O cenário do câncer no Brasil
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer é o principal problema de saúde pública no mundo, tendo uma incidência e mortalidade que vêm aumentando em escala mundial. No Brasil, a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022 aponta que ocorrerão 625 mil casos novos de câncer. Além disso, o número de casos novos de câncer da cavidade oral esperado para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 11.180 casos em homens e de 4.010 em mulheres (INCA, 2019).
A equipe multiprofissional na assistência ao paciente oncológico
Como o câncer é uma doença agressiva e com alto impacto na qualidade de vida dos pacientes oncológicos, resulta-se em prejuízos funcionais, estéticos e psicológicos, surgindo a necessidade de um cuidado humanizado e integral (DE SOUZA XIMENES, Vitória et al., 2020). Desta forma, a equipe multiprofissional em oncologia deve estar preparada para cuidar desses pacientes, de forma preventiva e curativa, em diferentes momentos terapêuticos. Além disso, de forma recíproca, informar, discutir, encaminhar e aplicar seus conhecimentos para planejamento terapêutico e atendimento dos pacientes, proporcionando saúde e melhor qualidade de vida (CHWARTZMANN, Guilherme; 2017).
Então, como é a atuação do cirurgião-dentista na residência em oncologia?
O tratamento antineoplásico geralmente afeta a boca diretamente, através da citotoxicidade, e indiretamente, através dos efeitos sobre o sistema imunológico ou outros efeitos colaterais sistêmicos. Dentre as complicações orais comuns, pode-se destacar:
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Mucosite
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Xerostomia
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Disfagia
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Disfunção das glândulas salivares
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Necrose óssea
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Disfunção das glândulas salivares
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Alteração ou perda do paladar
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Infecções
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Agravo das doenças dentárias e/ ou periodontais
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Neoplasias recorrentes ou secundárias
(SANTOS, Luana Costa; 2019).
Destarte, o cirurgião-dentista, como integrante na residência em oncologia, desenvolverá habilidades e competências para lidar com as especificidades dos pacientes oncológicos, além de ocupar um significativo papel- antes, durante e após o tratamento antineoplásico- para detectar, tratar e prevenir eficientemente essas complicações orais. Destaca-se, por exemplo:
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Educação dos paciente para desenvolver uma higiene oral adequada
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Educação dos pacientes e público em geral sobre diminuição do consumo de álcool e tabaco
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Inspeção constante da boca e estruturas associadas
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Tratamento das doenças dentárias e/ ou periodontais
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Tratamento de complicações orais estomatológicas
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Detecção prévia de malignidades na cavidade oral
(SANTOS, Luana Costa; 2019).
Possibilidades profissionais do cirurgião-dentista no cuidado ao paciente oncológico
Além da residência em oncologia, através dos programas multiprofissionais ou uniprofissionais, o cirurgião-dentista possui várias possibilidades profissionais para proporcionar, de forma direta ou indireta, um cuidado holístico ao paciente oncológico, por exemplo:
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Especialização em Estomatologia
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Residência em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial
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Habilitação em Laserterapia
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Habilitação em Odontologia Hospitalar
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Residência em Pacientes com Necessidades Especiais
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Residência em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial
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Residência em Saúde Coletiva e Atenção Primária
E quais são os Programas de Residência Multiprofissional em Oncologia?
Observa-se 13 Programas de Residência Multiprofissional em Oncologia para cirurgiões-dentistas- distribuídos em 12 instituições- situadas em dez cidades de oito estados brasileiros, sobretudo, na Região Sudeste. Seis programas foram implementados em 2010, seis em 2016 e um em 2020. No cenário Brasileiro, entre 2010 e 2020, foram oferecidas 216 vagas e formados pouco mais de 114 profissionais especializados nessa área.
As primeiras instituições que implementaram seus programas, em 2010, foram:
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Universidade de Brasília
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Universidade Federal de Uberlândia
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Liga Paranaense de Combate ao Câncer/Hospital Erasto Gaertner
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Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA)
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Universidade Federal de Pelotas
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Fundação Antônio Prudente/Hospital A.C. Camargo Cancer Center.
Posteriormente, em 2016, 5 instituições implementaram 6 outros programas:
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Universidade Federal do Pará
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Associação de Ensino Superior/Centro Universitário Tabosa Almeida (Caruaru- PE)
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Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo
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Fundação Pio XII/ Hospital do Câncer de Barretos
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Sociedade Beneficente de Senhoras/Hospital Sírio-Libanês
Deve-se mencionar que a Fundação Pio XII/Hospital do Câncer de Barretos possui dois programas ativos (Unidade de Tratamento Intensivo Oncológica e Pediatria Oncológica). Além disso, mais recentemente, em 2020, o Hospital Central do Exército- no Estado do Rio de Janeiro- implementou um programa.
