Alimentação e depressão: como a nutrição pode ajudar no tratamento | Colunista

A depressão é uma doença de etiologia multifatorial, sendo classificada como uma doença psiquiátrica. Não apresenta apenas uma causa específica. É caracterizada por oscilações de humor, sentimento de culpa, tristeza profunda, falta ou excesso de sono, alteração no apetite, ganho ou perda de peso e até mesmo pensamentos suicidas. Os fatores de risco para o desenvolvimento dessa patologia são: idade, sexo, faixa etária e também predisposição genética (IBANEZ et al., 2014).

Sabemos que durante o percurso da vida podem acontecer diversas situações que podem a vim nos deixar tristes, nos abalar emocionalmente, como por exemplo a falha de um projeto tão almejado, a perda de um emprego, a morte de um familiar ou animal de estimação, rompimento de relacionamento dentre outras situações.

É comum apresentamos nessas situações quadros de falta de ânimo e tristeza, porém devemos ter atenção quando esse quadro persiste por muito tempo causando um comprometimento nas relações sociais e familiares. A depressão é grave e pode causar incapacidade e, se não tratada, em alguns casos, pode acabar levando ao suicídio. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2016, o suicídio foi a segunda causa de morte em jovens com idade entre 15 a 29 anos (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2016 – 2017). 

O último relatório da Organização Mundial da Saúde (Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates), lançado em 2017, mostra que no Brasil, 5,8% da população vive com depressão, em números isso representa quase 12 milhões de brasileiros vivendo com a doença. Quando comparado com a América Latina, o Brasil vem em primeiro lugar, ficando em segundo quando comparamos com as Américas. A prevalência mundial é de 4,4 % (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2017).

Várias estratégias podem ajudar no tratamento da depressão, como fármacos, exercício físico, terapias individuais ou em grupo, e também a alimentação adequada, focada em proporcionar o bem-estar mental do paciente. Pensando nisso, a nutrição é uma grande aliada, já que vários estudos têm demonstrado a influência dos alimentos na melhora do humor e enfrentamento dos sintomas depressivos. 

Outro fator também importante é cuidar da nossa microbiota intestinal, que é formada por trilhões de bactérias, sendo elas probióticas ou não. Quando ingerimos excesso de gordura saturada e fast-food, há uma diminuição do número de bactérias benéficas, e aumento das bactérias patológicas que podem influenciar nos sintomas da depressão. Isso nos revela a importância da saúde intestinal frente a distúrbios de caráter psicológico, revelando assim a forte conexão entre o Eixo Intestino-Cérebro.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial de Saúde, define os probióticos como “microrganismos vivos, que quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro” (FAO, WHO 2002). Os probióticos passaram a ser considerados uma alternativa de tratamento coadjuvante contra a depressão a partir do ano de 2005, quando se verificou que na depressão há um quadro de inflamação sistêmica subclínica, e que a administração desses microrganismos vivos poderia diminuir citocinas inflamatórias no cérebro, além de melhorar a comunicação neural e estimular zonas cerebrais responsáveis pelo processamento de informações (LOGAN; KATZMAN, 2005).

A terapia com probióticos tem sido muito utilizada em pacientes com depressão, onde podemos observar que no estudo de PINTO – SANCHEZ e colaboradores, avaliaram os efeitos da suplementação do probiótico Bifidobacterium longum NCC3001 em pacientes com depressão e ansiedade, com uma dose de 1.0 E+10 UFC/ com 1 grama de pó de maltodextrina dissolvido em 200ml de leite sem lactose, durante 6 semanas.

Os pacientes foram divididos em dois grupos, tendo o grupo controle o total de 22 participantes, e o grupo placebo também com 22 pacientes. Os parâmetros avaliados foram a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), Medida Adicional de Ansiedade (STAI) e alterações nos padrões de ativação cerebral com ressonância magnética. Os resultados mostraram que, 14 dos 22 pacientes do grupo controle, apresentaram melhora significativa nos sintomas da depressão como tolerância ao estresse e redução na atividade da amígdala cerebral, que na depressão está com sua atividade aumentada, favorecendo sintomas negativos (PINTO-SANCHEZ et al., 2017).

Em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, com 40 pacientes, com idade entre 20 a 55 anos, diagnosticados com Transtorno Depressivo Maior, foram alocados aleatoriamente em dois grupos, sendo o grupo intervenção, composto por 20 pacientes, onde estes receberam uma cápsula contendo três cepas diferentes de probióticos liofilizadas, sendo eles: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus casei e Bifidobacterium bifidum, na quantidade de 2 bilhões (2 x109) de Unidades Formadoras de Colônia (UFC) de cada cepa, consumindo uma vez por dia, durante 8 semanas, e o outro grupo, também composto por 20 pacientes, recebeu o placebo.

Ao final do estudo, utilizando o Inventário de Depressão de Beck (BDI), os autores constataram que houve uma diminuição na pontuação do grupo intervenção que suplementou probiótico (5.3±1.2) enquanto que o grupo placebo teve uma diminuição de apenas 1.8±1.2 na pontuação de BDI. Também foi constatado que houve um aumento nos níveis plasmáticos de glutationa no grupo suplementado com probióticos. Níveis reduzidos de antioxidantes, em especial glutationa, estão relacionados com o aumento de sintomas de anedonia (AKKASHEH et al., 2016).

