Introdução ao tema
No início de março do ano de 2019 o surto da pandemia do Covid-19 foi declarado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Atualmente denominado de (SARS-CoV-2) Síndrome Respiratória Aguda grave de coronavírus 2, acometendo primeiramente os profissionais na saúde e posteriormente disseminando para o mundo todo, persistindo até nos dias hoje com milhares de óbitos, representando um dos maiores desafios sanitários em escala global deste século. Cerca de 80% da população cursam com sintomas leves da doença, sendo apenas 20% evoluem para o estágio grave, necessitando de suporte ventilatório.
Suporte ventilatório como determinante de vida
Em 1950 ocorreu o surto da poliomielite ocasionada pelo patógeno denominado poliovírus, sendo altamente contagioso para a população humana com capacidade de infectar 100% dos indivíduos susceptíveis, tendo como principal via de transmissão a forma fecal-oral, onde lugares em que o saneamento básico era mais precário se tornava vulnerável a disseminação da doença. Nesta época a Ventilação Mecânica (VM), ganhou notoriedade ao reduzir drasticamente a taxa de mortalidade nessa população, atualmente tem sido o tema mais repercutido entre os profissionais e mídias sociais no tratamento de pacientes portadores da Síndrome Respiratória aguda grave (SARS-CoV-2).
Em casos mais graves da doença o uso do suporte ventilatório é um determinante da preservação de vida, reduzindo o tempo de permanência do paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), além de diminuir o índice de mortalidade. O erro dos ajustes dos parâmetros ventilatórios pode ocasionar lesões no tecido pulmonar de caráter inflamatório, gerando complicações sistêmicas. A principal causa dessa injuria é o uso excessivo do VC (volume corrente), podendo levar a instabilidade hemodinâmica, que repercutem negativamente durante a interação paciente-ventilador.
Injúrias acometidas pelo ajuste incorreto do ventilador
Existem vários fatores relacionados à ventilação mecânica que predispõem ao mau prognóstico clínico do paciente, aos quais incluem as lesões no parênquima pulmonar e os danos na mecânica dos músculos ventilatórios que podem interferir no processo de hematose levando ao quadro mais instável. Por muito tempo a VM tinha como foco somente a melhora das trocas gasosas utilizando VC elevados, a consequência disso foi, o surgimento da VILI (Injúria Pulmonar Induzida pelo Ventilador), evoluindo para a SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo).
O Barotrauma é um tipo de lesão por injúria do parênquima pulmonar de caráter inflamatório ocasionado por elevados níveis de pressões inspiratórias. Assim como, o Volutrauma também está associado a complicações pulmonares, ocasionado pelo excesso da administração do VC durante o ajuste. Ambos apresentam características semelhantes, como exemplo, o edema, por repercussão nos capilares pulmonares, pela alteração das pressões e os fluxos intravasculares, interferindo na capacidade do espaço intersticial na reabsorção do líquido extracelular, e na drenagem do sistema linfático pulmonar.
Modos de Ventilação Mecânica
Os ajustes dos modos ventilatórios estão associados ao bom prognóstico do paciente com COVID-19 enquanto ventilado mecanicamente, existem a possibilidade de modos controlados, assisto-controlados e espontâneos. Os principais utilizados são, o modo VCV (Ventilação Controlada a Volume) e o modo PCV (Ventilação Controlada a Pressão).
Ventilação controlada a Volume (VCV)
Definido como ventilação do tipo assisto-controlada a qual permite ciclos assistidos na presença de esforço muscular e ciclos controlados com disparos a tempo e a fluxo, sendo o volume variável de controle. Nesse modo o VC (Volume Corrente) é fixo, porém a pressão nas vias aéreas é variável, resultante do fluxo inspiratório e da impedância pulmonar. (Figura 11) Modo VCV.
Fonte: Carvalho et. al 2007
Ventilação Controlada a Pressão (PCV)
É um tipo de modalidade assisto-controlada, em que durante a fase inspiratória a pressão permanece constante pré-estabelecida pelo operador, o que gera uma pressão constante, sendo dependente da complacência pulmonar, e do tempo inspiratório. O ventilador controla a válvula do fluxo para manter pressão na via respiratória constante no valor programado, mantendo o fluxo livre, os disparos podem ser a fluxo ou a pressão, ou seja, ciclos assistidos e a tempo, ciclos controlados.
Figura 13- Curva de volume, fluxo e pressão no modo PCV
Fonte: Carvalho et. al 2007
Conclusão
Considerando o índice de mortalidade pela alta capacidade de virulência do novo coronavírus, é importante ressaltar que o paciente com (COVID-19) mecanicamente ventilado necessita de uma atenção criteriosa e individualizada, sendo imprescindível ao profissional de saúde se atualizar sobre os principais cuidados a serem tomados durante o manejo do ventilador e sua interpretação.
Referências
CARVALHO, Carlos Roberto Ribeiro. et. al. III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica (Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e modalidades ventilatórias). Scielo.org, 2007. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v33s2/a02v33s2.pdf >. Acesso em: 30/03/2021.
CORDEIRO, André Luiz Lisboa. et al. Manual de Ventilação Mecânica nas Afecções Virais. Salvador, BA: Editora Sanar, 2020.