(ALVES, Lísia Daltro Borges et al., 2020).
E quais são os Programas de Residência Uniprofissional em Oncologia?
Os Programas de Residência Uniprofissional possuem semelhança aos clássicos cursos de especialização disponibilizados atualmente, devido uma abordagem mais direcionada ao projeto pedagógico específico às demandas odontológicas e atuações práticas relativamente isoladas. Observa-se, até então, 3 programas uniprofissionais:
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Universidade de Pernambuco em parceria com a Sociedade Pernambucana de Luta contra o Câncer (Residência em Odontologia com foco em Oncologia)
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Universidade de Pernambuco (Residência em Odontologia Hospitalar com foco em Oncologia)
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Fundação Pio XII/Hospital do Câncer de Barretos (Residência em Odontologia Oncológica)
(ALVES, Lísia Daltro Borges et al., 2020).
Perspectivas em relação às Residências em Oncologia
Em relação ao número de cirurgiões-dentistas que completaram a Residência Multiprofissional em Oncologia, as instituições que formaram mais cirurgiões-dentistas, nos últimos 10 anos, foram:
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Fundação Antônio Prudente/Hospital A.C. Camargo Cancer Center (29 cirurgiões-dentistas concluíram a residência)
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Universidade Federal de Pelotas (17 concluíram a residência)
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Liga Paranaense de Combate ao Câncer/Hospital Erasto Gaertner (17 concluíram a residência)
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INCA (15 concluíram a residência)
Já o número de cirurgiões-dentistas que completaram a Residência Uniprofissional em Oncologia, até então, foram:
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Universidade de Pernambuco (Residência em Odontologia com foco em Oncologia): 6 cirurgiões-dentistas concluíram a residência.
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Universidade de Pernambuco (Residência em Odontologia Hospitalar com foco em Oncologia): 6 cirurgiões-dentistas concluíram a residência.
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Fundação Pio XII/Hospital do Câncer de Barretos (Residência em Odontologia Oncológica): 24 cirurgiões-dentistas concluíram a residência.
Desta forma, observa-se uma necessidade de ampliação dos programas, das instituições e das vagas para residência em oncologia, assim como o reconhecimento da oncologia como uma especialidade odontológica. Além disso, ainda que o cirurgião-dentista generalista ou especialista, com domínio teórico e prático necessários, possa intervir e gerenciar no tratamento dos pacientes oncológicos, os cursos de graduação em odontologia deveriam proporcionar uma formação teórica e prática mais fundamentada para abordagem e cuidado a este grupo de pacientes.
(ALVES, Lísia Daltro Borges et al., 2020).
Conclusão
O cirurgião-dentista, em consonância à visão holística de saúde e à multidisciplinaridade com a equipe hospitalar, determinará um papel intrínseco à qualidade de vida e reabilitação biopsicossocial dos pacientes oncológicos, através da tríade: prevenir, detectar e tratar eficientemente as complicações orais preexistentes e/ou resultantes do tratamento antineoplásico, além de promover melhores condições para restaurar a situação sistêmica dos pacientes por meio da diminuição ou resolução destas complicações orais. Destaca-se, também, a grande importância na articulação das múltiplas especialidades e habilitações da odontologia para proporcionar um cuidado holístico ao paciente oncológico, desde as medidas preventivas às medidas terapêuticas.
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Referências Bibliográficas
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ALVES, Lísia Daltro Borges et al. Panorama Atual dos Programas de Residência Multiprofissional em Oncologia para Cirurgiões-Dentistas do Brasil. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 66, n. 3, 2020.
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CHWARTZMANN, Guilherme. Capacitação de cirurgiões-dentistas e da equipe multidisciplinar na atenção odontológica de pacientes oncológicos pediátricos. 2017.
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DE SOUZA XIMENES, Vitória et al. Sistematização da Assistência Multidisciplinar ao Paciente em Unidade Oncológica de Manaus: Um Relato de Experiência. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 9762-9770, 2020.
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Estimativa 2020 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019.
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SANTOS, Luana Costa. O papel do Cirurgião Dentista na equipe multidisciplinar de oncologia. 2019.