A literatura traz diferentes tipos de cepas probióticas e quantidades. Em um estudo realizado em 2011, os autores utilizaram as cepas Lactobacillus helveticus R0052 e Bifidobacterium longum R0175, em doses de 3 bilhões (3x 109) de UFC de cada cepa, durante 30 dias. Ao final do estudo, foi possível observar melhoras no grupo controle (26 pacientes), com diminuição de sintomas de depressão, raiva, somatização, hostilidade, diminuição do cortisol, além de apresentar uma ação anti-inflamatória, diminuindo citocinas inflamatórias como interleucina-6 (IL-6) e o Fator de necrose tumoral alfa (MESSAOUDI et al., 2011). Outros probióticos que podem ser usados no tratamento da depressão, podemos citar os, Bifidobacterium infantis, Bifidobacterium Breve, Bifidobacterium Lactis, Lactobacillus paracasei, Lactobacillus salivarius, Lactobacillus plantarum, dentre outros (DE MORAES et al., 2019).

Segundo a Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO), a dose terapêutica de cada probiótico depende do tipo de cepa, visto que algumas cepas de probióticos proporcionam benefícios a saúde do hospedeiro com concentrações menores, enquanto que outras requerem uma concentração maior. É comum encontrar no mercado concentrações que vão desde 1 bilhão a 10 bilhões de UFC, sendo assim, a dose de cada cepa probiótica deve ser avaliada conforme a necessidade de uso e os estudos em seres humanos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE GASTROENTEROLOGIA, 2017).

Mas não é somente os probióticos que podem contribui para uma melhora no quadro de depressão, estudos revelam que o consumo de ômega 3 também traz benefícios a saúde mental. Uma meta-análise que reuniu 26 ensaios, de 2002 a 2016, mostrou que, o consumo de ácidos graxos poli-insaturados (PUFA) ômega 3, foi capaz de reduzir episódios e sintomas de depressão. A meta-analise avaliou as quantidades de EPA e DHA e seus benefícios para a saúde mental, mostrando que as concentrações de EPA em relação ao DHA, devem ser de 50% a 80% da dose total de ômega 3, sendo que o consumo de EPA <1g por dia, já traria benefícios para a saúde.

O EPA desempenha função neuroprotetora, que atua como um potente anti-inflamatório reduzindo citocinas pró-inflamatórias como TNF-alfa, IL2 e IL6. Ele também ajuda a reduzir o interferon gama (INF-γ), com isso há uma melhor e maior conversão do 5-hidroxitriptofano em serotonina, consequentemente uma melhora no bem-estar, além de aumentar os níveis de dopamina no córtex, um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. O EPA ainda pode estar relacionado a modulação do cortisol, o hormônio do estresse. Por isso é importante consumir fontes de ômega 3, como por exemplo, sardinha, arenque, salmão, atum, sementes de chia e de linhaça (LIAO, Yuhua et al., 2019).

Na depressão, a nutrição vem como uma grande aliada no tratamento, sendo necessário e indispensável o acompanhamento médico, psicológico e outras alternativas que possam ser benéficas ao tratamento.

Referências bibliográficas 

AKKASHEH, Ghodarz et al. Clinical and metabolic response to probiotic administration in patients with major depressive disorder: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Nutrition, v. 32, n. 3, p. 315-320, 2016.

DE MORAES, Ana Letícia Ferreira et al. Suplementação com probióticos e depressão: estratégia terapêutica? Revista de Ciências Médicas, v. 28, n. 1, p. 31-47, 2019.

Food and Agriculture Organization of the United Nations. Guidelines for the evaluation of probiotics in food. Geneva: WHO; 2002.

IBANEZ, Grazielle et al. Adesão e dificuldades relacionadas ao tratamento medicamentoso em pacientes com depressão. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 67, n. 4, p. 556-562, 2014.

LIAO, Yuhua et al. Efficacy of omega-3 PUFAs in depression: a meta-analysis. Translational psychiatry, v. 9, n. 1, p. 1-9, 2019.

LOGAN, Alan C.; KATZMAN, Martin. Major depressive disorder: probiotics may be an adjuvant therapy. Medical hypotheses, v. 64, n. 3, p. 533-538, 2005.

MESSAOUDI, Michaël et al. Assessment of psychotropic-like properties of a probiotic formulation (Lactobacillus helveticus R0052 and Bifidobacterium longum R0175) in rats and human subjects. British Journal of Nutrition, v. 105, n. 5, p. 755-764, 2011.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Folha informativa – Depressão. 2016-2017. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/depressao Acesso em: 27 abr. 2021.

PINTO-SANCHEZ, Maria Ines et al. Probiotic Bifidobacterium longum NCC3001 reduces depression scores and alters brain activity: a pilot study in patients with irritable bowel syndrome. Gastroenterology, v. 153, n. 2, p. 448-459. e8, 2017.

WORLD HEALTH ORGANIZATION et al. Depression and other common mental disorders: global health estimates. World Health Organization, 2017.

World Gastroenterology Organization (WGO). Global Guidelines. Probiotics and prebiotics. 2017. Disponível em: https://www.worldgastroenterology.org/UserFiles/file/guidelines/probiotics-and-prebiotics-portuguese-2017.pdf Acesso em: 28 abr. 2021.