Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 2017, o índice de crianças com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no mundo era de uma em cada 160, e sua prevalência tem aumentado conforme o tempo.
As causas do TEA ainda são incertas, estão sendo estudadas, mas sabe-se que dentre elas estão fatores genéticos e ambientais. E não há evidências que vacinas o causem.
Você deve estar se perguntando: O que é o TEA?
É um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta principalmente o comportamento social das crianças, sua linguagem e com isso a comunicação. Eles tendem a repetir movimentos que os acalmem e estimulem, chamados de estereotipia. Assim como a repetição mecânica de falas, a ecolalia.
Outro aspecto é o que chamamos de “Teoria da Mente”, o grande abismo entre a criança e o mundo ao seu redor, a falta de reciprocidade, o não interesse no mundo do outro, nas brincadeiras do outro, em jeitos diferentes do seu, que saiam do seu controle, sendo assim, o autista não interage e por consequência não consegue entender as atitudes e o pensamento do outro.
Estudos apontam que a partir dos 18 meses, esses prejuízos já podem ser observados. Os cuidadores, tendem a serem as primeiras a notar. Geralmente, não há troca de olhares; brinca sempre da mesma forma; não interage com outras pessoas no convívio; não desenvolve a fala no período do desenvolvimento esperado; muitas vezes eles tentam fazer tudo sozinhos, ou pegar nas mãos e levar o cuidador até o objeto desejado, evitando dizer o que precisa. A criança com TEA pode apresentar também dificuldades na imaginação, muitas vezes usam o brinquedo da mesma forma, não inventam novas funções para eles. Pode haver, certa intolerância a texturas, comidas, contato físico, barulho ou luz. Mudança na rotina também pode deixá-las desreguladas.
Notei alguns desses aspectos: E agora?
É importante não esperar, caso surjam dúvidas ou sejam notados alguns desses sintomas é importante procurar um neuropsicólogo, pediatra e neuropediatra. Eles farão aplicação de testes e programas para identificar o diagnóstico inicial.
A conduta clínica mais recomendada e eficiente, segundo a literatura mais recente são as oriundas da Terapia Comportamental, a ABA-Analise Aplicada do Comportamento e a Denver, o objetivo delas é ampliar o repertório da criança e diminuir os comportamentos disruptivos e trabalham com a estimulação das áreas onde existe um déficit maior e o trabalho com habilidades sociais.
Eu preciso começar tão cedo? A criança é muito pequena, ela não vai entender?
Sim, é de extrema importância que esse tratamento seja PRECOCE. O cérebro da criança tem, em grande escala a capacidade de se moldar, modular muito mais depressa e com mais assertividade no início da vida, esse fenômeno é chamado de neuroplasticidade cerebral e ele diminui com o passar dos anos.
Resumindo, nós aprendemos mais rápido durante os primeiros anos de vida!
E os pais, o que podem fazer?
Aprender com os profissionais que trabalham com a criança. Elas deverão ser acompanhadas por uma equipe multidisciplinar, com pediatra, neuropediatra, psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo e terapia ocupacional, entre essa equipe, o ideal é que tenha um acompanhante terapêutico (AT) em casa e na escola, que deverá estimular as áreas menos trabalhadas pelas crianças e deverá ensinar essa estimulação para que os pais trabalharem na ausência do mesmo. Esse AT, é um profissional, não necessariamente um psicólogo, com formação específica e adequada para fazer a estimulação correta. No mercado há diversos cursos nessa área, que se mostra cada vez mais promissora e clínicas que trabalham prioritariamente na formação de acompanhantes terapêuticos.
Essa estimulação deverá ser feita TODOS OS DIAS. A repetição leva ao aprendizado.
Por fim, vamos trabalhar a psicoeducação dos pais, e seu empoderamento. O diagnostico traz uma carga emocional muito grande para os mesmos, além da questão econômica. Por isso, é necessário a atenção com eles também, o cuidado deve ser integral.
Infelizmente, esse transtorno ainda sofre muita discriminação, há falta de conhecimento, mas dependendo do grau e do nível de estimulação o autista pode ter uma vida independente.
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Referências
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