Ceratocisto odontogênico (CO) ou Queratocisto odontogênico é um cisto benigno, mas localmente agressivo. Acredita-se que sua origem esteja na lâmina dentária e afeta comumente a mandíbula posterior. Está associado com a Síndrome de Gorlin. Devido ao seu aspecto agressivo e seu potencial de recidiva,o ceratocisto odontogênico foi classificado até 2016 pela OMS como tumor odontogênico ceratocisto, considerado uma neoplasia benigna.
Em 2017 na nova classificação dos tumores a OMS classificou o ceratocisto odontogênico como como um cisto. Há uma concordância geral de que o ceratocisto odontogênico surge a partir dos restos celulares da lâmina dental, e seu crescimento parece estar relacionados a fatores desconhecidos, inerentes ao próprio epitélio ou à atividade enzimática na parede cística.
Na penúltima classificação dos tumores odontogênicos feita pela OMS (2005), essas lesões foram denominadas de “tumor odontogênico ceratocístico”, pois diversos investigadores sugeriram que os ceratocistos odontogênicos fossem considerados como uma neoplasia cística benigna, em vez de cistos. Isso mostra o quanto um ceratocisto é diferenciado das demais lesões císticas. É importante lembrar que ele tem uma grande prevalência entre os cistos, sendo o terceiro tipo de cisto mais comum. E o segundo tipo de cisto de origem odontogênica mais comum.
Os COs podem ser encontrados em pacientes com idade variável, desde à infância até a velhice, mas cerca de 60% dos casos são diagnosticados em pessoas entre 10 e 40 anos. Há uma leve preferência por homens. A mandíbula é acometida em 60% a 80% dos casos com uma marcante tendência para o envolvimento do corpo posterior e do ramo da mandíbula.
Isso mostra como é grande a presença de lesões em região posterior de mandíbula, pois não apenas ceratocistos são comuns nessa região, mas também o temido ameloblastoma. Por isso ao detectar radiograficamente uma lesão em nessa localização deve-se ter bastante atenção e procurar todos os meios possíveis para que seja feito o diagnóstico o quanto antes. Pois o tratamento precoce, seja em qual for a patologia, é sempre o melhor tratamento, pois gera menos sequelas.
Os COs tendem a crescer numa direção ântero-posterior, dentro da cavidade medular, sem causar expansão óssea óbvia (diagnóstico clínico e radiográfico diferencial). Geralmente são assintomáticos, porém em grandes dimensões (ocasionando assimetria facial) podendo ocorrer dor, edema, drenagem ou ainda serem assintomáticos mesmo em lesões extensas. O fato de ser assintomático mesmo em lesões extensas leva a crer que na maioria das vezes o diagnóstico é feito quando a lesão já está bem extensa, levando a um tratamento mais complexo.
Na maioria dos casos observa-se lesão com características unilocular (no entanto em lesões grandes pode ser multiloculares), apresentando crescimento unilateral. Exibem uma área radiolúcida, com margens escleróticas frequentemente bem definidas.
Geralmente são analisadas radiografias panorâmicas e tomografia computadorizada, pois a radiografia panorâmica fornece, com qualidade, a extensão da lesão cística e sua relação com estruturas adjacentes, no entanto a tomografia computadorizada tem indicação indispensável para o planejamento cirúrgico, apresentando detalhes preciosos sobre a expansão da lesão, a localização de dentes envolvidos e a topografia de suas margens (espessura e perfuração das corticais ósseas) do que as radiografias convencionais. O CO, pode muitas vezes ser confundido com cisto dentígero pois em 44% dos casos está associado com dentes inclusos. Radiograficamente é uma lesão que não reabsorve raiz dentária.
É importante salientar que apenas o diagnóstico histopatológico é determinante. Sabendo-se que o diagnóstico pré-operatório não pode ser estabelecido definitivamente sem suporte histopatológico, a primeira etapa é realizar uma biópsia incisional do ceratocisto que tem finalidade de estabelecer diagnóstico conclusivo. O corte histopatológico apresenta epitélio estratificado pavimentoso ceratinizado uniforme, com espessura variando entre 6 – 8 camadas de células, camada basal bem definida disposta em paliçada formada por células colunares ou cuboidais, cápsula fibrosa fina e friável, rica em mucopolissacarídeos, sendo as inflamatórias raras.
A camada de ceratina pode ser representada pela paraceratina (80% dos casos) ou pela ortoceratina (20%), sendo a primeira muito mais fina quando comparada a segunda. O diagnóstico de ceratocisto odontogênico baseia-se nas características histopatológicas. Os achados radiográficos, apesar de serem frequentemente sugestivos, não são diagnósticos. Um ceratocisto odontogênico podem simular outras lesões orais, tais como:
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cisto dentígero
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cisto radicular
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cisto residual
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cisto periodontal lateral
A maioria dos COs é tratado de forma similar a outros cistos odontogênicos, ou seja, através da:
– Enucleação e curetagem:
quando a lesão não é tão extensa, porém a remoção completa em uma única peça frequentemente é difícil devido à natureza delgada e friável de sua parede cística.
– Marsupialização ou descompressão: em grandes lesões:
quando a lesão é muito extensa e sua remoção por completo pode levar a injúrias em importantes estruturas neuromusculares, é optado primeiramente pela marsupialização que gera uma diminuição do tamanho da lesão, para posterior realização da enucleação.
Porém, a remoção da lesão não deve focar apenas na remoção visível da lesão devido o comportamento clinico agressivo e taxa de recidiva considerada alta do ceratocisto.
Apenas a enucleação como forma isolada de tratamento está relacionada com 60% de recorrência, por isso o tratamento deve ser complementado por terapias adjuvantes, como:
– Osteotomia periférica: quando se utiliza uma broca ou cureta para remover de 1 a 2 mm de osso envolta de toda periferia da cavidade cística. Este procedimento visa a remoção de células epiteliais remanescentes.
– Solução de Carnoy: Solução inserida em gaze na cavidade cística no intuito de matar as células císticas remanescentes.
– Crioterapia: A crioterapia devido a capacidade do nitrogênio líquido de desvitalizar osso in situ e manter a estrutura inorgânica intacta. Pode ser usada como terapia adjuvante no tratamento do ceratocisto.
O ceratocisto é uma lesão peculiar que por mais que se trate de um cisto é bastante agressivo, tanto pela questão da possibilidade de sua extensão pelos ossos gnáticos quanto pelo fato de seu prognóstico ser desfavorável pela sua alta taxa de recidiva. Esse último fator é que leva a um tratamento diferenciado dessa patologia. Por fim, entender os padrões clínicos e radiográficos dessa lesão é fundamental para se ter um diagnóstico precoce e dar ao paciente um tratamento de qualidade o mais rápido possível, dada a agressividade e alta taxa de recidiva do ceratocisto odontogênico.
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REFERÊNCIAS:
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