conhecer os seus pilares:

  • Controle dos sinais e sintomas;

  • Apoio ao binômio paciente-família;

  • Comunicação;

  • Transdisciplinaridade, interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. 


Figura 1: Pilares dos Cuidados Paliativos. Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.

O objetivo da paliação é manejar quaisquer fatores estressores para o paciente, que influencie na sua qualidade de vida e no comprometimento das suas atividades básicas de vida diárias. É relevante enfatizar isto, pois essa modalidade de cuidado consiste no alívio e prevenção da dor e do sofrimento, sejam elas de origem biológica/fisiológica, psíquica ou ainda social, sempre que possível. O ideal é anteceder o aparecimento do sintoma, evitando que o paciente sinta o desconforto.


Figura 2: Centralização do cuidado e a individualidade de cada usuário, em seus respectivos contextos biopsicossociais.  Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.

Paliar é ainda uma forma de cuidar genuinamente do usuário, envolve sua completude, é holístico e integral. Preocupa-se com o processo biopsicossocial da pessoa, considera o seu contexto socioeconômico e as vulnerabilidades as quais o indivíduo esteja submetido, permitindo assim que o seu cuidado seja global. Além disso, o processo morte-morrer está intrinsecamente conectado ao Cuidado Paliativo. Mas o que será necessário para prestar essa assistência da melhor maneira?


Figura 3: Características importantes do profissional de enfermagem que deseja prestar assistência ao paciente em abordagem paliativa. Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.

A Organização Mundial de Saúde (OMS), reafirma, concomitante à Agência Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), que os Cuidados Paliativos fornecem o manejo da dor total, do sofrimento psicossocial e emocional. Que centraliza o cuidado no ser humano que está vivendo esse processo de adoecimento. Para cuidar desse paciente, profissionais da grande área da saúde estão envolvidos, agregando estratégias e conhecimentos para melhor assistir ao usuário.

O enfermeiro, enquanto profissional da abordagem paliativista, ingressa no programa de residência, que dura em média 2 anos, a depender do centro de estudos, podendo chegar até a 3 anos.  O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) divulga como dado, que o profissional de enfermagem no campo de cuidados paliativos representa atualmente um montante de 2,1 milhões. Representam uma força de trabalho, que é vital para a manutenção do cuidado integral ao paciente.

Atuação do profissional de enfermagem nos cuidados paliativos:

  • Educação em saúde;

  • Administração e cuidados de enfermagem relacionado ao uso de quimioterápicos;

  • Promoção de saúde e prevenção de agravos relacionados ao tratamento de quimioterapia, bem como radioterapia;

  • Apoio emocional;

  • Compreensão social do binômio paciente-família;

  • Promoção do conforto e dignidade do paciente e da família;

  • Oferecer suporte emocional, espiritual e físico, sempre que possível;

  • Cumprir prescrição médica e dialogar sugerindo possíveis alterações que corroborem para o bem-estar do paciente;

  • Realiza a consulta de enfermagem no ambiente hospitalar, bem como realização do exame físico geral e direcionado;

  • Realizar os diagnósticos de enfermagem e planejar as intervenções para tais;

  • Fazer os cuidados aos dispositivos portados pelo paciente etc.

O profissional de enfermagem gerencia o cuidado desde o preparo do ambiente, até a mais especializada forma de assistência. Um dos grandes valores da equipe de enfermagem é o diálogo, isto porque é o profissional que se encontra à beira leito a maior parte do tempo e conhece as minúcias relacionadas às peculiaridades desse sujeito. Esse saber produz um cuidado diferenciado, pois a equipe conversa no mesmo compasso, as intervenções são conexas e reverberam em melhor efeito. 

  • Ambiente de assistência nos Cuidados Paliativos


    Figura 4: A relação entre processo de morte-morrer e a ambiência. Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.

Você provavelmente está pensando, mas cuidado no domicílio? Sim! Um dos desejos da paliação é a luta pela desospitalização, visto que o ambiente hospitalar reflete nos estados psíquico e físico do indivíduo. Estar em casa, próximo aos entes queridos, cercado pela rotina que lhe era vivenciada antes do adoecimento, favorece a sua qualidade de vida no processo de finitude. O profissional de enfermagem também é capacitado para fazer a comunicação de más notícias.


Figura 5: Técnicas especiais para a comunicação de notícias difíceis para o paciente e fa Fonte: Arquivo pessoal Lara T. F. S. Honório.miliares.

Protocolo de Spikes.png (109 KB)
No contexto atual em que vivemos, pandemia pelo SARS-Cov-2, é importante que os Cuidados Paliativos cheguem aos pacientes em tratamento de Terapia Intensiva, ainda que não se trate de uma doença crônica. A iminência do agravamento e até mesmo da morte, nessa doença infectocontagiosa, faz necessária a presença desses profissionais em sua rotina. Mais uma lição que a pandemia trouxe é que, mesmo os profissionais que se especializaram para esse cuidado se perceberam em uma posição de dificuldade para prestar assistência. 

As precauções de contato para minimizar os riscos de infecção acabam privando os familiares da vivência do processo morte-morrer do seu ente querido. Nesse momento, apenas as tecnologias leves não são suficientes e precisamos nos adaptar ao uso de outras tecnologias. Nós vimos a necessidade de aderir à tecnologia para promover o cuidado e acolhimento às famílias e pacientes, como em uma chamada de vídeo, por exemplo.

Matérias relacionadas:

Referências:

BALIZA, M. F; BOUSSO, R. S.; SPINELI, V. M. C. D.; SILVA, L.; POLES, K. Cuidados paliativos no domicílio: percepção de enfermeiras da Estratégia Saúde da Família. Acta Paul Enferm. 2012, N° 25, N° Especial 2, Págs. 13-18. Disponível em: pt_03.pdf (scielo.br) 

PICOLLO, D. P.; FACHINI, M. A atenção do enfermeiro ao paciente em cuidado paliativo. Rev. Ciênc. Med. 2018, Vol. 27, N° 2, Págs. 85-92. Disponível em: Med 4 (00_3855).indd (bvsalud.org)

Brasil. Ministério da Saúde. Manual de Cuidados Paliativos. Disponível em: Manual-CuidadosPaliativos-vers–o-final.pdf (saude.gov.br)

Instituto Nacional de Câncer. Página inicial > Tratamento do Câncer > Cuidados Paliativos. Site: Cuidados Paliativos | INCA – Instituto Nacional de Câncer