História da fisioterapia: da antiguidade ao reconhecimento das especialidades | Colunista

Desde a antiguidade, o ser humano realiza movimentos simples como andar, correr e saltar. Com o passar dos anos, evoluções ocorreram e novas atividades foram surgindo: vieram as danças com passos ensaiados, malabarismos na arte circense, novas habilidades nas olimpíadas e muitos outros movimentos. E em todas as atividades citadas, a fisioterapia esteve presente. Mesmo que na antiguidade não tivesse esse nome, o tratamento pelo movimento era praticado. 

Nas aulas de história, fala-se sobre os homens das cavernas e a rotina que essas pessoas tinham de caçar, pescar e plantar para a subsistência. Geralmente, mudavam-se de época em época à procura de alimentos e abrigo. Sabe-se que a descoberta de recursos terapêuticos advindos da eletricidade tem relação com esse período: certa vez, um homem com dor crônica no calcanhar resolveu ir banhar-se em um rio e acidentalmente encostou o seu pé em uma enguia elétrica, o que lhe proporcionou uma melhora nos sintomas. Na atualidade, isso pode ser comparado com a eletroterapia.

Já em relação à China, algumas obras abordam a cura pelo movimento, que hoje é denominada como cinesioterapia, e que já era usada desde 2.698 anos antes de Cristo. Por outro lado, em 384 a.C., Aristóteles descrevia as ações musculares e séculos depois ficou conhecido como o “Pai da Cinesiologia”. Já para Galeno, a história aborda seu papel importante na terapia pelo movimento; de acordo com a medicina Trácia e Grega, ele foi responsável por utilizar uma ginástica que corrigiu o tórax deformado de um rapaz. 

Séculos se passaram e chegou um dos acontecimentos mais importantes para a sociedade. Na revolução industrial, crianças e adultos trabalhavam por mais de 14 horas diárias nas fábricas em condições desumanas, nada favoráveis à saúde e, com isso, eram comuns os mais diversos acidentes de trabalho. Logo, para amenizar os problemas causados por esses acidentes, foi preciso desenvolver técnicas para recuperar trabalhadores e, além disso, eram utilizadas ginásticas e exercícios com o objetivo de aumentar a produtividade. 

No século XX, a fisioterapia emerge com mais atuação para recuperar acidentados das guerras mundiais e se torna de suma importância para trabalhar na epidemia de poliomielite. Durante a Primeira Guerra Mundial, era exacerbado o número de mortos e mutilados e isso ocasionou a diminuição da força de trabalho, portanto a solução era reabilitar esses indivíduos e reinseri-los no mercado de trabalho. Para isso, surgem grandes centros de reabilitação e sendo utilizadas técnicas de cinesioterapia.

A próxima batalha enfrentada por esses profissionais teria relação com diversas doenças, em especial a poliomielite. Pode-se destacar, por exemplo, que em 1916, nos Estados Unidos, ocorreu uma epidemia de pólio, sendo infectados mais de 27 mil estadunidenses, o que gerou em torno de 6 mil mortes e milhares casos de paralisia. Isso motivou, em 1945, um investimento de um milhão de dólares para o avanço da fisioterapia no tratamento da poliomielite paralítica, por parte da Fundação Nacional para Paralisia Infantil para a Associação Americana de Fisioterapia.

Já em relação ao Brasil, a fisioterapia também teve o seu papel importante e, em 1929, Waldo Rolim de Moraes criou o serviço de fisioterapia no Instituto do Radium Arnaldo Vieira de Carvalho. Passados 22 anos, foi fundado o Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas e, na década de 1950, o país viveu uma crise de poliomielite e novamente a fisioterapia foi importante. 

A fisioterapia no Brasil passou por diversos desafios e embates para ser reconhecida como profissão e para ter seus cursos oficialmente como graduação. Mas vale destacar, a princípio, algumas datas de grande importância para a profissão: em 1959, os cursos passaram a formar fisioterapeutas, e em 1967, a USP regulamentou os cursos de fisioterapia e terapia ocupacional.

