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A população Brasileira tem mantido a tendência de envelhecimento desde 2012, segundo dados disponibilizados pelo IBGE. O aumento da expectativa de vida é um fator importante que contribui para esta mudança, por isso precisamos estar preparados para orientar e acompanhar esta população, principalmente neste novo cenário mundial de pandemia.
Com o envelhecimento algumas funções fisiológicas ficam comprometidas e o idoso fica mais suscetível a desenvolver doenças crônicas. Este processo é progressivo mas não uniforme, cada pessoa envelhece de uma forma diferente dependendo da hereditariedade e estilo de vida. Contudo uma grande parcela da população idosa brasileira apresenta ao logno dos anos duas ou mais doenças crônicas, levando ao uso da polifarmácia.
A Organização Mundial de Saúde define a polifarmácia como o uso rotineiro e de quatro ou mais medicamentos, sejam eles prescritos e/ou isentos de prescrição. O uso de diversos fármacos pode aumentar a ocorrência de eventos e reações adversas, interações medicamentosas, quedas, maior tempo de hospitalização e mortalidade. Estes problemas relacionados a medicamentos podem ocorrer quando, por exemplo:
- O tratamento não é baseado em comprovações científicas;
- Quando há adoção de combinações com potenciais interações medicamentosas;
- Com a adição mais medicamentos na farmacoterapia do paciente para tratar uma reação ou evento adverso não identificado (ex. cascata iatrogênica),
- Prescrição simultânea, por vários médicos, sem que ocorra a necessária conciliação farmacológica para o paciente, entre outros.
Segundo um estudo transversal de base populacional: Estudo SABE – Saúde, Bem-estar e Envelhecimento, no ano de 2006, em São Paulo, mostra na tabela 1 os medicamentos mais utilizados pelos idosos. Ele indicou uma maior prevalência de fármacos para tratar diabetes, problemas cardíacos, hipertensão e antiinflamatórios.
Tabela 1: Os 20 medicamentos mais utilizados pelos idosos usuários de polifarmácia, segundo a Classificação ATC (Anatomical Therapeutic Chemical).
E nós farmacêuticos, como orientar?
Será mesmo necessário introduzir mais um medicamento a farmacoterapia desde idoso de forma profilática mesmo sem evidências científicas?
Hoje, mais do que nunca, precisamos pôr em prática o acompanhamento farmacêutico visando assegurar a promoção, proteção, recuperação da saúde e o uso racional dos medicamentos. Uma das principais preocupações deve ser detectar e prevenir erros relacionados à medicação. O profissional farmacêutico é um provedor de saúde que tem conquistado destaque entre a equipe multidisciplinar dentro dos hospitais, farmácias comunitárias e drogarias.
O uso da polifarmácia muitas vezes será necessário para o idoso e pode ser benéfico se for quando prescrito corretamente, avaliando a particularidade de cada paciente. O farmacêutico precisa estar sempre desenvolvendo sua habilidade de comunicação para obter êxito em suas intervenções promovendo saúde e qualidade de vida, entendendo as necessidades e preocupações de seu paciente.
Matérias relacionadas:
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- Erros de prescrição e intervenções farmacêuticas
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REFERÊNCIAS:
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