Em soma, o marco mais importante ocorreu em 13 de outubro de 1969, quando a fisioterapia se legitimou como profissão. Já em 1975, vieram a regulamentação da profissão e a criação do Conselho Federal e, em 1978, foram criados os três primeiros conselhos regionais em Recife, São Paulo e Rio de Janeiro. Atualmente, o COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) reconhece 16 especialidades da fisioterapia, cujos nomes e anos de reconhecimento relatam-se a seguir:

  • Acupuntura – 2000

  • Fisioterapia Aquática – 2014

  • Fisioterapia Cardiovascular – 2015

  • Fisioterapia Dermatofuncional – 2009

  • Fisioterapia Esportiva – 2007

  • Fisioterapia do Trabalho – 2008

  • Fisioterapia Neurofuncional – 1998

  • Fisioterapia em Oncologia – 2009

  • Fisioterapia Respiratória – 2006

  • Fisioterapia Traumato-Ortopédica – 2004

  • Fisioterapia em Osteopatia – 2011

  • Fisioterapia em Quiropraxia – 2011

  • Fisioterapia em Saúde da Mulher – 2009

  • Fisioterapia em Terapia Intensiva – 2011

  • Fisioterapia em Gerontologia – 2016

  • Fisioterapia em Saúde Coletiva – 2009

 

Nos dias atuais, a fisioterapia tem exercido um papel fundamental no tratamento da COVID-19. Dentro das UTIs, os fisioterapeutas intensivistas e respiratórios têm um papel fundamental para colaborar nos parâmetros respiratórios e controlar os respiradores, os quais tanto têm sido mencionados durante essa pandemia. É válido ressaltar dois pontos: o primeiro, que a procura por fisioterapeuta hospitalar cresceu 725% durante a pandemia, e segundo, que mesmo na área hospitalar o fisioterapeuta trabalha com a parte motora dos pacientes. 

Além da parte hospitalar, as outras áreas colaboram na reabilitação pós-covid. Existem diversas sequelas que o agravamento do Sars-CoV-2 pode deixar nos indivíduos, então é importante um acompanhamento com o fisioterapeuta após a alta hospitalar, seja voltado à área da respiratória, cardiovascular, motora, neurofuncional e diversas outras.

Não se pode reduzir a fisioterapia à massagem ou reabilitação musculoesquelética apenas. Pelo contrário, trata-se de uma área da saúde que vem em crescimento vertiginoso e que deve finalmente alcançar seu devido reconhecimento nos próximos anos. 

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Referência:

BARROS, Fábio Batalha Monteiro. Autonomia profissional do fisioterapeuta ao longo da história. Revista FisioBrasil, Rio de Janeiro, n.59, p.20-31, 2003.

BARROS, Fabio Batalha Monteiro. Poliomielite, filantropia e fisioterapia: o nascimento da profissão de fisioterapeuta no Rio de Janeiro dos anos 1950. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 941-954, 2008.

CALVALCANTE, Cristiane de Carvalho Lima et al. Evolução científica da fisioterapia em 40 anos de profissão. Fisioter. mov., Curitiba, v. 24, n. 3, p. 513-522, 2011.

CREFITO 15. Acupuntura: mais uma área de atuação da Fisioterapia. Disponível em: http://www.crefito15.org.br/acupuntura-mais-uma-area-de-atuacao-da-fisioterapia/. Acesso em: 15 abr. 2021.

CREFITO 4. COVID-19: sequelas, complicações e a importância do fisioterapeuta na reabilitação. Disponível em: https://crefito4.org.br/site/2021/01/26/covid-19-sequelas-complicacoes-e-a-importancia-do-fisioterapeuta-na-reabilitacao/. Acesso em: 17 abr. 2021

CREFITO 4. Especialidades da Fisioterapia reconhecidas pelo COFFITO. Disponível em: https://crefito4.org.br/site/especialidades/. Acesso em: 15 abr. 2021.

ESPÍNDOLA, Daniela Simoni et al. Evolução histórica da fisioterapia: da massagem ao reconhecimento profissional (1894-2010). Fisioterapia Brasil, Brasil, v. 12, n. 5, p. 389-394, 20 maio 2017.

GRANATO, Luísa. Fisioterapeuta: conheça a profissão que cresceu 725% na pandemia. [S. l.], 29 mar. 2021. Disponível em: https://exame.com/carreira/fisioterapeuta-conheca-a-profissao-que-cresceu-725-na-pandemia/. Acesso em: 17 abr. 2021.